Ela Sempre Volta

Isabela

Já passava das 19 horas e eu nem havia terminado de me arrumar. Naquele día, quería estar especialmente bonita. Passei a semana toda planejando as vestes e na hora desisti, como uma libriana nata, demorei mais uns 40 minutos até decidir por uma regata branca, uma calça verde e um salto. Meu cabelo já é um pouco bagunçado, longo, liso mas eu forçava umas ondas.

Estava atrasada para uma reunião com uma produtora,  ela se mostrou muito interessada no meu trabalho e eu não quería dispensar oportunidades, a vida de música não é tão simples,  mas eu tinha muito reconhecimento na minha cidade, 24 anos de puro talento, modestia à parte. Bom...Não é bem um contrato, ela vai me dar um "curso" e colocar para abrir alguns shows de bandas mais famosas.

Peguei o carro, um Nissan vermelho e me dirigí ao estúdio.

....................................................................

Quando passei pela porta, senti todos os olhares voltados a mim, inclusive o de Amanda, meu sangue gelou quando a mesma me fitou, mas a ignorei e voltei o olhar para Patrícia.

- Que bom que nos deu a honra de sua presença Isabela. - A representante estava bem séria . Eu realmente estava atrasada.

- Desculpe. - Disse e senti meu rosto corar.

- Bom... Estava separando as duplas para me apresentarem um trabalho... - Ela dizia mas a interrompi.

- Não vamos nos apresentar sozinhas? - Disse aparentando surpresa.

- A princesa além de chegar atrasada quer exclusividade? - Indagou com deboche uma menina sentada a minha frente.  A fuzilei com os olhos.

Na sala devia ter umas 6 pessoas. De todas as meninas talentosas da cidade, Amanda tinha que está dentre elas?

- Amanda, não causaremos tumulto. - A mulher que comandava a reunião a olha repreendendo.

Amanda... A roqueira do bar.
Eu já conhecia Amanda há muito tempo, fomos praticamente criadas juntas, compartilhamos até muito mais do que brinquedos,  ela foi literalmente meu primeiro amor. Estava sempre com aquele jeito largado, aquela cara maliciosa que me despertava uma raiva só de olhar, sabe aquela sensação de "isso não vai dar certo"? - Como eu já havia explicado, quero apenas um teste, quero que toque com uma das meninas, Isabela. Me surpreenda. - Diz com o olhar direcionado a mim dessa vez.

- Tudo bem,  não irá se arrepender, Patrícia . - Se dependesse só de mim...

- Bom... Laura e Ana, Noelia e Lauane, Isabela e Amanda e Vitória e Karol. - Disse Patrícia mexendo em uns papeis.

Claro que eu estarei com Amanda, qual a probabilidade? Existe castigo pior?

- Boa noite garotas, até día 12/11. - Disse Patrícia se despedindo. Ela havia nos dado um mês .

A menina que parece se chamar Vitória corre em direção a Amanda e diz:
-vai ganhar uma aprovação de aniversario. - Ela olha com feições discontraídas.

Elas parecíam bem próximas mas não reparei nisso, minha cabeça só pensava "dio santo! Essa escorpiana..." sim, tem castigo pior.

Na saída estava entrando no carro quando vi Amanda já sozinha, brigando com a moto e parecía estar perdendo. Me aproximei.

- Oi, quer carona? Eu oferecería ajuda mas não entendo nada de mecânica. - Disse tentando ser simpática.

- Não,  eu me viro. - Ela respondeu de forma hostil. Garota insuportável!

- Tudo bem,  estarei aqui te esperando desistir, quando for nocauteada,  vai ceder a carona. - Continuei com o sorriso no rosto e simpatía na voz.

- Ta, okay. - Ela entrou no carro mas com a cara virada para a janela.

- Sem seu endereço acho que terei que te levar pra minha casa. - Disse sorrindo. Ela pareceu se assustar com a brincadeira e me olhou com a testa franzida.

- O que? Deixa de bobeira, isa, me leva para casa da minha mãe . - Ela voltou a olhar pela janela.

A mãe de Amanda mora no apartamento em cima do meu, na época que namorávamos, eu vivía lá, ainda vivo, pois agora namoro o irmão dela, mas desde que paramos de nos falar, ela evita o máximo estar por lá.

Ela estava de jaqueta preta, uma blusa de banda,  acho que era Guns n roses e uma calça rasgada. Ela passou a mão no cabelo que era em um castanho quase loiro, bem liso e jogou ele para trás da orelha. Ela me olhou outra vez e me sentí constrangida por estar fitando- a.
Ela é uma mulher linda, porém insuportável! Como lidar?

- Vai sair com o carro ou ficar me olhando? - Ela disse grossa, porém percebi que estava envergonhada.

O silencio reinou no carro durante toda a viagem. Até que estacionei na garagem do prédio. Ela saiu rápido e tocou o botão do elevador várias vezes. Eu ri, ela faz isso desde criança.

- Sinto sua falta. - Eu disse sem nem pensar. - Éramos grandes amigas. - Tentei corrigir a besteira que falei mas ela fingiu nem escutar.

Chegando em meu andar, voltei a olha-la.

- Vamos marcar os treinos. - Eu disse tentando ser profissional.

- Faço tudo sozinha depois você só aprende a letra. Você é boa, eu sei. Não precisamos ter contato. - Sua voz sai seca, sem nenhuma emoção.

A porta do elevador fechou e nem pude contestar.