Parte 3 - O estranho

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Ao abrir os olhos o escuro se tornou claro e o claro revelou um ventilador de teto que girava e soprava uma brisa agradável no rosto. Junto com a consciência que despertava, também despertavam dores insuportáveis. Ao lado da cama estava uma mesinha com gazes, esparadrapos, álcool, luvas descartáveis, analgésicos e outros materiais. Seu corpo tinha muitos curativos e ele usava um colar cervical. Sua cabeça doía bastante.

Ouvia-se um barulho de água caindo. O som vinha de uma porta entreaberta do outro lado do cômodo, de onde também saía um vapor de água quente e uma musica – um tanto abafada pelos estalos das várias gotas de água do chuveiro ao se chocarem contra o piso.

 Alguém tomava banho e curtia um som no auto-falante do celular enquanto cantarolava baixinho. Com muita dificuldade, ele levantou devagar, arrancou o colar cervical e começou a caminhar vagarosamente em direção à porta. Estava ansioso para saber quem estava no banheiro e saber onde ele se encontrava. Sua cabeça estava muito confusa e mal se lembrava seu próprio nome. “Por que estou aqui?” “Que lugar é este?” “Por que estou machucado?” Estas eram algumas das perguntas que se repetiam em sua mente.

A meio caminho da porta do banheiro, ouviu-se o gemido agudo da válvula de ferro do chuveiro se fechar e o trilho da cortina de plástico de correr. Ele se desequilibrou, nervoso, e quase caiu. Quem tomava banho, saía do banheiro com a toalha em volta da cintura.

 - O que você está fazendo? Não! - dizia a figura desconhecida – Volta pra cama, você precisa se recuperar antes de sair passeando por aí.

 O rapaz dizia estas falas de uma maneira firme e ao mesmo tempo, carinhosa. Se aproximava do moribundo a fim de segurá-lo, pois o mesmo sequer conseguia manter o equilíbrio. Este estava totalmente vulnerável e via o jovem se aproximar dele com compaixão no olhar, como se já o conhecesse e houvesse cuidado dele por muito tempo. O cabelo molhado do rapaz ainda desconhecido pendia sobre os olhos. O corpo era bem desenhado com a pele clara e músculos, não tão tonificados, porém definidos. Não tinha pelos – exceto nas pernas e nos braços. Ele exalava um cheiro gostoso de banho recém-tomado e seus olhos claros e hipnotizantes, eram a cereja no topo do sundae. Ele segurou o moribundo bor baixo dos braços e o colocou de volta na cama. Seu corpo úmido estava bem próximo ao corpo do ferido e sua respiração quente causava nele um certo desconforto.

 - Olha, vamos combinar o seguinte: você vai ficar deitadinho aí e não vai sair para lugar nenhum até que esteja em melhores condições, combinado? - dizia o dono da casa, sentado na cama, ajeitando o lençol sobre seu hóspede.

 E o hóspede consentiu, balançando positivamente a cabeça. Ele sentiu vontade de perguntar ao dono da casa todas as questões que lhe torturavam a mente mas preferiu esperar até que se lembrasse de algo ou que descobrisse sozinho como, por que e onde estava.

 - Deixa eu só colocar uma roupa e vou trazer alguma coisa para você comer. - disse o dono da casa.

 Ele caminhou até o armário e pegou uma cueca. De costas para a cama, vestia-a por baixo da toalha para não ficar nu em frente à “visita”. Logo, pegou uma bermuda simples e removeu a toalha. Seu hóspede o observava enquanto se vestia. A justa cueca azul claro remetia-o a uma personalidade serena, tímida e carinhosa. Ele olhou para trás para certificar-se de que não estava sendo observado. Seu hóspede desviou os olhos rapidamente, fingindo olhar a janela.

Ele vestiu a bermuda e uma camiseta de manga, cinza.

 - Escuta, qual é mesmo o teu nome, hein?

 Depois de dez segundos o moribundo respondeu:

 - Renato! - disse baixinho o próprio nome com um tom de surpresa, como se houvesse acabado de descobri-lo.

 - OK, Renato. Deixa eu ver o que tenho na cozinha para você. Está com pouca ou muita fome?

Amado OfensorOnde histórias criam vida. Descubra agora