Carta quatro

312 123 372
                                    

"...Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas..."

8 dias após o nosso término.

Quem porra você pensa que é?

Desde a última vez que te escrevi, vez que esperei (de forma [quase] desesperada) que fosse a última, não consigo pensar em outra coisa a não ser: você. Não era pra estes desabafos me ajudarem a te esquecer? Era esta a intenção, não era? Então por quê? Por que você continua cravada na minha mente, como se fosse uma cicatriz? Quem, quem você pensa que é pra continuar aqui, dentro de mim, mesmo depois de ter ido embora?

Mesmo quando estou de olhos abertos, consigo visualizar você, rindo de algo que eu disse. E, como se não fosse o suficiente estar onde estou (no fundo do poço), ainda escavo mais em minhas ilusões. Porque só a imagem não me é suficiente. Porque preciso escuta-lo: o som da sua voz. Desfruto dele como se fosse um prêmio. Sei que é uma fantasia. No entanto, tento mantê-la pelo máximo de tempo que consigo... Quem? Quem porra você pensa que é? Quem você pensa que é pra fazer isso comigo?

Comigo, Viola, comigo!

Acho que eu realmente fui idiota de acreditar que você ficaria para trás junto com o ano que termina hoje. O que aconteceu, na verdade, é exatamente o contrário. Aquele maldito dia continua vindo a mim. O dia que eu achei que seria conhecido como o início de mais uma de minhas vitórias... Até chega a ser engraçado me lembrar disso agora, porque eu estava tão errado... Eu, logo eu. Eu que nunca havia perdido uma coisa sequer, nem mesmo uma partida de videogame, estava indo pelo caminho que me faria perder tudo o que tinha. Ou que achava que tinha.

"Jura que tu vai ficar me seguindo?" Você perguntou, parando de repente e fazendo a mim, que vinha andando próximo, bater contra suas costas. "Será que dá pra se afastar, Bragatti?"

"Eu falei que ia te levar pra casa, qual o problema?" insisti no meu plano, mas, ainda assim, recuei alguns passos, mantendo uma distância segura entre nós. Você sempre soube ser assustadora quando queria. E quando não queria também.

"De verdade, quantas vezes vou ter que repetir que 'não', não vou a lugar nenhum com você?"

"Até me convencer."

"Por que eu acho que isso é impossível?"

"Porque é" sorri largamente quando você se virou para me encarar. Estávamos no estacionamento que ficava logo à frente da escola. Alguns alunos, que saiam de suas classes e deveriam estar indo para casa, se reuniram ao nosso redor. Possivelmente com expectativas de como seria a nossa próxima briga. Nós ficamos bem conhecidos por causa delas, não é, Verona? Só que eles não sabiam que eu não pretendia brigar com você.

Você continuou me olhando, com seus olhos semicerrados, de forma que só as íris escuras ficaram visíveis. Era óbvio que estava ponderando, eu quase conseguia enxergar a fumaça saindo de sua cabeça, como se fosse um desenho animado. Aquela teria sido uma imagem agradável de lembrar, se não me fizesse lembrar de tudo o que veio depois e que me fez estar como estou agora: Ferrado, fodido, completamente acabado. Quando eu estava quase desistindo de continuar insistindo naquele dia, porque talvez estivesse tentando uma abordagem muito agressiva, você continuou a fazer sua caminhada. Os olhares dos nossos espectadores passaram de curiosos para decepcionados, mas voltaram ao estado anterior, assim que você me gritou sobre o ombro:

"Nós vamos no seu carro?" ri com tal pergunta. Nós estávamos no ensino médio e eu mal tinha dinheiro pra comprar um lanche na esquina, de que porra de carro você estava falando?

Após o Nosso TérminoOnde histórias criam vida. Descubra agora