João.com.Marina

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Para começo de conversa, quero dizer que adoro computador. Acho o máximo esse negócio de tecnologia. Fico imaginando o tempo em que o meu avô era criança... Como é que ele conseguia viver sem esse montão de aparelhos que eu tenho em casa? (Não posso nem imaginar como seria a minha vida sem o meu microondas...)

Como será que o meu avô fazia para ouvir música com aquele aparelho complicado, que é o toca-discos? Precisa pôr a agulha no disco para a música tocar, um horror!

Sei disso porque o meu pai tem uma dessas geringonças aqui em casa. Um dia, fui mexer nela para ouvir um disco da Elis Regina, uma cantora da época de adolescência dele, que tinha umas músicas muito legais. Aquela porcaria de agulha raspou e fez o maior barulhão. O pior é que riscou o disco, e agora a Elis fica cantando assim: "Como os nossos pais... pais... pais... pais..."

Imagina a bronca que eu levei! Meu pai comprou um aparelho de som novo, mas não quis se desfazer do antigo, justamente por causa de sua coleção de discos de vinil.

Ainda bem que nesses aparelhos novos a gente não tem de mexer em agulha!

Como eu disse antes, adoro tudo que diz respeito a tecnologia. Acho mesmo que deixa a vida da gente mais prática. Mas vamos voltar ao computador.

Quando meu pai chegou com aquela máquina em casa, isso há mais ou menos uns quatro anos, fiquei superempolgada. Claro que eu não sabia mexer nela. Não tinha a menor prática com o teclado. O único em que eu já tinha posto a mão na minha vida era de um pianinho que tocava música sozinho, presente de uma tia no meu aniversário de cinco anos. Palavras como digitar, "deletar", mouse e outras do tipo não faziam parte do meu vocabulário.

Meu pai já sabia, usava computador no escritório em que trabalhava. Ele é gerente de vendas.

Fazia um tempão que ele estava sonhando em comprar um lá pra casa. Foi por isso que fizemos a maior festa quando ele chegou. Eu e meu pai. Só nós dois. Se eu soubesse, na época, que essa droga ia me dar tanta dor de cabeça, juro que não deixava.De jeito nenhum!

Como é que pode uma máquina tão inofensiva causar tantos problemas! Inofensiva uma ova! Isso era o que eu achava na minha santa inocência. Coitada de mim!

Meu pai sempre foi muito legal. Ele e minha mãe se separaram quando eu tinha cinco anos. Hoje eu tenho onze, e meu pai trinta e sete.

Você deve estar se perguntando por que eu não moro com a minha mãe. Em caso de separação, geralmente os filhos moram com as mães, e não com os pais.

Bem, quando meus pais se separaram, minha mãe resolveu morar em São Paulo, para trabalhar e fazer faculdade, coisa que nunca tinha dado certo antes.

Ela combinou com meu pai que ele ficaria morando comigo e cuidando de mim, até pelo menos ela terminar a faculdade. Afinal, ele também tinha ajudado a me colocar no mundo!

Só que, depois disso, outras coisas foram acontecendo. Ela terminou a faculdade (estudou computação) há dois anos, mudou de emprego e foi transferida para uma filial no sul. E mora lá até hoje. Sozinha.

Para falar a verdade, fui eu mesma que não quis ir morar com a minha mãe. Bem que ela me convidou, mas eu já estava acostumada a viver com meu pai, que era pai e mãe ao mesmo tempo. Além disso, meus avós moravam (e ainda moram) na mesma cidade que eu. E a escola? E os amigos? Não quis sair daqui, não.

Ultimamente, ela não tem vindo me visitar. Ficou mais longe agora. Mas ela sempre me liga, e a gente se fala numa boa. Nas férias passadas, fui para a casa dela. Não é bem uma casa, é um apartamento pequeno. Também, para que ela ia precisar de um maior, se é só pra ela? Gostei de ter ficado lá, mas gostei mais ainda de ter voltado. Estava morrendo de saudade de todo mundo! Principalmente do meu pai. Eu adoro o meu pai!

Bem, só me esqueci de falar o meu nome: Ana. Minha mãe se chama Isabela e meu pai se chama João. Há também uma pessoa que ele quer que eu conheça por toda lei: a Marina.

Essa Marina anda infernizando a minha vida nesses últimos tempos. De onde ela surgiu? Da Internet!

Entendeu agora por que o computador só me arranja problema?

Eu bem que estava desconfiada de que tinha alguma coisa errada

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Eu bem que estava desconfiada de que tinha alguma coisa errada. De uns tempos para cá, ele só queria saber de ficar no computador. Nem a novela das oito ele via mais!

Quando eu ia no quarto perguntar o que ele estava fazendo, só me dizia: "Estou na Internet agora. Depois a gente se fala, filha!"

Tá bem, me engana que eu gosto! Ele estava era namorando!

Ainda se tivesse ficado só no namoro virtual, mas não! Marcaram encontro e tudo!

Será que o meu pai colocou algum detalhe ridículo na roupa, como um lenço colorido no bolso do paletó, por exemplo, para que aquela mulher o identificasse? Era só o que me faltava, porque, se ele fez isso e algum dos meus amigos viu, vou pagar o maior mico!

Agora, veja você se não sou azarada. Com tanto lugar no mundo, adivinhe de onde ela é? Não, não é da mesma cidade que eu, mas é de São Paulo, bem pertinho daqui. Não podia ser do Himalaia, do Japão ou da Noruega? Ou então de uma cidade que dizem existir no mapa, mas fica longe pra burro, como é mesmo o nome? Ah! Chuí, no finalzinho do Rio Grande do Sul, muito mais longe do que a cidade onde minha mãe está! Mas não! Está aqui perto. A uma hora de distância. Agora me diga se não é azar demais?

Meu pai está louco para eu fazer amizade com essa tal de Marina. Um dia, ele estava conversando com ela por telefone e quis me passar o aparelho para eu falar um pouquinho. Desconversei e fugi para o meu quarto. Eu lá quero falar com essa mulher? Nem por telefone nem pessoalmente. Nem mesmo pela Internet, antes que algum de vocês pergunte.

O pior é que a coisa está ficando séria! Não é um namorinho á-toa, não. Outro dia ouvi meu pai dixendo para ela, pelo telefone:

- Vamos dar um tempo para a Ana, Marina. Tenho certeza de que ela vai acabar concordando...

concordando com o quê, eu não sei. Porque quando ouvi isso, tratei logo de sair correndo dali. Estava com um medo danado de escutar o resto.

Você pode imaginar que resto seria esse? Pois é. Eu também. Mas não quero nem saber. Vou fingir que sou surda e muda, porque essa tal de Marina não entra em casa de jeito nenhum! É isso aí!

 Vou fingir que sou surda e muda, porque essa tal de Marina não entra em casa de jeito nenhum! É isso aí!

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