Capítulo 3

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UM LITORAL cinza se desdobra diante de mim,  espalhado sob um céu cinzento e sombrio.  O mar banha a costa, os meus dedos dos pés, tornozelos, joelhos.  E então recua.
   Uma onda está chegando ao clímax, a distância-preta,  sem forma, inevitável.  Embora a mente processe a ameaça, o corpo se recusa a responder.  Paralisada, encaro a parede de água enquanto ela cresce diante de mim, ganhando força antes de me engolir inteira.
   A onda não é de água,  mas de som: ruídos humanos. Chorando, gritando.  As vozes das pessoas agudas de pânico.  Arfando, abro os olhos bruscamente e descubro que não estou em um vasto litoral cinzento.  Estou presa no meu assento.  Tubos de plástico balançam pendurados no teto.  Bandejas chacoalham no lugar.
   O homem ao lado de Sasuke deixou cair alguma coisa, e está de quatro, rastejando.  O avião está inclinado com o bico para baixo,  jogando todos nós para frente.  Eu pisco, focalizando as imagens, rezando para que elas desapareçam-mas os sons as torna reais. Deus , o som...
   Tapo os ouvidos, sinto a resistência dos fones de ouvido. Em seguida, o avião começa a mergulhar,  e minha atenção se desvia para a janela.

   A persiana ainda está aberta, proporcionando a vista de uma grande e zombeteiro nada. Eu me estico para conseguir ver alguma coisa. Luzes, casas, carros. Ou talvez uma pista nos chamando para pousar. Mas não há nada lá fora.

   Luzes piscando. Alarmes ressoando. O som sibilante do ar ameaça romper meus tímpanos, mesmo com fones de ouvido. Tiro os fones para enfrentar o ataque do que está acontecendo.

  Então me ocorre, finalmente, que estamos caindo. Outras pessoas partilham esse pesadelo, aproximadamente duzentas, vivenciando o mesmo desespero e agonia que eu. Nossos caminhos deveriam se desviar de novo em Boston, mas não foi o que aconteceu. Estamos aqui. Estamos aqui juntos.

   O avião sacode e meu pescoço estala ao bater de volta contra o assento. A dor aguda sobe pelo meu peito. Sinto uma mão no meu braço: quente, firme e ao mesmo tempo delicada. E, nesse momento, tudo fica em completo silêncio. Calmo, dentro dos meus próprios pensamentos

- Você está bem? 

Sasuke...??

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