CAPÍTULO 4 DESCUBRO QUE NÃO SÔ HUMANO

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Num entendi porque as pessoas do outro lado da rua continuaram andando normalmente sem nem desviá o olhá, como se num tivessem visto nada disso. Aparentemente dar um pulo incrível e atravessá uma pista movimentada inteira era algo bem comum.

– Eita porra – gritei, caído no chão. Foi a melhó reação que pude tê, já que parecia que eu tava em uma espécie de filme de ação. Ou terrô.

O homem possuía em cada braço, um punhal negro, pontiagudo e longo. Mas estes num tinham simplesmente surgido, como a lâmina de Iara. Haviam saído de seus próprios braços, de sua própria carne e se localizavam debaixo de suas mãos, como dois ferrões. Iara lutô com o homem, que era muito maió que ela. Ela movia os pés e a peixeira como se dançasse. O inimigo usava seus dois ferrões como peixeiras e estes rivalizavam com a lâmina de Iara. Quando a luta começô, pessoas que passavam do outro lado da pista pararam para observá. Elas apontavam os dedos e algumas conversavam entre si, mas pareciam num entendê nada. Algumas até... Porra, FILMAVAM!!!

– Vou matar você garotinha – disse o homem. – E depois vou levar este ai – disse olhando pra mim, que ainda estava no chão.

– Só pode estar louco de atacar um beneloim, foicer maldito – Iara xingô, se colocando entre mim e o homem, embora num parecesse tão ameaçadora, já que tinha que olhá pra cima pra falá com ele. – Vá embora e então pouparei sua vida.

O homem gargalhô.

– Uma beneloina que não aprendeu nem a lampejar pode fazer estas ameaças? – perguntô o homem e em seguida deu mais uma gargalhada. – Você é da pirâmide da água! Sei que este aqui não é seu melhor ambiente de luta.

– Como sabe sobre mim? – perguntô Iara, pega de surpresa.

– Não é você que importa aqui – disse ele olhando pra mim. – Vim atrás dele.

– Eu? – perguntei me levantando. Sequestradores agora pulavam grandes distancias e possuíam facas que saiam da própria carne? – Nada contra, cara, mas cê num faz meu tipo não.

Com esta resposta, seus ferrões entraram nos seus braços novamente.

– Estou decepcionado – começô ele. – Você não parece nada ameaçador. Parece mais um toco de amarrar jegue... Mas mesmo assim minhas ordens são para leva-lo. Mas não disseram que você precisaria estar inteiro.

O homem respirô fundo e fez menção de gritar, mas o que saiu de sua boca foi fogo. Claro, sequestradores agora também cospem fogo, óbvio. Iara deu um grande pulo pra frente, passando por cima da rajada de fogo e indo em direção ao homem. Mas minha reação foi mais lesada. Pulei pro lado que nem um retardado gritando "aaaaaaaaa", mas um pôco de fogo ainda pegô em minhas pernas. Iara mais uma vez lutava com o brutamonte, enquanto eu estava na patética tentativa de apagá o fogo de minha calça a sopradas. Mas então, percebi que o fogo não me queimava. Por um instante me senti leve e energético. Senti vontade de lutá. O fogo já estava quase chegando em minha camisa quando desisti de apagá-lo. Em vez disto, me levantei. Olhei pros dois lutando. O calô me cobria guando comecei a corrê. Pulei gritando "iiiiiiiiiiiiaaaaaa" e dei um grande chute no rosto do homem. Este foi arremessado em direção a pista, colidindo com os carros que trafegavam, resultando em um "acidente" em cadeia. As pessoas do outro lado da pista começaram a corrê desesperadas. Parece que só agora perceberam que estavam em perigo. Mas pelo que entendi, elas achavam que eu e Iara é que éramos o perigo, pois fui eu que joguei o homem no meio da pista. Já podia até vê nos noticiários "homem cuspidor de fogo é arremedado em pista movimentada por duende doido".

– Ele vai ficá bem? – perguntei.

– Você deveria estar mais preocupado com as outras pessoas feridas dentro dos carros – respondeu Iara.

– Valha... E você deveria esta preocupada comigo, que estou pegando fogo – respondi.

– Não ta mais – disse Iara e era verdade, mas minha pele ainda tava quente, como se tivesse absorvido o fogo. E minhas rôpas estavam intactas. – Você é da pirâmide do fogo, Davi. Por isto o fogo não lhe afeta.

– Essa é mais uma daquelas suas historias de contos de fada? – perguntei.

– Conto de fadas é você estar vivo depois de ter o corpo coberto de fogo – respondeu ela.

– Eu ainda estou vivo, seus merdas – gritô o brutamonte, putasso da vida, saindo no meio dos carros. – Mudei de idéia. Acho que irei matar vocês dois.

Então mais uma vez ele respirou fundo. Mas em vês de fogo, o que saiu foi um grande grito. Na verdade eram muitos gritos ao mesmo tempo, com diferentes vozes e tonalidades, semelhante a gritos de desespero e dor, mas que saiam de uma única boca. Os vidros dos carros quebraram e tanto eu como Iara, caímos no chão, tampando os ouvidos, sentido uma dô incontrolável. Pessoas que tentavam saí dos carros também caíram no chão tampando os ôvidos.

O brutamonte fechô a boca e os gritos pararam. Ele se aproximô lentamente, mostrando os ferroes que saiam de seus braços. Já estava bem a nossa frente. Pude vê as varias fileiras de dentes pontiagudos como os de um tubarão. Meus ouvidos ainda doíam.

– É o fim para vocês, seus... – mas ele nunca completô esta frase. De trás de nosso atacante surgiu outro homem, que com sua peixeira, decepô a cabeça do brutamonte. O homem já com a cabeça cortada ainda teve tempo de fazê uma careta e praguejar "droga" antes do corpo explodir no que parecia ser... Purpurina?

O decepadô possuía cabelos curtos e ruivos. Seus olhos eram negros e profundos. Nos lábios, antigas cicatrizes que os deixavam desfigurados. Ele se agachô pra ficá da nossa altura e então tirô algo do bolso. Sua arma havia sumido. Ele era Alisson Macunaíma, o pai de Iara.

– Para gritos de lamuria e desespero, chocolate é a resposta – disse ele oferecendo pra mim e sua filha um pedaço de chocolate.

– Obrigado, papai – agradeceu ela.

Depois de comê o chocolate, rapidamente senti meus ôvidos melhorarem. Mas meu celebro num melhorô não. Objetos sendo invocados do nada, homens cuspindo fogo, conhecidos virando heróis de quadrinhos e pessoas filmando e rindo da desgraça alheia. Nada daquilo era racional

– Obrigado – respondi. – Agora que num tem ninguém tentando me matá, acho que podem me explicá o que tá acontecendo?

Iara e seu pai se olharam por um tempo. Pareciam tentá trocar pensamentos. E em seguida olharam pra mim.

– Você é como eu... – começô Alisson. – Como Iara e como sua tia Anastácia. Acho que este é o momento certo para seu mundo se transformar nos contos de fadas que Anastácia lhe contava. Você é um guerreiro divino, um beneloim. 

O CHAMADO DO CARCARÁOnde histórias criam vida. Descubra agora