Capítulo 4

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-Você está bem?- Sasuke...??

   A voz dele é mais suave do que me lembro, e levo um momento para perceber por quê: a incerteza desapareceu. A timidez também. A fachada que ele usa para navegar nas nossas relações artificiais foi arrancada e substituída por uma pessoa diferente, mais forte e verdadeira.

  Nesse momento, uma pergunta flutua em minha mente: por quê? Por que Sasuke Uchiha está comigo agora, quando deveria estar sentado em outro lugar? Por que ele não está tentando se salvar como os outros?

Por que, de repente, sinto que o conheço a minha vida inteira?

Minha visão clareia. Posso ver seus olhos penetrantes muito nitidamente agora: São de um negro turbulento, semelhante a céu depois do pôr do sol. Escuros, mas reconfortantes.

-Estou bem- digo

 Ele levanta o braço do assento e segura forte a minha mão, e pânico que fazia cócegas no fundo da minha garganta desaparece.

-Eu não quero morrer

- você  não vai morrer- Ele aperta nossos cintos e me entrega um travesseiro. - Só experimente apoiar o pescoço.

    Os gritos aumentam e diminuem com o mergulho do avião; em algum lugar, uma porta bate, e o carrinho de bebidas tomba no corredor. Durante todo esse tempo, Sasuke não apenas mantém a calma, como a produz. A histeria que nos rodeia não o atinge.

   Na verdade, ele acha que temos uma chance. 

Juntos, nos agachamos. O tempo para. Os gritos se transformam em soluços. O avião arremete para cima, para baixo, para os lados. Fico olhando fixamente meus calçados. Um velho par de tênis all star. Que coisa horrível de se ver bem antes de morrer. Mas estou com medo demais para olhar para qualquer outra coisa. Estou com medo até de me mexer, até que Sasuke diz meu nome mais uma vez e todo aquele medo e terror medonho recua outra vez.

  Estamos separados por apenas 15 centímetros , nossos rostos tão próximos que consigo provar o sabor de hortelã no hálito do seu sussurro. Ele deve ter escovado os dentes depois daquele café; sei que é estranho pensar nisso bem agora, mas passou como uma raio pela minha mente, um mínimo de conforto no caos.

   Fico feliz que ele esteja aqui- alguém familiar, mesmo que apenas no sentido mais amplo da palavra. Deve estar pensando na família: nas pessoas esperando sua volta para casa.

   A pergunta me vem aos lábios.

- Você não vai sentir falta da sua família?

     Ele olha para mim por um longo período de  tempo. Uma expressão de dor surge em seu rosto e, em seguida, desaparece.

- Nós vamos conseguir, Sakura.

     Alguma coisa no modo como ele diz meu nome me faz esquecer as bagagens sendo arremessadas e as luzes piscando, mesmo quando  avião dá uma guinada para frente e mergulha com um tremor violento. Um coro renovado de gritos pode ser ouvido. Fecho os olhos com tanta força que chega a doer.

       Um anúncio sai pelos altos-falantes:

- Aqui é o comandante. Preparem-se para o impacto.

      A persiana da janela está levantada, mas desta vez a vista mostra pinheiros escuros passando em disparada. Um lago cintila ao longe. Isso não é tão ruim, eu acho. Ver algo tão magnífico, tão natural, pouco antes de morrermos. Sempre amei a água: lagos, oceanos, piscinas. Sempre me senti em casa.

     Então deixo tudo ir embora e encontro o olhar de Sasuke. Apenas nós dois agora, nossos caminhos convergindo em uma espiral para lugar nenhum. Ao mesmo tempo que tento processar o que significa estar com este estranho familiar, uma serenidade flutua sobre mim.

- você tem os olhos mais negros de todos e os mais lindos que já vi- digo

  Uma lágrima solitária rola pelo seu rosto.

  Depois, um rugido. Soa como os dedos de Deus arranhando a barriga do avião, um guincho rangente faz meu sangue correr mais rápido.

-Não tenha medo- Sasuke diz, respirando fundo. E então nós batemos.

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