4. Contratamos um guarda-costas

100 30 17
                                    



Eu decidi que o melhor era passar pelo território dos bruxos a pé com Talula "voando" do meu lado. Meu receio de ela usar a varinha para nos transportar para outro lugar era grande. Com as habilidades da Talula, era capaz de ela nos fazer parar dentro da barriga de um dragão ou no quarto de algum bruxo.

Não pegamos a estrada. Parecia mais seguro. As três luas bastavam para iluminar o nosso caminho.

A impressão que eu tinha era que estávamos andando há horas e eu estava começando a sentir meus pés doerem, um desconforto terrível com a lama seca no meu corpo e uma fome devastadora como se eu não comesse por dias. Meu único consolo é que não nos deparamos com mais nenhuma bruxa ou bruxo ou qualquer bicho esquisito que pudesse aparecer do nada.

Parecia que por todos os lados havia apenas árvores velhas e maltratadas e imensas poças de lamas. Não tem como descrever minha alegria quando eu avistei um pequeno lago de águas limpas. Pelo menos parecia limpa, e eu fiz apenas correr, com a Talula "flutuando" atrás de mim, e me agachar na beira do lago.

Com as mãos em conchas bebi um pouco da água. Mesmo a Talula bebeu um pouco. Eu aproveitei para lavar meu rosto e braços. Meu cabelo só teria salvação com um shampoo e um condicionador, mas a minha aparência tinha melhorado bastante.

Fiquei checando minha aparência no reflexo da água e pensando que tínhamos que encontrar logo Minerva e Flor-de-lis para as duas me ajudarem a voltar para casa.

_ Falta muito para sairmos do território dos bruxos, Talula?

Ela fez uma mímica como se dissesse "um pouco" e eu suspirei. Se tivesse deixado a varinha da Talula em casa invés de ter levado para casa da dona Shirley, eu não estaria ali. É como dizem: se arrependimento matasse eu já estaria dura e fria.

Minha reflexão não durou muito tempo, pois Talula agarrou a manga da minha blusa para me chamar. Ela fazia vigorosos sinais com as mãos e eu não conseguia entender nada. Pedi para ela ficar quieta porque comecei a escutar barulhos entre as árvores, folhas farfalhando.

_ O que é isso, Talula?

Mesmo que ela falasse nem teria tempo de me responder. O que vi surgir por entre as árvores me deixou apavorada: três serpentes com asas aproximavam-se voando em nossa direção. Como se não bastasse cobras serem traiçoeiras, sutis e venenosas, essas também voavam.

Não consegui gritar, tanto era o meu medo. Fiquei parada, petrificada e uma das serpentes mergulhou na minha direção. Eu deveria ter cara de mais indefesa já que Talula conseguia voar e eu não.

Mas Talula foi demais, devo admitir. Acho que o medo acionou alguma coisa dentro dela. Talula agitou a varinha e umas faíscas laranjas saíram da ponta e acertaram a serpente que vinha em minha direção. Houve um barulho de um estalo seco e a serpente foi pulverizada.

As duas outras serpentes aladas restantes pareceram se combinar e se dividiram. Uma foi na minha direção e a outra foi na direção da Talula.

Finalmente meus pés me obedeceram e eu me esquivei da serpente me atirando no chão e rolando para o lado. Talula voava para lá e para cá, com a outra serpente a seguindo, ao mesmo tempo em que agitava a varinha e disparava outras faíscas laranja errando a mira.

A "minha" serpente estava voltando para me atacar com mais velocidade que antes. Eu estava me preparando para me desviar novamente quando uma flecha- vinda de sabe-se lá de onde- acertou o olho da serpente que me seguia. A criatura soltou um guincho de dor e foi acertada por mais duas flechas, uma após a outra, fazendo-a perder a altitude e cair no lago.

Seis ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora