Mentiras

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Sarah corria desesperadamente pela imensa floresta, como se a sua vida dependesse disso.
O brilho do luar se adentrava suavemente por entre as copas das árvores, a luz fraca não bastava para iluminar o seu caminho.
Porém até mesmo o menor foco de luz daquela tenebrosa noite já era o bastante para que Sarah conseguisse correr floresta adentro, sem nem mesmo saber ao certo o que a perseguia.
Uma sombra. Foi tudo que Sarah pôde ver. Uma sombra com pouco mais de quatro metros de altura, pelo que conseguira deduzir.

Seus olhos gradativamente se ajustavam à escuridão, e por mais forte que fosse o desejo de olhar para a criatura que a perseguia, Sarah sabia que ela estava próxima demais. Qualquer movimento brusco poderia ser o seu último.

Sarah suplicava desesperadamente para que Deus poupasse a sua vida e lhe ajudasse a encontrar uma saída daquele terrível lugar, seus olhos já começavam a ficar húmidos, e ligeiramente lágrimas começaram a cair de seu pálido rosto.

A enorme criatura estava cada vez mais perto e Sarah já sentia os seus músculos ficando exaustos, ela sabia que cedo ou tarde, seu frágil corpo iria ceder e ela seria pega pelo que quer que estivesse a perseguindo.

Sarah já estava cansada e ofegante, a cada passo que dava ela tinha a sensação de que 1 tonelada passava por cada centímetro de seu corpo.
Ela ficou desesperada e reuniu todas as forças que lhe restaram para rezar enquanto corria o mais rápido possível.

-Pai nosso que estás nos céus...

Ela começava a sentir a criatura cada vez mais perto.

-Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino...

Ela ouvia os passos atrás de si se aproximando mais e mais.

-Seja feita a vossa vontade...

-Sarah sentia o ar ficar mais denso, sentia que já era tarde demais, que a criatura havia conseguido alcançá-la. De imediato, viu toda a sua vida se esvaindo junto de alguns feixes de luz do luar que pairavam sobre a sua cabeça conforme corria, e como se fosse o seu último suspiro, disse:

-Assim na terra, como no-

-Sarah tropeçou em seu próprio vestido e caiu de no chão, sentiu que estava com um pouco de terra na boca e a cuspiu fora imediatamente.
Ela vagarosamente levantou para olhar a criatura como último ato em vida, e percebeu que, de repente ja não havia mais criatura, não havia mais sombra.
Ela não conseguia entender o que acabara de acontecer, estava completamente perplexa, lentamente Sarah começou a olhar para trás, e percebeu um foco de luz em meio à densa noite.

Sarah começou a andar em direção a luz, de alguma forma ela se sentiu atraída por aquilo, não sabia o que poderia encontrar lá, mas sabia que aquela direção poderia ter alguma resposta sobre o que quer que fosse tal criatura.

O caminho não era nada fácil, a mata alta dificultava a sua passagem, principalmente por os espinhos diversas vezes ficarem presos em seu próprio vestido.
Mas isso não foi motivo para fazê-la desistir, ela continuou pelo caminho árduo e após 15 minutos de muita caminhada já se encontrava sem forças e fraca.

Conforme se aproximou, Sarah pôde ver com clareza.
O foco de luz na verdade era uma casa antiga em chamas, pelo que podera ver era uma casa da época vitoriana, e bem assustadora por sinal.

Sarah fechou os olhos por um momento almejando por descanso, e quando abriu novamente, o fogo havia cessado.

Ela começou a se aproximar lentamente da casa, cada passo dado era minuciosamente pensado por receio de que aquela criatura surgisse do nada e fizesse algo com ela, e lentamente, Sarah se aproxima da fachada da casa, e sobe pelos degraus que rangem a cada passo até chegar na porta de entrada.

A porta era de cor marrom, deveria ter no mínimo dois metros de altura e tinham duas enormes maçanetas que eram, definitivamente, maiores do que a mão de Sarah.

Sarah olha para o lado e vê uma placa empoeirada ao lado da porta, ela percebe que há algo escrito na placa e tenta lê, mas há poeira o suficiente para esconder o que quer que estivesse ali.
Levemente, Sarah passa a sua mão sobre a placa em um movimento lento e contínuo, e gradativamente, as letras vão surgindo.

M, E, N, D, A, C, I, U, M.

Sarah definitivamente nunca tivera visto tal palavra antes, e por um movimento involuntário, acaba por ler o que estava escrito.
Em um tom suave e doce, Sarah diz:

-Mendacium

De repente as letras ganham cor e começam a ficar alternando entre tons alaranjados, vermelhos e amarelos.

Quando Sarah percebeu a palavra já havia se tornado fogo, não apenas a palavra, mas também a placa estava em chamas, assim como toda a casa também voltara a queimar e ficou no mesmo estado em que estava quando Sarah chegou ali.

Ela estava trêmula, tentou sair correndo, mas era tarde demais, o fogo já havia se alastrado, e agora não só a casa, mas o seu corpo inteiro também estava em chamas, Sarah começou a gritar por ajuda.

-SERÁ QUE ALGUÉM PODE ME OUVIR? -gritava ela incessavelmente.

O fato de Sarah estar em chamas não era o mais estranho para ela, o que lhe chamou mais atenção, foi a estranha sensação acolhedora de prazer.
Em menos de um segundo a casa explode e a joga para trás fazendo com que ela bata a cabeça em uma pedra qualquer no chão.

Quando Sarah abriu os olhos, não havia mais casa vitoriana, não havia mais chamas e não havia nem mesmo floresta.

Ela estava de volta ao mesmo e antigo convento em Londres onde sempre morou desde que poderia lembrar, e agora acabara de perceber que tudo o que aconteceu não passou de um sonho, fruto da sua inocente e fértil imaginação.

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⏰ Última atualização: Mar 23, 2019 ⏰

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