Fadasmagórica

2

- Chegou o momento, Sarah. - O Guarda-Mente me acordava ainda pela madrugada. - Está pronta?
- Nunca estive tão pronta em toda a minha vida - digo-o.
- Lembre-se: você tem quarenta e oito horas para me trazer outra alma.
Assinto com a cabeça e aos poucos sou levantada até a superfície do poço.
- Obrigado Sarah - o Guara-Mente se despede assim que eu chego em terra firme. - Logo tudo estará claro e você entenderá - ele se despede por fim.
Finalmente estou aqui em cima, e, como Ele disse, nada mudou. Pessoas trabalhando, crianças brincando, tudo da mesma forma. Entro por detrás de um arbusto e estou em Sinville novamente. Ando um pouquinho e ninguém me percebe, afinal, estou invisível. Não demora muito e vejo num poste: "DESAPARECIDA: Sarah Corin. Se encontrá-la, favor contate-me." e logo abaixo um número e um nome em específico: Caio, meu pai.
Meu mundo para. Meu pai está me procurando. Certamente não foi ele quem me jogou no calabouço. A vontade que tenho é de ir até ele e dizer que estou aqui e que voltei, mas não posso, afinal, cada segundo é sagrado para mim. Eu preciso de uma alma urgentemente. Mas, de qualquer forma, vou até minha casa, preciso ver meus familiares - mesmo que eles não possam me ver.
Não ando muito e já estou na casa aonde eu morava antes de ser aprisionada. Não é tão grande mas é bem aconchegante - pode ter certeza que é um milhão de vezes melhor do que o calabouço. Passo pelas paredes e entro na casa. Minha mãe está chorando horrores e meu pai está confortando-a.
- Calma Clara - ele seca uma lágrima que desce sobre o rosto dela. - Já estão a procura de Sarah, e em breve ela estará aqui de volta.
Queria muito avisá-los de que estou aqui e que não há perigo nem nada a temer. Percebo que papai está lutando para não chorar, está usando toda sua força para parecer firme na frente de mamãe. Isso parte o meu coração.
- E se ela não voltar? - Mamãe funga o nariz - Jack também desapareceu no outono passado, e nunca mais acharam-o! O que faremos Caio?
- Ela voltará querida - ele dá um beijo em sua testa. - Ela voltará.
Ah, meu primo Jack! Realmente, nunca mais tivemos notícias do mesmo desde que ele desapareceu. Deram-no como morto. Espero que ele esteja em um lugar melhor agora.
Deixo os dois na sala e corro para o meu quarto. Ao chegar, minha cama está bagunçada - exatamente da forma que eu deixei na noite em que fui sequestrada. Na verdade tudo está da mesma forma - menos eu. Eu estou supermudada, afinal, o que cento e dez anos não são cento e dez dias. Ao dar de cara com o meu quarto, desato a chorar. Este era o meu lugar, o meu mundo e o meu oásis. Era aonde eu era eu mesma antes de tudo acontecer. Aonde eu lia meus livros favoritos e assistia minhas séries sem problemas, mas tudo isso foi tirado de mim e agora eu estou na minha forma invisível. Cá estou eu: Sarah, uma menina-fantasma.
- Você não é uma fantasma.

Tomo um susto. Uma fada linda aparecia por detrás de mim. Ela tinha asas roxas e um enorme cabelo encaracolado. Sua luz refletia em meus olhos de tal maneira que me deixou cega temporariamente.
- Quem é v... Como pode me ver? - Balbucio.

- Uma Fada. O Guarda-Mente mandou eu vir até o seu encontro.
- Como você sabe do Guarda-Mente? - Pisco os olhos - você também está invisível?
Ela ri em um sinal de: "vou ter que explicar isso de novo"
- Estou invisível para os humanos sim
- Os humanos?
- Garota, você quer ajuda ou não? - Ela já se mostrava irritada
- Nossa, me desculpe - abaixo a cabeça por fim - o que tenho que fazer?
- Por ora, siga-me.
Eu obedeço-a e descemos a escada da casa abaixo até que chegamos do lado de fora.