SUBTERRÂNEO

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SUBTERRÂNEO


MARIANA

Então aqui estou eu.... Parada em frente ao absoluto nada de mala e cuia. Um homem que atendeu o telefone, dizendo se chamar "Dante Giérmano" me fez anotar o endereço. Até tentei localizar pelo GPS do celular, mas não levava a lugar algum (de fato, provavelmente caí em uma pegadinha de mal gosto), fiquei desconfiada afinal não o conheço, porém eu não tinha escolha, era arriscar ou ficar na rua.

Olha que ironia, continuo na rua. Bem, não rua, é um campo aberto e acredito que se andasse mais um pouco, me depararia com um imenso penhasco, é uma paisagem linda. Tenho certeza que o pôr-do-sol ou o amanhecer aqui deve ser lindo.

Dante me passou o endereço a contragosto e o fez somente após eu lhe explicar várias vezes e com detalhes tudo o que aconteceu comigo, insistindo principalmente nas informações sobre os meus pais. No final, após uma longa conversa, o homem que possuía um tom de voz levemente rouco e irritadiço se convenceu, dizendo ter achado algo sobre o meu pai, Thomas Garcia, escrito nas coisas de um falecido chamado "Jonas".

Mas, voltando ao presente, encontrei uma escada que descia níveis no chão e, mesmo achando uma péssima ideia, comecei a descê-la até encontrar uma grande porta de metal. Depois de questionar minha sanidade mental umas cinco vezes, dei batidinhas em uma porta de metal forte que, pelo barulho que fez, parecia ser bastante grossa.


"O que diabos é este lugar?", fiquei me perguntando, já que não existia sequer vizinhança a uns bons quilômetros de distância. Eu tinha absoluta consciência de que se não fosse um contato de segurança que meu próprio pai me passou em vida, jamais me arriscaria a entrar na "casa" de estranhos, ainda mais em um local tão suspeito (na mais suave das definições) como este.

Estava quase dando meia volta e resolvendo ir embora dali, mas então a porta se abriu, revelando um homem bastante alto para os meus míseros um e cinquenta e quatro. O moreno do tipo "incrivelmente lindo" parecia ter pelo menos um e noventa. Ele tinha cabelos pretos demais e ondulados pouco acima do ombro, seus olhos eram verdes intensos e, apesar de sua camisa social clara e jaqueta, é aparentemente musculoso.

Seu cheiro de pós banho invadiu meu nariz assim que a porta se abriu e ele, depois de subir e descer os olhos em mim, os estacionou em meu rosto e rompeu o silêncio:

- Você é a garota? - Pergunta, me analisando.

Percebi que estava embasbacada até ele abrir a boca. Pode me julgar? Quem você esperaria que morasse em um lugar como este? Um homem lindo, jovem e gostoso? Claro que não! No mínimo, um idoso maluco com fanatismo religioso (assisto muito filme de terror, então a última parte talvez ele ainda seja). Parei de encará-lo com a boca aberta, para que ele não pense que a maluca da história sou eu e respondi:

- Sim, eu sou Mariana e você...

- O irmão do Dante, Saulo - Responde. Ele parecia ter uns vinte e seis ou sete anos no máximo. Dizendo isso, Saulo me deu passagem e me ajudou a entrar com as poucas coisas que eu tinha.

- Deixa que esse eu carrego. – Digo sorrindo, me referindo ao meu violão e ele concorda. - Agora entendi... - Fico impressionada com a visão de dentro do local, é uma mansão linda por dentro. Havia entrada de luz pela lateral, uma parede inteira de vidro tornava verdadeira a minha teoria, realmente era um penhasco, uma mansão linda e inteiramente subterrânea, arejada e feita por mãos e mente impressionantes.

Completamente linda e intrigante como o morador dela ao meu lado.

Saulo sorri de canto ao me observar toda boba olhando a casa e não diz nada, ele aparenta ser bem introspectivo, mas talvez seja porque ainda somos estranhos um para o outro.

- Tem três quartos no andar de cima, um meu, um do meu irmão e o outro de hóspedes, são mais espaçosos que os quartos daqui de baixo. - Saulo sobe com as minhas coisas e coloca na frente do quarto indicado, ao lado dos seus respectivos.

- Onde está o seu irmão? – Questiono, curiosa para saber se o Dante é tão lindo quanto o moreno. Já que é seu irmão, eu esperava que fosse.

- Resolvendo umas coisas com um amigo nosso. – Ele diz, sendo sucinto em sua resposta e não quis prosseguir no assunto.

- Ah, entendo. - A curiosidade terá que se segurar para outra hora. Suspiro, sentindo o cansaço dar sinais, afinal, viajei mais de 800 km até aqui, me outro Estado.

Saulo parece notar meu cansaço e sem dizer mais nada se retira do quarto, me deixando sozinha e a vontade para me habituar e organizar a minha pouca bagagem. Coloco tudo no canto do quarto e posiciono meu violão com cuidado em cima da cama.

Infelizmente pouca coisa pôde ser salva e meu violão é tudo o que me restou de lembrança viva de minha agora antiga vida, já que todo o resto se perdeu no incêndio, incluindo meus pais e irmão.

Faz um ano que eles partiram e três meses que estive procurando por qualquer parente próximo que pudesse ficar comigo, mas não havia ninguém e os distantes que encontrei, não tinham contato com minha família o suficiente para estarem dispostos a abrigar uma desconhecida que acabou de completar dezoito anos. No fim, cedi pelo desespero e resolvi enfim​ ligar para o tal contato de emergência de meu pai.

Afasto o sentimento ainda amargo quando um nó ameaça se formar em minha garganta, então me levanto disposta a tomar um banho e conhecer mais o meu mais novo e lindíssimo inquilino.

"Pena que este quarto não é uma suíte." Penso ao sair do cômodo.

- Saulo, onde fica o banheiro?! - Grito, sem saber de onde virá a resposta.

- Final do corredor aí em cima! - Sua voz grossa e calma veio do andar de baixo.

- Valeu!

Deixo minhas roupas na cama e corro para o banheiro. "Bom, pelo menos é grande e tem toalhas limpas." penso, contente.

Deixo a ducha quente escorrer por todo o meu cabelo ondulado, lavando tudo e fazendo minhas higienes sem pressa. Já deve ser umas oito da noite, já que quando olhei o horário no celular ao chegar aqui e vi que passava pouco mais das sete.

Seco o tanto que posso do meu cabelo com a toalha e cubro meu corpo. Quase ao mesmo tempo em que faço isso a porta do banheiro se abre me fazendo tomar um susto.

- Ah! – Grito - Sabe bater não? Essa porta não tem chave! - Reclamo, imaginando ser Saulo, mas assim que subo o olhar, me deparo com outro homem jovem de cabelos loiros curtos. Ele é um pouco mais baixo que Saulo, porém tão lindo quanto e.... parece irritado.

Seus olhos eram um par de águas verdes e ele possuía um maxilar desenhado, sua barba por-fazer dava um toque final naquele rosto perfeito. O loiro vestia uma jaqueta de couro marrom e por baixo uma camisa de flanela e calça jeans, também mostrava ser musculoso.

- Desculpa, posso saber quem é você? - Pergunta e de imediato sinto a familiaridade de sua voz marcante, o identificando imediatamente como sendo o Dante.

- Mariana... Preciso me vestir, depois desço. - Digo, desconcertada e ao mesmo tempo um pouco "animada" com seu olhar que vagava por todo o meu comprimento.

- Ah certo... - Concorda, parecendo só agora ter se dando conta do quão constrangedor era a situação.

Passei por ele, sentindo seu cheiro amadeirado com leve toque de bebida alcóolica. Andei apressadamente para o quarto, vesti minha lingerie de renda branca, uma calça moletom para dormir e uma camiseta fina também branca, após isso desci, encontrando os dois.

- Então...

Morando Com Os Irmãos GiérmanoOnde histórias criam vida. Descubra agora