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SÁBADO, 18:43


As mãos de Louis nunca tremeram tanto em toda sua vida.

Os olhos azuis correm de um lado ao outro do palco, e o figurino 100% algodão faz com que o suor ilumine seu rosto sob o calor dos holofotes. As pesadas cortinas de veludo da coxia tapam quase toda sua visão da platéia, permitindo-lhe enxergar apenas meia dúzia de pessoas nos assentos laterais do teatro — mas não precisa ver todo o ambiente para saber que está lotado, depois do vislumbre que teve da enorme fila do lado de fora do teatro, através das pequenas janelas atrás do palco. O cheiro dos perfumes dos espectadores se mistura ao vento artificial do ar-condicionado e com o nervosismo, fazendo com que seu estômago dê voltas.

Deste ângulo, ele pode ver outros dois atores contracenando no tablado, gesticulando, falando e construindo a primeira cena da peça, moldando-se ao cenário com uma naturalidade que, neste momento, ele inveja mais que nunca. Louis deve subir ao palco em menos de dois minutos.

— Hey, Louis — o diretor da peça, Julian, aproxima-se, dando-lhe tapinhas nas costas, — você tá legal, cara?

A respiração de Louis falha, e ele não sabe dizer se seu coração está batendo rápido demais ou se simplesmente parou — balança a cabeça positivamente, mas ambos sabem que está mentindo.

— São quinhentas pessoas... — Julian diz, com um suspiro e olhar distante, jogando o peso para uma das pernas e apoiando no quadril a prancheta que sempre leva nos braços.

Em outra situação, Louis teria rido, pois a calma com que o diretor fala de quinhentas pessoas é tanta que soa como se sua intenção fosse realmente apavorar o garoto, mas neste momento ele está petrificado demais até para ser sarcástico.

— É — é tudo o que consegue dizer.

— Você está legal mesmo? — Julian pressiona, agora focalizando o rosto do ator. — Tem sessenta segundos para entrar, posso pegar uma água para você.

Louis nega de forma quase imperceptível, e então vira a cabeça para encará-lo.

— E-eu...

— Respire fundo, Louis, respire fundo — o diretor diz, erguendo e abaixando a mão de modo ilustrativo.

Ele tenta respirar, mas sente como se todo o seu corpo estivesse absolutamente vulnerável. Fecha os olhos com força, tentando novamente, mas tudo o que sente é um grande vazio. Ele arregala os olhos e encontra os de Julian.

— Eu... Julian, eu...

— Está tudo bem, vamos lá — Julian diz, apertando seu ombro com uma das mãos. — Você é um dos principais, Louis. É seu sonho, não é? Vai dar tudo certo, confia em mim.

Não é que não confia em Julien — ele é um excelente profissional e uma boa pessoa. O problema é que toda a confiança que tinha em si mesmo simplesmente evaporou.

Louis balança a cabeça vigorosamente e, quando olha para frente e reconhece a fala da atriz, percebe que aquela é sua deixa para entrar.

— Eu não consigo — diz, com uma firmeza oriunda de seu desespero repentino. — Simplesmente não consigo. Não dá.

Os atores no palco continuam em suas marcas, alternando os olhares entre eles mesmos, a platéia, Julian e Louis.

— É você — Julian diz, empurrando as costas do garoto de modo firme, mas não grosseiro. — Não existe Julieta sem Romeu. Vai lá, você consegue.

Louis sente a pressão da palma do outro em suas costas e, com os punhos cerrados, engole em seco e dá um passo à frente.

Quando sente a madeira sob seus pés descalços, tem certeza de que suas pernas podem falhar a qualquer momento. Olhando para cima, é praticamente cegado pela luz dos inúmeros holofotes, quase todos agora concentrados nele. A iluminação forte permite que veja a poeira flutuando ar, e pergunta-se se a platéia pode percebê-la também.

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