Parte 5 - O sabor daqueles lábios

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Os rapazes olham uns para os outros, sem ação. Ráisa começa a atravessar a rua com passos firmes e punhos cerrados em direção à mesa de Renato.”

Alê observa a figura estranha que se aproxima. Ela fica um tanto desconfiada e companha Ráisa com os olhos enquanto dá um gole em seu copo de cerveja. Ráisa passa direto pela mesa. Ela nota que está sendo observada e segue em direção ao balcão do restaurante. Logo em seguida, os três rapazes carecas a seguem e se juntam a ela. Eles pedem uma cerveja e ficam em silêncio por alguns instantes. Ráisa parecia impaciente: tremia compulsivamente a perna direita e dava longas tragadas em seu cigarro. Os clientes das outras mesas olhavam para o grupo com bastante desconfiança. Eles não pareciam normais. Seus rostos tinham expressões inquietas, como se não estivessem ali a fim de descontração. Pareciam estar esperando alguém ou prontos, aguardando o momento certo para anunciar um assalto.

 – Que gente esquisita! – Disse Rebeca.

 – É... Parece um pessoal meio estranho, mesmo. Vamos ficar de olho aberto – disse Ronaldo.

 – Nada haver, gente. Isso é preconceito de vocês. Eles estão ali, quetinhos, bebendo a cervejinhas deles sem incomodar a ninguém. Vocês é que estão de bobagem. – disse Marcela, a namorada de Alê.

 – É mesmo, gente. Deixa eles – concordou Fausto. – Agora... que eles são esquisitos, isso eles são. Dá medo, ui!

 – O que você acha, Tom? – Perguntou Alê.

 Tom estava pensativo e bastante distraído. Não ouviu a pergunta que Alê o fez. Olhava para o nada com uma cara de preocupado.

 – Tom? Tom?

 Alê chamava até que Renato estalou os dedos em frente ao rosto de Tom – para despertá-lo. Tom ergue as sobrancelhas e volta a atenção ao grupo.

 – Pelo visto o mundo da lua não fica tão longe, hein! – Brinca Ronaldo.

 – Desculpa gente eu... eu viajei mesmo. – Diz Tom, bastante encabulado.

 – Está tudo bem, Tom? Você ficou estranho de repente.

 – Não é nada, Alê. Acho que já estou cansado, pronto para ir para casa.

 – Bom, pessoal. Estou com o Tom nessa. Já está tarde e eu preciso estar bem cedo no escritório amanhã. – Disse Marcela.

 Eles pediram a contra e se preparavam para ir embora. A noite havia sido muito divertida. Eles conversaram, descontraíram, riram, trocaram informação e experiências, contaram casos, acontecidos e aventuras. Foi, de fato, um ótimo programa entre amigos. Fausto saiu de carona com Rebeca e Ronaldo. Tom e Renato entraram no carro de Marcela – ela os daria uma carona para casa. Tom morava no bairro Jacaré e ficava em uma quitinete que pertencia a sua mãe. Ele tinha vontade de se mudar de lá mas suas condições financeiras o forçavam a esperar mais um pouco até poder comprar uma nova casa. Antes do carro partir, Renato pediu que Marcela esperasse uns cinco minutos. Ele precisava descer e ir ao banheiro.

Ráisa e seu grupo ainda estavam no balcão do restaurante. Em outra situação, eles estariam espreitando a turma de Tom para, quando eles saíssem, fossem perseguidos e maltratados. Mas desta vez, tentavam somente descobrir se era aquele o seu antigo líder de gangue, entre aquelas pessoas.

Renato passou pelo grupo e entrou no banheiro masculino. Celta, um dos integrantes da gangue, o seguiu. Dentro do banheiro, Renato urinava em um mictório. Celta parou do seu lado como se também fosse urinar, olhou para Renato e constatou que aquele era, de fato, quem seu grupo procurava.

 – Quanto tempo, hein, cara! – com um pouco de ironia na voz – Depois de tanto tempo longe, a gente se encontra aqui, mijando juntos.

 Renato se mantem calado e não olha para Celta. Sendo Cabo Frio uma cidade pequena, encontrar pessoas conhecidas seria algo quase inevitável e Renato entendia isso. Porém, Celta parecia ser um tipo de pessoa que ele não gostaria de conhecer.

Amado OfensorOnde histórias criam vida. Descubra agora