3. No território de bruxos

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Acordei com a sensação de ter dormido por anos. Foi o sono mais pesado e profundo que já tive na vida. Se sonhei, não lembrava.Quando abri os olhos vi pela janela do quarto que estava bastante claro. Imaginei que deveriam ser por volta das nove da manhã ou mais.

Sentei na cama esfregando os olhos e tentando me decidir se a noite anterior eu tinha mesmo conversado com fadas ou não. Eu acho que até aceitaria tudo como sonho para facilitar minha vida se não tivesse encontrado uma coisa caída no chão quando me levantei da cama. "Encontrar" é modo de falar. Eu pisei na coisa e a coisa era uma varinha mágica. Abaixei e apanhei a varinha do chão vibrando por dentro. UAU! Eu estava segurando uma varinha de condão de verdade!

Fiquei olhando para a varinha um tempão como se quisesse ter certeza de que ela era real. A varinha deveria ter quase trinta centímetros, não tenho certeza, sempre fui ruim com a matemática, numeração e tudo o que tem haver com ela. Era uma varinha leve, engraçadinha, transparente, como se fosse feita de vidro opaco.Eu me lembrei da varinha da Flor-de-lis. Tinha certeza de que não era aquela.Eu não tinha visto a varinha da Minerva, mas tinha quase certeza de que aquela varinha engraçadinha era a da Talula.

_ Atrapalhada mesmo. Perdeu a própria varinha._ disse para mim mesma.

Como é que eu iria devolver aquela varinha? Pôr anúncio num jornal, na TV? "Encontrada varinha perdida de fada. Entrar em contato com Nila Mrvar pelo telefone tal e tal". Humm! Fala sério!

Olhei mais um tempo para varinha. Será que eu conseguiria fazer mágica com ela? Resolvi tentar. Cheguei perto da minha estante de livros, segurei firme a varinha apontando ela para um dos livros e disse:

_ Abracadabra.

Não aconteceu nada.

_ Sim Salabim!

Nada aconteceu. Passei a agitar a varinha ao mesmo tempo em que falava todas as palavras mágicas que eu conhecia de filmes ou livros:

_ Hocus Pocus! Ou Pocus Hocus?Ala Kazam! Bibbidi bobbidi boo!

Nada aconteceu novamente.Eu hein, a Disney não estava com nada! Ou será que a varinha funcionava só com fadas? Vai ver ela só funcionava com fadas. É. Fazia sentindo. Por que funcionaria com humanos? Talvez tivesse que ser um ser mágico para a varinha mágica funcionar. Ou quem sabe as palavras mágicas fossem outras, umas que eu não conhecia. Ou vai ver a pilha daquilo ali tinha pifado na queda ou...

Eu escutei a minha mãe abrindo a porta ao mesmo tempo em que falava:

_ Nila, já acordou, filha?

Enfiei a varinha atrás dos livros o mais rápido que pude bem no momento em que minha mãe entrava no quarto.

_ São quase dez horas, filha. Dormiu bastante, não é mesmo? Agora se arrume rápido para tomar seu café da manhã. Você vai ficar com a dona Shirley.

Murchei.

_ Dona Shirley, mamãe?

_ Sinto muito, filha. A Helena está com muita febre e foi ao médico. Você não vai poder ficar com ela.

Minha mãe estava às voltas com o TCC (mamãe me explicou que o TCC é uma pesquisa, "tese" como eles chamam, que tem que ser defendida na frente de umas pessoas sabidas que decidem se você tem capacidade para se formar, terminar a faculdade. Mamãe faz Serviço social- com tantos cursos vá lá entender por que ela quis esse). Dava aflição ve-la sempre enfiada com a cara nos livros ou em frente ao computador até tarde. Eu sabia que naquele dia ela teria que fazer uma pesquisa de campo para o TCC dela- seja lá o que significava "pesquisa de campo". Toda vez que meu pai e minha mãe tem que sair e não podem me levar eu ficava na casa da Helena, uma amiga da mamãe, solteirona e dona de dois cachorros e um gato. Ela é legal. Uma pessoa maravilhosa. Me divertia para valer com ela.

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