Mácula

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De pé!" - ele dizia... De pé, sentada, ajoelhada, deitada, viva, morta, morta, viva, calada.
Ele mandava.
Ela se movia. Sentia.
O fim não vinha, vinha e ia, ia e vinha, entrava e saia, doía.
Seu corpo bailava ao som da atroz canção, mas sua mente buscava outros espaços, outros passos, outros pés, pernas, outros braços.
"De pé!" - ele gritava... De pé, sentada, ajoelhada, deitada, viva, morta, morta, viva, falada.
Falada!
"Não..." – um esganiçado arquejo rompeu-lhe pela garganta. E antes que a língua traidora se contorcesse em um novo lamurio, um ímpeto de fúria sufocou lhe a voz, machucou lhe a carne, umedeceu lhe a face, não importava. Era só um pouco mais de sangue saindo de outro orifício qualquer.
Ela já não se movia. Não sentia.
Jazia ali usada, massacrada. Ele a olhou e viu o que realmente era. O que fizera. Depois de atacada, repugnada.
Ele a arrastou pelos cabelos e atirada ao corredor deixou-se cair nua e desajeitada.
Estava ali, até a morte parecia zombar dela, dançando hediondamente em volta de seu corpo dilacerado. A vergonha era como um verme que se arrastava pelo couro nu.
A humilhação tomou-lhe as partes despedaçadas e a levou para onde todos os demônios são bem vindos, para chorar para sempre a dor de não ser mais um inocente.

O REVELADOOnde histórias criam vida. Descubra agora