II Retorno

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                                                                                          Ícaro

(seis meses antes)

Não era assim que eu gostaria de encerrar minha estadia em Londres, ter que voltar as pressas para socorrer o pai da Priscila não estava nos meus planos. Mas eu fiz, pelos quatro anos que estamos juntos e pela família que um dia construiríamos. Meu sogro não é a pessoa mais correta do mundo, e no Brasil é fácil ser engolido pelo jeitinho mais fácil de fazer as coisas, acho que foi assim que ele se envolveu em um esquema de propina governo do Rio de Janeiro, conseguindo para sua empresa de engenharia as melhores obras com custos super faturados e executivos comprados.

Eu sempre suspeitei das negociatas do meu sogro, mas nunca tive certeza, até que Priscila veio até Londres desesperada com medo do pai ser preso e ela ver o que mais ama ir embora: o dinheiro e seu pai. Então, eu peguei o primeiro vôo de volta ao Brasil.

Pelas informações que ela me trouxe, seu pai teria que fechar uma delação premiada para tentar não ser preso, porque a empresa pública que foi prejudicada com os negócios entre o governo e a empresa do meu sogro tinha contratado uma das grandes firmas do Rio e ganho em primeira instância a devolução de uma grande quantia desviada. Pelo que entendi alguns executivos da empresa do Paulo já estavam presos e era questão de tempo até chegar nele. A Verdanos, empresa de advocacia que entrou com pedido de repatriação de valores era muito competente, por um tempo quis até trabalhar lá. Nesse furacão de coisas para resolver e pensar precisei guardar meus sentimentos e pensamentos de uma conversa com a Priscila sobre o futuro.

Agora passados seis meses de que voltei para o Brasil, percebi que realmente nós não tínhamos mais nada em comum, na verdade fiquei pensando como pensei em casar com alguém que só olha para o próprio umbigo. Nossa relação ficou estremecida de vez quando eu avisei que não iria pegar o caso do seu pai, apenas atuar como consultor e ela não gostou nada disso.

- Mas Ícaro, é nosso patrimônio! Você precisa defender! - Ela gritava.

- Priscila, entenda que eu quero meu nome bem longe dessa sujeira, o que o seu pai fez foi crime e ele tem que pagar por isso.

- Crime? Aqui no Brasil todo mundo faz, você não passou tanto tempo fora para esquecer como as coisas funcionam aqui. - retrucou.

- Não, realmente não passei e sei bem como as coisas funcionam aqui, Priscila. Mas ai é que está, não deveria ser assim.

- Mas, amor, é o futuro dos nossos filhos, você precisa cuidar - Ela tentou mudar o tom.

- Não, Priscila e se você insistir eu retorno para Londres.

Assim eu encerrei a discussão, mas ainda fiquei nos bastidores assessorando os advogados da empresa. 

Olhos de MelOnde histórias criam vida. Descubra agora