Capítulo Dois - O que vale a pena (Parte 1)

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Capítulo Dois

"O que vale a pena"

"Será que estou me escondendo nas sombras?

Escondendo-me da dor e do arrependimento?

Mas, apesar disso, eu sei que preciso continuar

Sei que preciso ser forte

Porque sei que muitos já se sentiram dessa forma."

Creed - Don't stop dancing

            Nunca se imaginou pensando nisso um dia, mas ser garçonete era uma arte.

            O trabalho era puxado, o expediente terminava tarde e sabia que poderia ser descontada pelos três copos que quebrou, tentando equilibrar vários pedidos em uma mesma bandeja. Mas, de acordo com o simpático dono do bar, ela tinha se saído bem. Melhor que Molly em seu primeiro dia, o que ele fizera questão de frisar em um tom brincalhão.

            Mas nem tudo fora um total fracasso. Havia uma chance...

            Pelo que ela pôde entender, um rapaz tocava lá todas as noites, um tal de Bradley Rooth. Ele era bom. Muito bom, na verdade, se sua me memória não falhava. Tinha uma voz agradável, um bom repertório e ouvira alguns comentários nas mesas que servira que era bonito também; o que, sem dúvida, era uma vantagem. O fato era que Alissa sequer tivera tempo para poder conferir sua aparência. Seus olhos passaram por ele várias vezes, mas em nenhum momento parara para simplesmente observá-lo. O que era uma burrice. Se queria uma oportunidade de cantar, nem que fosse em um microfone emprestado, precisaria fazer amizade com ele — e rápido.

            Ainda estava cansada, as pernas doíam, o corpo pedia mais algumas horinhas de cama, mas estava feliz. Mesmo naquele cubículo, deitada em um colchão duro e sentindo cheiro de mofo, sentia-se realizada. Tudo estava caminhando para dar certo. Ainda faltavam muitos passos naquela longa estrada, mas ela sabia que se começasse a correr, a tentar apressar as coisas, não chegaria a nenhum lugar.

            Conferiu o relógio e viu que eram nove e meia da manhã. Para quem fora dormir às três da manhã, não tinha passado tanto assim do horário; ainda teria tempo suficiente para arrumar suas coisas nos pequenos armários improvisados antes do almoço.

            E teria tempo suficiente também para outra coisa.

            Alissa achava um verdadeiro crime deixá-lo preso. Sabia que um instrumento musical fora feito para tocar a liberdade, expressar sentimentos, exorcizando-os para fora do corpo. Deixar seu amado violão dentro de uma capa, jogado em um canto do quarto, era como reprimir esses sentimentos, aprisionar suas emoções dentro de uma jaula. Porém, sabia que naquele pequeno espaço, não teria escolha a não ser deixá-lo guardado. Por isso, a necessidade de tocar um pouco veio como um vendaval, açoitando-a em cheio.

            Bem baixinho, para não acordar ninguém, começou a entoar alguns acordes, iniciando a melodia de uma canção brasileira que ela costumava ouvir, mesmo estando longe de seu país natal.

            Não demorou muito para que aquele som melancólico fosse ouvido no cômodo adjacente da casa. Porém, Molly também já estava acordada, apenas descansando o corpo castigado pelas horas de trabalho, de pé, carregando pratos, bandejas e andando de um lado para o outro do bar. Já estava mais acostumada ao batente do que Alissa, mas nem por isso tinha se tornado mais fácil.        

            Uma bela e suave voz começou a preencher o ambiente, de forma tão agradável quanto faria uma brisa leve em um dia quente de verão. Havia timidez naquela maneira de cantar e... quem sabe... um pouco de tristeza também.

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