Carta oito

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"Tinha remorsos sem saber bem de quê..."

237 dias após o nosso término.

Olá ex-namorada, como você tem estado esses dias?

Há um bom tempo não te escrevo.
E quer saber uma coisa engraçada? Durante esse tempo, eu não pensei em você nem uma vez sequer. 

Quer saber de mais uma coisa (esta não tão engraçada [para mim])? O que eu acabei de falar é uma grande mentira. Mas você já sabia disso, não? É provável que também já saiba desta outra coisa, mas irei dizê-la mesmo assim: eu continuo pensando em você. A parte boa (sim, Viola, tem uma parte boa) é que as lembranças já não me machucam tanto e aparecem em menor intensidade.

Quer dizer, agora eu já consigo respirar e não associar o oxigênio a você.
Incrível, não é?

Acho que sou um bosta nesse lance de superar.

Na verdade, eu sempre fui (e ainda sou) um bosta em muitas coisas.

Apesar de manter esse hábito infernal de recordar cada um de nossos momentos, tenho conseguido resistir a certos impulsos, como o de escrever para você a cada mísero período do dia. No entanto, hoje foi impossível. Imagino que, se você visse como eu estou agora, entenderia o porquê desta aura nostálgica estar comigo.

Cinco segundos para você adivinhar.

5.

4.

3.

2.

1.
...

Não conseguiu, não é? Você não tem ideia de onde eu estava há algumas horas e não tem a mínima ideia de onde eu estou agora. Não se preocupe Verona, eu vou te contar tudo. Este é o intuito da carta afinal.

Hoje, depois de muito tempo, eu fui a uma festa. E isso me lembrou da primeira festa que fomos juntos.
O cenário era o clássico: havia vários adolescentes bêbados pulando na piscina (da casa do [desconhecido] anfitrião) e nós éramos um deles, claro. Havíamos bebido demais, rido demais e dançado demais também.

Fazia pouco mais de uma semana que não brigávamos e eu passei a nos considerar amigos. Eu ia a sua casa depois das aulas e nós tomávamos café enquanto discutíamos sobre as motivações de Shakespeare. Terminei Noite de Reis e iniciei Romeu e Julieta. Era o meu livro e você me deu apoio quando eu percebi a (trágica) história que estava por vir.

Dormi no seu sofá incontáveis vezes. Você sempre me agraciava com uma chuva de fotos tiradas dos piores ângulos possíveis. Parecíamos amigos de verdade. Parecia que o tempo em que você não me suportava nunca existiu. E eu fiquei tão feliz.

Eu fui tão feliz nesses dias, Viola.

E não, por incrível que pareça, não foi por causa da aposta. Aliás, eu nem sequer me lembrei dela naquela semana. Eu estava feliz por poder conversar com você e rir com você. Por poder passar as tarde lendo no seu sofá e por matarmos as aulas juntos. Para ser (muito) sincero, eu estava feliz por somente poder estar com você.

"Essa festa já deu, você não acha?" Mais uma vez naquela noite, fui pego de surpresa por você. Não exatamente pela maneira que você começou a frase, mas sim pelas palavras que a concluíram "Que tal nós irmos lá pra minha casa?"

Aquilo era o que eu costumava dizer quando estava tentando levar uma garota para cama. E então você, novamente você, veio com atitudes inesperadas. Quem? Quem você pensava que era? Quem você pensava que era pra me fazer sentir todas aquelas coisas? Você me deixou interessado, me irritou, me acalmou e me deixou mais interessado ainda. Você me encantou mesmo quando não estava tentando me encantar.

Após o Nosso TérminoOnde histórias criam vida. Descubra agora