Apesar de Gabriel ser um pouco misterioso, tinha um pouco de confiança nele, e só agora entendia o porquê. "Realmente, havia uma ligação entre nós".
A páscoa estava chegando. O calor não era mais tão intenso. As manhãs começaram a ficar mais frias assim como o anoitecer, e o vento já trazia cada vez mais o ar frio, avisando que o inverno logo chegaria.
Era quarta-feira, nove horas da noite quando Daniel apareceu de surpresa na casa de Hanna. Em sua mãos havia uma porção de fritas e no rosto, um sorriso maroto.
Hanna olhou desconfiada pelo vidro da porta, abriu-a e cruzou os braços esperando ele falar algo.
Ela estava como sempre nessa hora da noite. Pijama, mas dessa vez com um roupão por cima, pantufa e os cabelos soltos, levemente penteados.
— Você tem que soltar mais vezes o seu cabelo. Ele é lindo! – Observou-a atentamente.
Ela deu um sorriso fechado dando alguns passos para trás.
— É bom você ficar bem longe de mim – Ela mostrou o spray de pimenta.
Daniel fechou o sorriso e arregalou os olhos.
— Você não seria capaz.
Hanna estreitou os olhos seriamente
— Se precisar, não tenho medo de usá-lo.
— Eu vim em missão de paz – Disse, ficando insegura com a sua reação. Apesar das brincadeiras, as vezes sentia que aquilo era mais sério do que imaginava.
Ela o fitou atentamente — E qual seria essa missão?
— Estrear a sua tv por assinatura assistindo o C.S. – Deu de ombros. Ela não disse nada, apenas o estudou por um instante. Depois de alguns segundos em silêncio, Daniel acrescentou — Olha, se fiz algo de errado me desculpe.
Hanna assentiu com a cabeça. Não sabia o que estava acontecendo com ela. Era Daniel, o seu grande amigo, aquele que ela, de alguma forma sentiasse segura. Pelo menos era o que achava.
Ainda um pouco confusa ligou a tv e sentou no sofá convidando-o a fazer o mesmo. Silenciosamente procurou o canal que passava o seriado que ele queria ver.
Daniel colocou a porção de fritas em cima de uma cadeira perto deles. Ela continuava muda, em seu canto, encolhida. Temia que as lágrimas aparecessem demonstrando a fraqueza que a contaminava quando menos esperava.
Ele estava frustrado e preocupado com a sua atitude. Há semanas estavam mais próximos, mas ele não conseguia se aproximar mais que isso. De alguma forma havia uma barreira entre eles, mas não sabia o que era. Sentia fortemente que ela mesma travava isso, talvez sem que percebesse ou talvez com medo de se aproximarem demais
— Hanna! Fale comigo – Sussurrou gentilmente, numa tentava de mudar aquele clima.
Ela apenas suspirou sem coragem para encará-lo.
Daniel calmamente aproximou sua mão perto da dela. Estava de braços cruzados olhando para a tv, dificultando as coisas.
Ele então a tocou suavemente em seu braço.
— Ei, sou eu. Daniel.