Capítulo Seis

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Enfiei a faca no cós da calça, fechando a porta do carro com força.

Estávamos no Boca Negra. Nunca havia ouvido falar do lugar, mas aparentemente era um bar para os desgarrados da cidade.

Se tratava de uma construção de beira de estrada. Uma placa vermelha anunciava o nome do lugar, brilhando solitariamente sobre as portas de entrada. Várias motos estavam paradas no estacionamento de terra batida, fazendo companhia a dois carros. Mais à frente, na próxima esquina, ficava um posto de gasolina sem movimentação alguma.

E depois do posto a estrada seguia pela escuridão para Deus sabe onde.

- Espere dez minutos. Depois entre pelos fundos - falei, me recostando no carro. Dominik estava enterrado no banco de trás, tentando ao máximo não ser visto.

- Acha que uma faca...

- Eu tenho outra opção?

- Odeio armas, mas é injusto você não poder ter uma.

- Não é o que eu tenho. É como uso.

- E você, por acaso, sabe usar uma faca? Isso envolve luta corporal...

- Fique abaixado - me impulsionei para frente, começando a caminhar para atravessar o estacionamento.

Minhas botas faziam a poeira levantar, e mesmo àquela hora da noite o vento era agradável. Suspirei, amarrando o cabelo num rabo de cavalo. Eu vestia uma simples regata preta com calça jeans e uma borra marrom surrada.

Quando estava perto da entrada, dois homens cruzaram a porta. A música lá dentro se tornou audível. Country.

- Boa noite, moça - um deles me olhou dos pés à cabeça. Era gordo e muito alto. Coberto de tatuagens, segurava um cigarro.

O outro se parecia muito com ele, mas usava uma bandana na cabeça. Motoqueiros, com certeza.

- Boa noite, rapazes - fiz um aceno de cabeça, deixando-os do lado de fora.

O calor do ambiente era quase insuportável, e o cheiro de comida apimentada preenchia a atmosfera. O Boca Negra era um lugar escuro, com pontos de luzes coloridas iluminando o balcão. Estava cheio para uma noite de segunda-feira. As mesas ficavam na escuridão parcial, e imaginei que as pessoas dali gostassem disso.

Parecia o tipo de lugar para o qual alguém que não quer se reconhecido iria.

Atravessei o salão, por entre as mesas. À passos pesados e estranhamente confiante, cheguei até o balcão. Sentei em um dos bancos altos e de estofado vermelho.

- Você pode me trazer uma dose de whiskey? - gesticulei para o atendente.

Ele assentiu, enquanto enchia o copo de um dos clientes. Depois, agarrou uma garrafa e um copo pequeno. Depositou à minha frente e o encheu.

Sorri para ele. Depois segurei o copo, olhando ao redor.

A garota disse que eu a reconheceria, e mil possibilidade passaram pela minha cabeça. Me vi procurando Joana por entre as mesas escuras. Cabelos loiros, rosto fino e boca geralmente definida por um sorriso de canto.

- Que besteira - murmurei, antes de engolir o conteúdo do copo.

- Talvez eu estivesse errada - a voz vinha do meu lado esquerdo, e quando meus olhos a encontraram, a bebida quis voltar por onde tinha entrado. - Talvez você não fosse me reconhecer, afinal.

- Caroline - engasguei, começando a tossir. Mas meus olhos continuavam pregados na garota sentada ao meu lado. Ela estava ali desde a hora em que cheguei?

Doce Tormento - Os Mascarados Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora