Capítulo 6

891 32 6
                                        

Com ele conseguia me sentir um pouco mais segura, mas era só

pensar em ficar longe dele, que o medo me aterrorizava.

              Era Domingo, dia de folga. Hanna acordou cedo, sem vontade de ficar na cama. Calçou o chinelo e foi para a sua pequena e simples cozinha. Preparou o último chá que havia, de espinheira santa, o seu favorito. Enquanto sorvia aos poucos aquele líquido quente que tanto gostava, foi abrindo as portas do armário e percebeu que não tinha quase nada dentro dele. É hora de fazer compras! Decidiu, sem muita alternativa.

            Amarrou seu cabelo num rabo de cabalo e colocou uma roupa confortável para caminhada. Fazia muito tempo que não se maquiava, então usou apenas um batom básico rosa para não ficar com a cara tão sem graça.

            Respirou fundo, colocou o spray de pimenta no bolso e trancou a casa. Do lado de fora estava tudo silencioso. A única coisa que se ouvia era o barulho das ondas, vindo e indo, sem parar. Era Março e graças a Deus não havia mais tantas pessoas de férias no condomínio.

            O mar estava incrível e a sua dimensão era maravilhosa. Hanna nunca cansava de olhá-lo. Transmitia tanta calma, uma tranquilidade que ela ansiava respirar. Queria ser como o mar, como um dia já foi, leve e solta. Vivia rindo, sorrindo, conversando. Era uma pessoa alto astral, as coisas poderiam estar péssimas, mas ela sempre dava um jeito de revertê-las para algo bom. Essa era a Hanna que todos conheciam, não essa menina insegura, cheia de medo e de poucas palavras. Tinha necessidade de se expressar como antes, mas algo sempre a travava. Era como se a sua respiração estivesse fraca e precisasse urgentemente respirar. Sua vida dependia disso.

            Ela passou pelo lado do restaurante e avistou Daniel na cozinha, pensou em dar um“olá”, mas mudou de idéia quando Gabriel surgiu. O conhecia pouco, porém o suficiente para saber que ele iria dar a sua tradicional caminhada e desta vez seria de manhã e não no fim do dia, como de costume.

            Por mais que quisesse dar “aquele” abraço que tanto precisava em Daniel, decidiu não fazê-lo. Sabia que se ficasse com Daniel ele iria acabar levando-a ao mercado e fazendo o melhor para ela. Não que não quisesse, pelo contrário, seu corpo se movia em sua direção. Seu coração queria estar com ele, era a segurança que tanto precisava e a sua companhia era simplesmente perfeita.

            Entretanto, olhou para Gabriel e a praia. Era sinal de liberdade, sinal de novos tempos. O mar estava lá e ela queria ser como ele, necessitava disso.

           Não era uma escolhe entre Daniel e Gabriel ou entre o restaurante e a praia, era mais que isso. Era uma decisão que precisava tomar para poder respirar novamente, para conseguir atravessar a ponte até ela mesma.

             Por mais que relutasse, correu em direção a Gabriel, mesmo estando em dúvida e com medo de que não seria seguro.

            Ele logo percebeu a sua aproximação. Olhou para ela e sorriu. Demonstrava afeição e de alguma forma parecia compreendê-la — Está tudo bem! – Disse com a voz rouca de sempre e voltou a olhar para a frente.

            Por que ele sempre dizia isso, mesmo sem ter lhe falado nada? Era a segunda vez que isso acontecia. Porém, gostava disso. Era como se ele afirmasse que tudo iria se resolver. E seu coração sempre se abria um pouco, na esperança de que isso realmente pudesse acontecer.

            Hanna continuou a observá-lo, até perceber que estava com lágrimas em seu próprio rosto, aquele pequeno instante em que pensava para que lado seguir, fora muito mais forte do que ela imaginava.

O despertar de uma canção - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora