Prólogo - Branco para a neve

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 O Branco estava por todos os lados no Distrito Inferior. Estava na alta camada de neve que cobria o chão, nos flocos que caíam lentamente do céu, numa mistura com azul no céu e até mesmo na Muralha do Vale que se erguia no horizonte com seus imponentes duzentos metros de altura. James retirou sua velha touca de lã da bolsa, arrumando os cachos castanhos com a ponta dos dedos antes de colocá-la.

- Você tem certeza que quer ir ? – Austin perguntou, com seu típico tom de preocupação. – Sabe, esses protestos não são boa coisa.

- Pode ficar tranquilo. – James respondeu, calçando suas botas de frio, lançando um sorriso para o irmãozinho. – Eu entrarei pelo Portão Nyx, não vai ter ninguém lá.

- Não precisa fazer isso, Jem. – Austin agarrou seu ursinho de pelúcia marrom, apertando-o contra o próprio corpo. – Posso ficar sem presente, eu entendo.

- Tranque as portas e espere Alayne chegar, tá ? – James abaixou-se e bagunçou os cabelos dourados do irmão com a mão, dando um beijo molhado em sua bochecha. – Fiz chocolate quente para você. – O Maior se levantou, pegando sua cópia da chave de casa e saindo.

 O Inverno espalhava nos adultos, e nos responsáveis em geral, um clima sombrio e mórbido que era completamente alheio a felicidade das crianças que se espalhavam para brincar pelas ruas. Nas áreas mais pobres o frio era duro e mortal, as pessoas precisavam trabalhar em dobro para comprar casacos e cobertores mais grossos e mais resistentes, e com a escassez de alimento nas lojas os cuidados aumentavam e muito.

Dois quarteirões a frente James conseguia ver um pequeno grupo de pessoas de branco carregando cartazes com palavras revoltosas marchando em grupo. Embora o Governo repudiasse e desencorajasse qualquer ato de manifestação, também não faziam nada para parar atos pacíficos como aquele. James puxou o cachecol e cobriu o rosto com ele, entrando em uma das esquinas a sua direita.

A Muralha era protegida embaixo por uma grande cerca elétrica com doze portões principais, alguns restritos apenas para os guardas e funcionários que eram autorizados a passar do Distrito Superior para o Distrito Inferior e vice-versa. Poucas pessoas tinham esse direito, e muito da guarda era composta por androides e robôs feitos para o combate. 

James parou de frente para o Portão Nyx, que estava quase vazio, considerando os quatro robôs que faziam a patrulha. Suas formas humanoides pareciam estranhas vistas de perto, seus olhos cinzentos sem expressão faziam subir arrepios pela espinha de James, mas o resto de seu corpo era apenas uma “ imitação “ de algo humano. O peitoral feito de uma liga metálica branca fazia reluzir as luzes da cidade, as pernas e braços finos e negros com os circuitos correndo por eles e suas mãos da mesma liga metálica do peitoral poderiam até parecer legais. Um deles se adiantou, puxando o rifle preso as costas com um movimento rápido e apontando-o para James.

- Identificação, Por Favor. – Sua voz eletrônica falou, com os lábios se mexendo artificialmente.

- Jamesson Webber. – O garoto respondeu com a melhor dicção possível, esperando até que o robô voltou a guardar seu rifle, assumindo uma expressão tranquila.

- Por favor, Senhor Webber, impressão digital– O Robô apontou para um pequeno painel ao lado do portão.

James se aproximou do portão, pressionando seu dedão contra a tela e esperando a confirmação de sua identidade. Não demorou muito até que o robô se aproximou com os olhos vermelhos, e o garoto até pensou que tivesse feito algo errado, mas a mão mecânica agarrou seu pulso e o puxou para trás com violência.

- O Portão está fechado. – O Robô falou com uma voz eletrônica feminina, diferente da anterior.

- M-mas... eu preciso pegar um presente ! – James contestou, tentando livrar seu braço, mas o robô não largava seu pulso. – Me solta !

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