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André.

   Insônia, antiga companheira das solitárias madrugadas, que insistia em me visitar desde a faculdade, mas que estava agora mais frequente já que passava boa parte das noites pensando naquela garota que tanto me intrigou e encantou, algo que obviamente não vou contar a ela. Desde que coloquei meus olhos nela percebia que seria um problema, porque já não consigo tirar mais. Ela era linda e, pela primeira vez, tinha ficado inseguro em relação a mim mesmo, eu não a merecia.

    Passei boa parte da madrugada somente lembrando-me de seus olhos travessos e lábios convidativos, mas novamente desisti de tentar recordar de onde tinha visto aquela garota, ela não me era estranha. Outra noite em claro tinha sido em vão.

     Quando estava prestes a cair no sono ouvi um barulho pelo corredor, um leve murmúrio de uma voz bem baixa, mas que eu reconheceria em qualquer lugar, era a doce e bela Alice. O que ela estava fazendo acordada a essa hora tão tardia da madrugada? A curiosidade tomou conta do meu ser e decidi olhar o que estava acontecendo, coloquei meus sapatos e parti atrás de Alice, que logo em seguida desapareceu de minha vista.

    Procurei-a por todo o hotel e nenhum sinal dela. Foi então que escutei algo, ou melhor, alguém entrando na piscina. Imaginei que poderia ser ela, querendo dar um mergulho de madrugada, talvez para espairecer todos os acontecimentos recentes, o que eu realmente não entendo é o motivo dela ter entrado durante esse frio, com ventos congelantes, comuns na madrugada da ilha.

    Cuidadosamente fui entrando na área de lazer, quem sabe ela não se importe por me juntar a ela? Mas será que se eu fizer isso ela achará que estou perseguindo-a? Bom é o que vou descobrir, por tal motivo comecei a procurá-la, mas não a vi em lugar nenhum. O que estava acontecendo? Aproximando-me aos poucos percebi algo no fundo da piscina, ela não se mexia. Foi então que percebi o que tinha acontecido até aquele instante.

Alice não havia entrado naquela piscina por vontade própria.

    Entrei em desespero e pulei na piscina afim de salvá-la que, ao voltar para a superfície, já não respirava. Fiz o possível para ajudá-la a respirar novamente, desde respiração boca a boca até massagem cardíaca, já que seu coração estava fraco, gritei por socorro mas ninguém apareceu, até que, pouco tempo depois, ela tossiu e expeliu toda a água que havia ingerido, mesmo assim continuou desacordada. Eu estava assustado e respirando pesadamente, chamei a ambulância e aguardei eles chegarem, checando a todo o momento sua pulsação e respiração.

   Eles demoraram a chegar como era de se esperar de uma pequena ilha com um precário investimento em saúde, e então eu vi a ambulância no horizonte prestes a amanhecer, senti um alívio tremendo e peguei Alice desajeitosamente, levando-a em segurança para enfim acompanhá-la na ambulância, me sentindo perdido ao olhar o trabalho dos médicos lutando para salvar a vida da garota que em tão pouco tempo conseguiu me conquistar. Em um momento de confusão eu me perguntei: como havia parado lá? Tudo tinha acontecido tão rápido e desesperadamente, quando enfim consegui dar uma respirada profunda e pesada. A caminho do hospital eles perceberam uma melhora em sua respiração, mas ela ficou muito tempo sem oxigênio e estavam sem saber se haveria alguma sequela. Tudo ficaria bem, ela iria melhorar.

   Quando chegamos ao hospital correram com ela para um melhor atendimento, me deixando na sala de espera sem previsão de notícias. Sabendo que demoraria voltei até o hotel, fui me trocar e avisar seus amigos. Lucas logo foi correndo para o hospital o que me deixou levemente enciumado, pensando no relacionamento deles e o jeito que ele a olhava.

   Depois de descansar um pouco voltei para o hospital e descobri que haviam liberado seu leito para visitação, partiu-me o coração quando a vi naquela cama, cheia de tubos e fios em seu interior, segurei sua mão fortemente, por instinto, talvez pela minha última experiência no hospital eu tenha ficado traumatizado e senti muito medo, não queria perdê-la como perdi minha mãe, que sempre me disse para ser forte e transmitir essa força a quem precisasse, Alice precisaria disso naquele momento.

   Distraído em meus pensamentos olhei para a parede e vi um estranho quadro de um homem, parecia alguém conhecido, como se estivesse nos encarando, não liguei muito, pois estava cansado. Adormeci logo em seguida e assim que acordei com o sol queimando minha face percebi algo que acabou por me arrepiar, não era um quadro:

Era uma janela.

CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora