Promete que vais tentar

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Ouço a porta a abrir e lanço-me para os braços do meu melhor amigo. Peter não consegue conter mais as lágrimas e eu também não, então deixo-as cair livremente enquanto encosto a cara ao peito dele. É reconfortante sentir os braços grandes dele à minha volta, como se me quisessem prender ali e não me deixar ir para a arena. Peter vive comigo desde sempre, não passou um único dia em que não estivesse com ele, e depois com Mia, a minha amiga, que entra logo de seguida com uma expressão fechada. Ela é sempre forte, nunca se deixa ir abaixo em frente aos outros, mas tenho a certeza que está a sofrer tanto como eu.
Solto-me de Peter e agarro-me a ela, deixo-a reconfortar-me como se fosse um bebé.
- Vai correr tudo bem. - diz ela enquanto me afaga o cabelo - Tu consegues ganhar.
- É impossível... - digo baixinho no ombro dela.
- Ei! - chama ela, obrigando-me a olhá-la nos olhos - Tu és forte. E inteligente.
- Mia, eu nem sei o que fazer com uma arma.
- Sabes manejar uma faca. E usar cordas. - responde Peter, com um olhar sério.
Eu sei a que ele se refere. No distrito 10 ajudamos com o gado desde crianças, estou habituada a matar os animais, a apanhá-los com cordas e tenho que admitir que o trabalho me deu uma constituição forte, mas continuo baixa e demasiado magra para os brutamontes bem alimentados que sei que vou encontrar na arena. Quais são as minhas hipóteses de não ser morta?
- Promete que ao menos vais tentar. - pede ela, limpando uma lágrima que escorre pelo meu rosto.
O olhar determinado dela passa-me tanta força. Mia é a minha heroína, e apesar de ser uma ano mais nova que eu, vejo-a quase como uma figura maternal. Tem sempre uma palavra encorajadora, sempre decidida, sempre forte. Viu a própria mãe matar o marido (o pai de Mia), a pessoa mais próxima que tinha, e depois foi executada pelo seu crime, e Mia levada para o orfanato. Se fosse eu, concerteza teria dado em maluca.
- Prometo. - respondo eu, disposta a tentar, a dar tudo de mim para sair daquele inferno.
Recuo um passo, com um sorriso fraco enquanto seco os olhos. Mia aproxima-se do Peter e com as duas mãos no rosto dele diz baixinho, de uma forma íntima:
- Ela vai ficar bem.
Um sorriso nasce no meu rosto e uma lágrima cai, desta vez de felicidade. Eu sempre soube, mas eles não queriam ver que ficam perfeitos juntos. Agora sei que vão ficar bem, vão tomar conta um do outro.
Peter encosta a sua testa na de Mia, e inspira profundamente, e assusto-me quando gritam do lado de fora que as despedidas vão terminar.
O casalinho separa-se para me abraçar pela última vez. Primeiro é Mia, que me enrola nos seus braços esguios, e eu sussurro baixinho, para que só ela ouça:
- Toma conta dele. Amo-te.
- Eu também te amo. - responde Mia.
Ela oferece-me o sorriso mais lindo de Panem e depois deixa-me ir despedir do Peter, que quase me emborracha com os seus braços musculados.
- Vou ter saudades tuas, miúda.
- E eu tuas, P. Não percas mais tempo, ela também gosta de ti.
Ele concorda com a cabeça, beija-me na testa e abandona a sala, agarrando Mia pela cintura, não sem antes me oferecerem mais um olhar encorajador.
Fico sozinha na sala, e não consigo esquecer o facto que daqui a uma semana posso estar morta. Não estou pronta para isso, sinto que ainda não vivi nada.
É isso, vou tornar esse o meu objetivo até aos jogos: experimentar tudo o que eu conseguir, sem perder o foco em ganhar capacidades de sobrevivência e luta.

Ainda não desisti da vida. Eu prometi tentar...


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Gostaram do capítulo? Já deu para ficar a conhecer melhor a Luna.
Estou a pensar adicionar fotos, ou algo do género aos capítulos. O que acham? Deixem a vossa opinião nos comentários! 😁
Beijão, até ao próximo capítulo (muito em breve!)

Hunger Games: a história por contarOnde histórias criam vida. Descubra agora