4. Crush 👄

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Domingo a noite

Na periferia de São Paulo tudo pode acontecer, a vida no subúrbio não é tão ordinária quanto aparenta ser, uma coisa é certa, cada um tem seu meio grotesco de fugir da realidade, e se divertir, mesmo que seja se drogando.

A minha droga é a cerveja, não sei o que acontece comigo mas quanto mais o tempo passa mais eu gosto de ingeri-la, e eu precisava muito dela hoje, tanto que já perdi a conta de quantas long neck bebi.

Eu estava ali.

Sentada numa cadeira qualquer, de um boteco qualquer, bebendo uma cerveja qualquer, com um petisco que atrasou uma hora antes de chegar em minha mesa, uma banda de suingue estranha tocando de fundo, e um cachorro caramelo me encarando com seblante de abandonado, esperando que eu jogasse um pedaço de carne.

De longe, ele era o ser que eu mais me identificava naquele lugar, rodeado de pessoas e ainda assim estava sozinho, oh pobre, talvez eu devesse levá-lo para casa.

Bom... Se ele me seguir, eu prometo que será meu.

Com a caneta vermelha apontada para meu diário, eu ainda visualizava o sangue vermelho vibrante naquele chão, mas não me agradava o que tinha sido escrito nele, e muito menos a ideia de que alguém um dia pudesse ler, mas ali estava escrito toda a verdade que um dia precisaria ser dita.

Todas as outras pessoas estavam ali por estar felizes demais, ou tristes demais, ou sem nada útil para fazer, e o ambiente cheirava a cigarros baratos, cachaças e carne assando.

Eu me perguntava, como Duda conseguia trabalhar naquele lugar, talvez por que não tinha aparecido algo melhor ainda.

Os diálogos entre homens e mulheres, iam dos mais monótonos, até os mais obscenos e maliciosos, como um senhor de idade, que pagava bebidas para duas jovens com decotes chamativos.

Ele provavelmente pensava, que levará uma delas para sua cama hoje, mas na cadeia alimentar da periferia, ele é apenas uma barata, prestes a ser devorado por duas catitas veteranas, que conhecem com as palmas da mão o território onde pisam.

- Caraca Luiza, quem você matou ? - A voz da minha amiga, Duda, me acordou de um devaneio para um surto psicológico.

- O que ? Mas, como, você, sa... como é?

Ela sabia de tudo, eu estou fodida, se ela sabe todos já sabem, droga por que fui confiar no maldido Silvano? FBI, a policia, provavelmente estavam a caminho atrás de mim nesse exato momento cercando todo este lugar, eu devo começar pensar em como vou sobreviver na prisão...

- É... Por que você está acabada! - Continuou a dizer retirando seu avental e se juntando a minha pequena mesa madeirada.

- Já sei, foi despedida do trabalho ?
- Duda palpitou enquanto sentava na cadeira em minha frente, e eu pude relaxar meus cenhos e soltar o ar que havia prendido.

- Pra está bebendo desse jeito, e sozinha, sua vida só pode está uma merda!

Ok, as vezes Duda é um pouco sincera demais.

- Não é nada disso Duda, eu precisava relaxar.
--- E eu não estou só, lembra que a gente tinha combinado hoje de se encontrar ?
- Eu só estava esperando seu turno acabar...

- Luiza ? Olha a sua volta todos esses homens doidos para te pagar um chope.

Olhei em volta e notei que alguns homens me olhavam.

- Eu trabalho pra pagar meu próprio chope Duda!

- Okay senhorita chatice, tinha esquecido que você só tem olhos para sua patroa !

O Diário De Uma Faxineira Killer #ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora