Final

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Passou-se três meses após o encontro de Túlio com a moça no jardim do casarão do senhor Albuquerque. O rapaz, mesmo com o tempo avançando, não perdera o ânimo em encontrar a dama por quem havia se apaixonado. Já não negava mais: seus sentimentos prematuros tinham-lhe tornado um ser vacilante, cujo coração palpitava mais alegre sempre que a imagem da bela jovem aparecia em sua mente.

Mesmo sem meios para encontrá-la, Túlio acreditava que seria abençoado com a graça de revê-la e, por fim, conhecê-la melhor, destacando seu nome para sempre em sua alma. Por mais que as circunstâncias dissessem o contrário, o rapaz tranquilizava-se com o poder da esperança e com a fortuna do otimismo.

Em um dia costumeiramente nublado na cidade de São Paulo, Frederico e Túlio saíram para caminhar pelas ruas da capital paulista. Na verdade, o mais velho tinha a intenção de visitar um alfaiate cuja fama era reconhecida pelos mais afortunados, recebendo elogios pelos seus trabalhos e sendo muito requisitado nos últimos anos. Tomando ciência desse talentoso homem, Frederico, sujeito vaidoso como o pai, queria encomendar um novo traje, pois, afirmara, já não possuía uma apresentação adequada perante a sociedade com vestimentas gastas e ultrapassadas quanto às exigências da moda. Desta forma, arrastou consigo seu irmão mais novo para que o próprio Túlio criasse vergonha e pedisse a criação de uma nova roupagem.

Descontente, Túlio seguiu Frederico, sem a intenção de vangloriar-se com um traje novo. Contentava-se com o que encontrava em seu armário de roupas, tranquilizando-se com o fato de que jamais sairia às ruas cometendo atos obscenos em público.

─ O endereço do alfaiate encontra-se próximo às obras do tardio Viaduto¹ ─ comentou Frederico. ─ Este homem, de nome Francisco de Jesus, fora-me recomendado pelo Barão José Antônio, além de outros amigos nosso.

─ Quando dizes nosso, refere-te ao nosso pai e a ti, não é? ─ apontou Túlio, entediado. ─ Não temos amigos em comum, caro irmão.

─ Cala-te, Túlio, e ajude-me a encontrar o local.

─ Ali está a obra do Viaduto ─ disse o outro.

─ Esta obra não tem fim ─ observou Frederico, incrédulo. ─ Começaram as construções, pararam, retornaram, enfrentaram problemas financeiros, agora cá voltaram a colocar-se a trabalhar. Céus, que caos este que chamamos de país, Túlio!

─ Esta obra ainda há de demorar um tanto mais. Não duvido de que, quando findada, terão a indecência de cobrar passagem para atravessá-la².

─ Mas isto já seria um ultraje!

─ Não a este lugar, Fred, cujo caos é incessante.

Caminharam mais um pouco até alcançarem a alfaiataria do senhor Francisco de Jesus, um estabelecimento bem localizado no Centro de São Paulo, de edificação modesta, mas muito bem aprumada.

Sem cerimônias, os dois cavalheiros adentraram o ambiente, encontrando um velho de cabelos ralos tirando medidas de um garoto que não devia passar dos dez anos de idade. Avistando os supostos novos fregueses, sorriu-lhes com ternura e ofereceu-lhes um assento, pedindo-lhes um pouco de paciência, pois não tardaria com a tarefa executada com o garoto ereto à sua frente, destemido a permanecer na inércia a fim de não atrapalhar o processo do alfaiate.

Por fim, anotada todas as medidas necessárias para um novo traje ao pequeno, o senhor Francisco instruiu o menino a aguardar seu pai. Porém, logo em seguida um senhor de cabelos claros adentrara o estabelecimento, cumprimentando a todos com cortesia. Fitando com seriedade o mais jovem dos presentes, fez-lhe um gesto de cabeça para que o acompanhasse.

─ Espero que tenhas obedecido ao senhor Francisco.

─ Sim, papai ─ confirmou o garoto, cabisbaixo.

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