Disappearances

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    Assim que voltamos eu estava cansada, tinha andado muito pelos arredores do hotel e até cheguei adentrar na mata, mas o garoto continuou desaparecido. Exausta e frustrada, me dirigi até o meu quarto, onde tomei uma ducha rápida, para me jogar na cama e adormecer logo em seguida.

  Eu estava correndo por entre as folhas das árvores, fugindo de meu perseguidor, suja de terra e correndo rapidamente, mesmo descalça e com os pés doloridos. Ofegante e fraca recostei-me em uma árvore, olhei ao meu redor e meus músculos relaxaram instantaneamente, tinha conseguido despistá-lo.

  Fechei meus olhos e ouvi uma voz, alguém pedia socorro, ou melhor, uma criança pedia ajuda, logo pensei "O menino que havia desaparecido", e eu não poderia deixá-lo daquele jeito, assustado e clamando por ajuda.

  Fui atrás dele, ou melhor dizendo, segui o som de sua voz, sorrateira e silenciosamente, o que me levou até uma caverna escura e fria, foi então que vi um rádio sobre as pedras, repetindo a voz constantemente, e o menino desfalecido ao lado. A voz do menino foi a última coisa que escutei antes que alguém me acertasse e eu caísse no chão, desacordada.

  Acordei em um pulo, estava desesperada e suada, aquele sonho realmente havia mexido comigo, meus pensamentos logo passaram para o indefeso e assustado menino, estaria ele bem?

  Tentei esquecer, apesar de ser quase impossível, mas não queria estragar minhas férias pensando em uma possível tragédia. Decidi ir tomar um banho para colocar um biquíni e uma saída de piscina. Sem demoras fui rumo ao restaurante para tomar meu café da manhã, sentando com Anna e Lucas.

- Bom dia. - disse Anna com a boca cheia.

- Bom dia. O que acham de ir à praia hoje? Estou precisando tomar um sol. - Perguntei e Anna logo concordou.

- Com certeza, estou quase transparente de tão pálida.- Comentou Anna nos fazendo cair na risada.

- Sempre tão exagerada Anna.- Disse Lucas revirando os olhos.

- Você só fala isso por ser bronzeado naturalmente.- Falei emburrada.

- Tenho uma genética boa.- Disse ele me fazendo sorrir levemente.

   Mais tarde naquele dia fomos à praia, o dia estava ensolarado, a areia quente tocava nossos pés enquanto as ondas do mar se quebravam ao se encontrar com os recifes de corais. Passamos protetor solar, tentamos aprender a surfar e aproveitamos o que a tarde tinha a nos oferecer.

  A sensação de passar a tarde com os amigos depois de longos meses cansativos de trabalho intermináveis era inexplicável. Como se tivesse sido a única vez que me senti bem em muito tempo. 

  Já cansados, nos despedimos e combinamos de nos encontrar somente quando fôssemos para um barzinho de noite.

  A fila não era muito grande, já que não era uma ilha muito habitada, mas o lugar era agradável com uma música não muito alta e as bebidas sempre saborosas, mas o mais interessante de tudo, era o terraço com uma vista para o mar e o céu estrelado, que a noite proporcionava.

  Não demorou muito para que eu e meus amigos sentássemos no bar e pedíssemos algumas bebidas, eu era incapaz de parar de sorrir, tudo estava alegre e animado, talvez por conta do álcool.

     Num vislumbre vi André, tudo parecia em câmera lenta em sua volta, e, talvez por conta da coragem líquida que estava tomando, decidi falar com ele.

- Gente eu já volto. - comentei com meus amigos e fui andando até ele.

 Mas antes que eu chegasse perto dele, outra mulher entrou na minha frente com bebidas em suas mãos, oferecendo uma delas para ele. É claro que ele já tinha companhia, fui boba em pensar que não.

  Arrasada, bêbada e tropeçando em meus próprios passos, me dirigi ao terraço, onde a brisa era suave e gélida, me causando alguns leves calafrios.

   Estava olhando para o horizonte quando senti uma mão em meu ombro. Virei-me assustada, era André que me encarava profundamente, como se visse através da minha alma. Tentei me recompor rapidamente, desviando os olhos. Não poderia me entregar tão rapidamente para um total e completo estranho, mas eu não conseguia reagir tão bem, estava alterada demais para isso.

- Não lhe disseram que é perigoso ficar sozinha a essa hora da noite?- perguntou André com a voz rouca.

- Não estou sozinha, estou com meus amigos.- aponto com a cabeça, e quando vejo, meus amigos não estão mais lá - Enfim, estou com você, pelo menos.

- Você deveria tomar mais cuidado, Princesa. Há muitas pessoas más nesse mundo.

- Você não é uma delas.

- Como pode ter certeza disso?- arqueou suas sobrancelhas grossas.

- Não tenho.- Dei de ombros.

- Venha, vou te levar para o hotel. Você não está bem.

- Estou sim.- Disse rindo, feliz e quase tropeçando.

  Ele riu de meu estado e tentou me ajudar, mas estava relutante, afinal eu não o conhecia e ele poderia muito bem ser o sequestrador. Infelizmente estava muito confusa e desconfortável, a bebida já estava perdendo seu efeito e eu já sentia o mal-estar característico de uma bela ressaca.

  Fiquei inquieta e agitada o caminho inteiro até o hotel, André percebeu isso e tentou me ajudar com algumas bolachinhas que tinha em seu porta-luvas. Fui acompanhada até a porta do meu quarto, onde já estava mais lúcida. Nos despedimos rapidamente, mas enquanto ele se afastava o chamei.

- André?

- Diga, Princesa.

- Obrigada por me ajudar.

- Tudo pela realeza.

- Queria te dizer uma coisa.

- Conversamos amanhã quando você estiver sóbria, não quero que faça ou fale algo com que depois se arrependa.

- Tudo bem, então amanhã resolvemos isso.

- Durma bem, Princesa.

Aquele sem dúvida tinha sido um dia muito bom. Só que acabou.

   Foi quando acordamos no dia seguinte que percebemos que faltava alguém, agora não somente o menino havia desaparecido, mas, ao final daquela gélida noite, outra pessoa também já não estava entre nós.

  Aquele tinha sido o segundo sumiço em menos de 48 horas e mal sabíamos o que estava por vir.

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