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Chegamos, enfim, a pequena cidade da fronteira. Descemos os dois do ônibus em um pequeno terminal precário no centro da cidade. O terminal era composto por uma construção retangular bem antiga com uma pequena sala de espera e um pequeno restaurante. Logo que descemos do ônibus nos entreolhamos com comprazimento, eu estava muito satisfeito pela conversa que tivemos, mas era hora de nos separarmos e foi quando eu me lembrei de perguntar-lhe o nome:

— Desculpe-me, não lhe perguntei o nome.

Então ela me estendeu um pequeno cartão branco que já havia tirado previamente de seu bolso e me entregou. No cartão estava escrito apenas seu nome e número de telefone.

— Moira — disse ela, e eu finalmente soube seu nome — Foi um prazer conhecê-lo, quem sabe não nos vemos de novo, adoraria conversar novamente contigo.

— Também adoraria, o prazer foi todo meu — respondi-lhe.

— Agora eu devo ficar com meu irmão, você ficará na cidade?

— Só por hoje, devo continuar viajando pela manhã.

— Pois bem, boa sorte em suas viagens. Até algum dia.

— Até.

E assim nos despedimos. Depois de vê-la se afastando de mim para algum lugar da cidade foi que eu comecei a digerir tudo o que havia me acontecido. Sentei-me em um banco do lado de fora do pequeno terminal e comecei a pensar. Só então me dei conta de que estava tudo diferente, muito diferente de quando eu havia deixado meu apartamento pela manhã, assim como a sensação que eu vivia naquele momento também era muito diferente. Parece-me que quando a sensação que estamos sentindo se transforma e se modifica, todo o cenário ao nosso redor também passa a ser outro, até o ar me parecia diferente, mais leve.

Comecei então a olhar ao meu redor e, coisa estranha! Parecia que tudo estava em seu lugar; as pessoas andavam em direção a seus afazeres como tem de ser; as construções, simples, encontravam-se todas em seus lugares, obedecendo fielmente à sua determinada ordem; havia placas sinalizadoras indicando corretamente tudo aquilo que as pessoas deveriam saber naquele local, com cores vivas, vibrantes e cordatas,muitas cores com infinitos tons por todo o centro da cidadezinha. Tudo estava em seu lugar, menos eu, eu não deveria estar ali. Quando me lembrei do motivo que havia me levado até ali senti repulsa, de repente não fazia sentido. Não!Não fazia, de forma alguma. Por que haveria eu de me matar se iria morrer de qualquer forma algum dia? Por que me era antes impossível o simples ato de viver e poder ter tão excitantes conversas como a que tive no ônibus? A única coisa que fazia sentido pra mim até 3 horas atrás era agora a única a não fazer sentido. Mas que diabo é o sentimento, que nos faz ver razão até onde não existe razão?   

O suicídio de um homem céticoOnde histórias criam vida. Descubra agora