Fear

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     29 horas foi o tempo que demoramos a encontrar um corpo, já sem vida, o que acabou por desesperar turistas e habitantes da ilha. Além de Anna e do pequeno garoto, mais 2 pessoas haviam desaparecido naquele mísero intervalo de tempo, uma para cada dia da semana que havia se passado.

     Estávamos aflitos e prontos para dar o fora e deixar as autoridades assumirem, evitando assim que acontecesse conosco. Que tipo de monstro era capaz de fazer uma coisa dessas? De acordo com teorias, não demoraria muito para que outros corpos fossem encontrados, e isso me preocupava.

      Nesse meio tempo de angústia, vi André somente duas vezes, ele estava claramente abatido, parecia que sentia culpa ou talvez arrependimento. Lucas apenas me disse para ignorar, pois ele insistia sempre e tentava me fazer acreditar que ele não era uma boa pessoa, o que eu discordo.

    Lucas sempre fora assim, desconfiado de tudo e todos, me impressiona que tenhamos feito amizade rápida. Conhecemos-nos assim que entrei na faculdade há quase dois anos, ainda não o conheço muito bem, por sempre ser muito fechado, mas ele sempre esteve lá por mim e sei que posso contar com ele, independentemente da situação, assim como ele pode sempre contar comigo.

    A princípio ele era uma paixãozinha, mas então nós conversamos um pouco e ficamos só na amizade, sempre o achei bonito com seus olhos esverdeados como esmeraldas e cabelo loiro bagunçado, como quem nem se dá ao trabalho de se arrumar e continua bonito mesmo assim, sem contar em seus charmosos óculos e uma cicatriz perto dos olhos, de quando ele era apenas um menino.

 Além da beleza e da desconfiança era super protetor comigo e Anna, cheguei a imaginar os dois juntos pela atração inegável mas nunca aconteceu e continuamos assim até os dias de hoje, ou melhor, agora sem Anna. 

-Vamos até o restaurante, você precisa comer um pouco. - disse Lucas, tirando-me de meus devaneios.

- Não estou com fome.- respondi desanimada.

- Alice você sabe que isso não é sua culpa.

- É sim, se eu tivesse insistido em quem era o cara que ela tava saindo talvez ela não estivesse desaparecida.

- Não é sua culpa! Agora vamos, você precisa manter sua saúde, já é magrinha, quer desaparecer garota? - Disse Lucas me fazendo rir e me convencendo a comer.

   Nunca fui de comer muita coisa, mas mesmo assim Lucas encheu meu prato e acabei por não conseguir comer, sobrando para o bonito esfomeado. Após isso, passamos o dia na praia, ele tentando surfar, mas sem tirar os olhos de mim e recostada em uma cadeira beira a mar, afinal o mar com celestial imensidão me acalmava, onde fiquei imaginando que, a qualquer hora, eles apareciam naquele horizonte.

     Sabendo que estava me iludindo, resolvi esquecer um pouco tudo que estava acontecendo ultimamente e me joguei de cabeça na bebida. Chamei Lucas para aproveitar meu pequeno surto de loucura e juntos fomos ao bar, que estava relativamente vazio, uma vez que os visitantes foram embora por medo dos acontecimentos recentes.

     Assim que chegamos e nos direcionamos a nossa pequena mesa, vi que André estava com um amigo, em uma mesa próxima a nossa. Tentei ignorar o fato de que ele estava lá, mas era quase impossível, considerando minha enorme atração por ele com seu jeito sedutor e charmoso. Ele demorou a perceber que estávamos lá, mas assim que me viu, ficou encarando-me até, aparentemente, juntar coragem o suficiente para vir falar conosco, definitivamente nunca o tinha visto inseguro daquele jeito.

- Que surpresa te encontrar aqui, Princesa. Esse é meu amigo, Gabrielro. - disse apresentando-me seu colega. – Nós trabalhamos juntos.

     Pedro, como se chamava o estranho, era bonito e elegante, usava uma camisa social com mangas que permitiam ver seus braços tatuados. Lucas e Gabriel se deram bem quase que instantaneamente e ficaram conversando entre si, o que me obrigou a interagir com André, uma coisa que evitava, já que da última que nos falamos eu não me lembrava muito bem, por conta do excesso de bebida.

- Soube o que houve com seus amigos, como você está Princesa?- perguntou afetuosamente.

- Tentando superar, mesmo que eu não seja muito chegada a eles faz muita falta. - dei de ombros, dando um gole em minha bebida.

- Sinto muito por isso.

- Não é como se fosse culpa sua.

- Eu sei. Mas então, quanto tempo mais você vai ficar por aqui?- perguntou André me fazendo relaxar pela mudança de assunto.

- Só mais três dias, os outros voos estão lotados, mas depois volto a rotina. E você?

- Vou ficar mais uma semana, preciso terminar de negociar um contrato. Mas, depois de voltarmos, e caso você queira, poderíamos no encontrar de novo.

- Não seria uma má ideia. - comentei, concordando e escondendo minha felicidade por ouvir aquelas palavras.

- Eu só precisaria do seu telefone para manter contato, Princesa. - disse me entregando seu celular esperançosamente.

    Ri de sua inesperada hesitação, ele parecia tão vulnerável, logo peguei seu celular e adicionei meu número enquanto André fazia o mesmo no meu celular. Salvei meu contato como Esquentada, e logo percebi que ele havia nomeado seu número como Abusado. Sorri de seu atrevimento, ele tinha sido o único capaz de me animar bastante com muito pouco.

- Eu preciso ir, mas espero te encontrar logo. - disse André, entregando meu celular e se afastando com Gabriel logo em seguida.

- Gostei do Gabriel, é gente boa. - comentou Lucas com o olhar avoado.

- Ele realmente parece ser gente boa.

    Sentamos e bebemos até anoitecer jogando conversa fora, em um momento fui para o banheiro afim de retocar aquele batom que com certeza havia saído e acabei por ver que já estava tarde, seria perigoso me expor tanto assim a essa hora da noite com os últimos ocorridos, Anna iria querer que eu voltasse para meu quarto, voltei então para o bar, onde Lucas estava, e bebi o restante do meu drinque que havia deixado sob os cuidados dele, me despedi por fim e cada um foi para seu quarto. 

   Percebi que estava cansada e zonza, meus olhos pesavam, eu era incapaz de permanecer acordada, o que era muito estranho, já que não tinha bebido muito, mas imaginei ser da correria daquela louca semana, acabei dormindo, rápido até demais.

     Eu estava andando pelo hotel, ele era grande e bonito, quando ouvi uma bela canção, curiosa e encantada segui aquela voz serena, que cantava a melodia tranquila e acolhedora, continuei a andar pelo lugar a procura do dono daquela voz, mas não encontrava de jeito nenhum. Andei muito até a entrada de uma linda floresta. Passava por entre árvores daquele maravilhoso lugar, chegando até a área da praia, onde a voz foi ficando cada vez mais próxima e clara.

    O mar, com suas ondas se quebrando no caminho era tranquilizador, e coloquei então meus pés para sentir a delícia gelada daquela água. Olhei para trás em um instante e vi quem cantava aquela canção.

     Era Anna, com sua voz melodiosa, cantando nossa música favorita de infância, ela estava linda sobre a luz da lua, andei até ela e então comecei a me sentir sufocada, sem ar, como se estivesse afogando. Olhei para ela, rogando por sua ajuda, foi então que tudo escureceu e esfriou a minha volta, a última coisa que me lembro era sua voz gritando por socorro.

Foi então que parei de sentir.

CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora