Cinza para as escolhas

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Dor. Cinza. Luz.

James piscou seus olhos tentando se acostumar a intensa claridade do lugar, ainda com seu corpo inteiro doendo e o frio fazendo tremer até mesmo seus ossos. Seus dedos correram pelo chão duro de pedra cinza, com as mãos tremulas demais para conseguir apoio para se levantar, o garoto continuou deitado no chão respirando descompassadamente. De novo. Suas mãos buscaram apoio, mas ao tentar levantar-se uma dor aguda subiu de seu pulso até sua clavícula.

Seu estômago roncou de fome, fazendo-o abrir os olhos novamente, lutando contra aquele sono que apenas lhe deixaria mais fraco ainda. James rastejou até ficar de costas para a parede cinza, levantando-se sem precisar usar seu braço, apoiando as costas na parede e sentando no chão. Estava gelado, mas o clima era um problema mínimo se considerasse que o garoto não fazia ideia de como tinha parado ali e o que acontecera nesse meio tempo.

Tudo o quê lembrava era da Muralha explodindo e do branco da neve inundando seu olhar, mas pelo pouco tempo que passara acordado já dava para perceber que dias haviam passado. James acordara uma vez durante a noite, quando as luzes eram apagadas e ele ficava mergulhado na escuridão, e depois quando as luzes se acendiam a manhã seu olhar precisava se ajustar a claridade. Isso já acontecera umas três vezes, mas era difícil contar os dias sem saber quanto tempo passara dormindo.

- Comida ! - Uma voz feminina alertou, parando em frente a cela de James e passando por entre as barras cinzas um pequeno quadrado de alumínio que exalava vapor. - Comida ! - E sem dar a mínima para o estado do garoto, continuou com seu carrinho de marmitas até que sua voz sumisse completamente.

James se levantou com dificuldade, cambaleando na direção da comida e pegando-a com sua mão boa, com seu estômago roncando pelo cheiro da comida que subiu quando a marmita foi aberta. Feijão, Arroz, Proteína de Soja e algo que parecia muito com uma salada verde -sem ser verde- e com uma aparência nada saudável. Se tivesse algo em seu estômago, James colocaria para fora na mesma hora.

- Vê ? - Uma voz chamou sua atenção, por uma pequena janela gradeada a direita de sua cela. Os olhos azuis gélidos lhe encararam, cheios de uma falsa empatia. - É isso que eles dão para as pessoas pobres comerem, os restos do outro lado.

E o gosto da bílis subiu pela sua garganta, e James vomitou um líquido amarelo-alaranjado no chão, sem nem imaginar que seria possível.

- É, Pretty Boy... - O garoto falou, com um leve sotaque que parecia uma mistura do alemão antigo com francês. - Implore para que eles me julguem culpado logo, ou vão sugar sua energia até não restar nada... - E com um sonoro " Puff " ele se calou.

Com a manga da camisa cinza, James limpou o canto de seus lábios e voltou a se arrastar até a parede, enjoado demais para comer qualquer coisa. James não sabia o que tinha feito de errado, nem porque ainda continuava ali preso sem nenhum advogado do Distrito Superior para lhe defender, como era de se esperar para alguém com " contatos " do outro lado. Mas agora estava por conta própria, e sabia que se continuasse assim não duraria muito tempo.

- Me ensine ! - James gritou, sentindo seu pulmão arder. - Me mostre seus ideais revolucionários, me transforme num terrorista como você !

- Não é deboche, certo ? - Os olhos azuis gélidos voltaram a aparecer na janela, seguidos por uma gargalhada. - Porque sabe que estamos ambos na merda ? Vamos morrer juntos.

- É claro que é um deboche. - James sorriu de canto, apreciando a bela vista azulada. - Seus ideais de merda nos jogaram aqui, se vou morrer, quero que saiba que o sangue está nas suas mãos...

- Certo, certo. - O garoto levantou suas mãos, agarrando nas grades. - Se eu conseguir te convencer que estou certo, vira para a Whisper comigo ? - Era uma proposta ardilosa, mas James era muito orgulhoso para não aceitar.

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