Amar ou Odiar meu Chefe

Capítulo 1

Escuto pequenos sons, abro meus olhos com muito esforço, tateio a cama com minhas mãos até pegar meu celular debaixo do travesseiro. São exatamente três horas da manhã, olho para a minha pequena colega de quarto e vejo que ela está com dificuldades na respiração. Ela começa a tossir, quando estou me levantando para ir atrás do aparelho, a porta se abre.

- Ouvi alguns barulhos, está tudo bem? - Minha amiga Jessica pergunta.

- Sim, é o de sempre. - Passo a mão no rosto tentando livrar o sono. - Respiração pesada.

Ela pega o aparelho e vai até a cama. - Pode dormir, eu cuido dela. - Pela luz que entra da porta, consigo ver seu sorriso. - Você tem uma entrevista amanhã, dorme na minha cama.

Concordo, e vou para o quarto do lado. Se eu não tivesse essa entrevista, não iria fazer isso, mas não tenho escolhas. A empresa que estou indo fazer entrevista é de grande porte, não posso aparecer com o rosto amassado.

Deito-me na cama, e consigo ouvir as duas conversando, não sei o que seria de mim, sem a Jessica. Conheci ela a três anos, quando tudo começou...

.. Dentro do quarto escuto os copos quebrando, os gritos da minha mãe, o choro abafado do meu pai. Olho paga o meu lado e Melissa está com os olhos assustados, os bracinhos pequenos e frágeis me apertando.

- Calma, está tudo bem. - Tento dar um sorriso esperançoso.- Não precisa ter medo.- Olho para o lado tentando achar alguma coisa para aliviar o estresse, consigo ver os pezinhos do urso preferido dela debaixo do armário.- Vamos brincar? - Ela balança a cabeça confirmando.

Depois de algum tempo, minha mãe dá mais um grito e a porta se fecha com força, escuto meu pai gritando o nome dela de longe e tudo fica calado depois. Melissa está ocupada demais para entender o que está acontecendo, mas eu sei.

Foi ali, naquele momento que tudo mudou, e não foi para o melhor.

***

- Camila Boner? - Saio dos meus pensamentos, e olho para a mulher que está na minha frente.

- Sou eu. - Dou o sorriso mais sincero que eu consigo.

- Me acompanhe. - Aponta para uma porta no final do corredor.

Andamos pelo corredor em silêncio, olho ao meu redor e muitas salas, pessoas tomando café em umas, trabalhando em outras. Ela abre a porta e me espera entrar, escuto a porta se fechando atrás de mim, e ela surgindo ao meu lado e apontando para a cadeira que está na minha frente.

- Pode sentar-se. - Me sento, e ela se senta em minha frente. - Meu nome é Fátima, e vamos fazer a sua primeira entrevista e se você passar, fará com o Scott Dever.

- Tudo bem. - Sorrio. Meu corpo se arrepiou. Olho para a janela, deve ser frio.

Passaram alguns minutos, a entrevista foi muito boa, mas ela é sempre boa, não é mesmo?

Retorno para a sala onde eu estava, e vejo outra pessoa indo fazer a entrevista. Tem em torno de umas sete pessoas aqui, meu Jesus, eu preciso desse emprego. Preciso pagar o tratamento da Mel...

...Faz uma semana que a Melissa está tossindo, só que dessa vez saiu sangue. Meu coração quase saiu da boca quando vi a quantidade de sangue na mão dela, peguei ela no colo e vou em direção a porta, preciso chegar no hospital logo.

Ligo para o meu pai e como sempre, ele não atendeu. Desde que minha mãe saiu de casa e nos abandonou que ele anda assim, distante, saindo de casa e volta três, ou até mesmo quatro dias depois.

Pegou o ônibus, o hospital é a cinco ponto daqui. Melissa tosse de novo e sai mais sangue, olho para a janela e vejo o hospital, aperto o botão e espero o ônibus parar, o que não demora. Saio correndo e entro no hospital, gritando.