Extremamente Livres

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- Oh, merda. - O garoto que praticava ao meu lado caiu, claramente torcendo o braço. Ele segurava um gemido de dor, encostado à parede.
- Sente-se, ficar em pé não vai ajudar. - Sem forças para discutir apenas escorregou para o chão. Reparei então sua mão fechada em punho, segurando algo firmemente. - Deixe-me ver sua mão.
- Não. - Resmungou, colocando o outro punho sobre aquele que carregava algo.
- Mostre o que tem aí. - Toquei em sua torção, fazendo-o gemer e abrir a mão, mostrando um pacote com um pó branco. - O que é isso?
- Nada demais, esquece isso, garota. - Guardou o saquinho dentro de sua bota.
- Sabe, Ian, você está sempre respondendo todas as perguntas, parece saber tudo e mesmo assim sua posição continua baixa. - Ergui minha sobrancelha, olhando-o de cima abaixo. - Você não está jogando pra valer, isso não combina com você.
- Você não me conhece, então não se meta. - Disse, desviando o olhar. - Não conte pra ninguém o que viu aqui.
- Eu também quero sair. - Sussurrei, chamando sua atenção. - Tenho que encontrar meu caminho, bem longe desse lugar. - Olhei em seus olhos, vendo o reconhecimento de alguém que estava desesperado pela fuga. - Você pode me levar?
- Escuta, eu não sei... - Tentou desconversar.
- Eu quero isso, quero de verdade. - Seus olhos desviaram e ele engoliu em seco. - Você está com medo de mim? - Ele riu debochado, tocando minha mão e em seguida eu senti como se meu peito ardesse de raiva, empurrando sua mão pra longe.
- Você está com medo de mim? - Olhei para minha mão, respirando fundo. - Você consegue sentir que eu vejo sua alma?
- É isso que você faz? Controla as emoções dos outros? - Indaguei com a voz trêmula. Engoli em seco, pegando sua mão e colocando sobre meu peito. - Consegue sentir as batidas do meu coração? - Ele respirou fundo.
- O que você está fazendo? - Eu entendia porque estava receoso.
- Eu quero isso, mais que tudo. Ajude-me a fugir. - Ali, olhando em meus olhos que firmamos aquele acordo.
- Eu quero isso também, quero muito. - Respirou fundo, levantando e apoiando o braço machucado. Fiquei ao seu lado e ele olhou fundo dentro de mim, sabia que estava lendo o que eu sentia. - Vamos fugir dessa merda.

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- Vick? - A garota coçou os olhos, sendo acordada. - Está na hora, vamos. - Rapidamente pulou de sua cama, permitindo-se um último olhar às suas colegas de quarto, que dormiam ressonando sem sequer se darem conta de que haviam sido dopadas por Victoria.

- Você conseguiu? - Ela sussurra, quase sem som. O garoto olha para trás com um sorriso trêmulo. A verdade é que não importava tudo que tinham feito até ali, a qualquer momento poderiam ser pegos e o plano iria ter sido um completo fracasso. Seriam mortos, ou pior.

- Vamos. - Ian caminhava na frente da namorada, sentindo os guardas muito antes de chegarem perto dos corredores onde estavam. Ele conseguia dizer onde cada um dos funcionários do Hospital estava e isso permitia que desviassem de todos os pontos perigosos.

De mãos dadas e vestindo apenas os macacões padronizados do Hospital, sem bagagem ou qualquer coisa que pudessem usar como armas, os dois faziam as curvas pelos corredores que os levariam à liberdade. Passo atrás de passo finalmente chegaram à porta da lavanderia, onde entraram com um suspiro. A fuga seria através da fornalha onde as roupas velhas e pertences de jovens que morriam ou desapareciam eram incinerados.

Ian tinha tido um grande trabalho nos últimos meses analisando o comportamento de cada um dos funcionários que trabalhavam na fornalha e na lavanderia, até finalmente conseguir construir esse plano. Ele preferiu deixar Vick de fora dos detalhes que os levaram até ali, afirmando que se ele fosse pego o melhor era ela saber o menos possível. Agora, encarando o duto frio da fornalha e prontos para deslizar em direção a liberdade eles sorriam. O abraço foi inevitável antes que o rapaz segurasse seus ombros olhando em seus olhos.

ChaosWhere stories live. Discover now