Lar doce lar

Capítulo Quatro - Um mundo desconhecido

"Ainda estou muito longe de descobrir para onde vou

E tentando descobrir quem sou

Todos dizem que eu nem sei o que estou fazendo

Mas eu digo que eles só não compreendem."

 

3 doors down - When you're young

            A noite toda foi passada em claro. Alissa parecia ter um mundo de coisas para pensar. Tudo que queria era ter um botão liga-desliga para suas ideias. Pensava no assalto, no que poderia ter acontecido se Brad não tivesse aparecido; pensava em todas as coisas que ele tinha dito e no quanto todas elas tinham lhe afetado. Será que tinha feito a coisa certa? Será que os sacrifícios — não apenas os dela, mas também os das pessoas ao seu redor — iriam realmente valer a pena?

            Mas havia outro pensamento latente em sua cabeça: o que teria acontecido com Molly?

            Tendo isso em mente, Alissa deu um pulo da cama, sentindo todos os músculos reclamarem, pois ainda não se estavam descansados, e foi até a minúscula cozinha, sabendo que Molly já estaria acordada.

            E, exatamente como imaginou, lá estava ela tomando café da manhã, parecendo bem mais disposta do que ela própria, levando em consideração que tinha chegado em casa mais tarde.

            — Ah, bom dia, Lee! — sorriu.

            Desde quando ela tinha começado a chamá-la pelo apelido pelo qual somente sua família a chamava?

            — Bom dia — com certa seriedade, Alissa respondeu, encostando o corpo na geladeira e cruzando os braços, adotando uma postura inquiridora. ― Molly, eu queria conversar com você...

            ― Pode falar.

            ― Ontem eu menti para Jerry e não costumo trair minha família. Especialmente para defender pessoas que eu não conheço tão bem assim.

            ― Onde você está querendo chegar? ― o sorriso finalmente desapareceu do rosto de Molly.

            ― Não sei onde você foi ontem depois do expediente, e sinceramente não quero saber, mas se estiver fazendo algo que possa magoar meu primo e eu acabar descobrindo, vai ter que se entender comigo.

            O tom de voz de Alissa não deixava brechas para más interpretações. Estava claro que sua lealdade e devoção para com o primo eram muito maiores que a gratidão que sentia por Molly ter lhe indicado no West Society. Jerry era sangue de seu sangue, e isso jamais iria mudar.

            Molly ficou em silêncio por alguns segundos, como se analisasse até onde aquela conversa iria chegar ou a seriedade das palavras de Alissa. E ela não estava brincando. Não mesmo. Percebendo isso, Molly respirou fundo e abriu um sorriso sem graça.

            O que tinha de errado com aquela garota, que não parava de sorrir?

            ― Fica tranquila, Alissa. Fui resolver um problema de família. Não quis falar nada para não deixar Jerry preocupado, e gostaria de contar com sua discrição.

            Problema de família? Foi uma resposta vaga, insegura e um pouco difícil de acreditar. Apesar disso, Alissa não podia retrucar sem ter certeza que o que ela dizia era verdade, então, fingiu aceitar a explicação, selando um acordo de silêncio. No entanto, o lado desconfiado de Alissa gritava, desesperado para averiguar melhor aquela história. Devia isso a Jerry.