- Maria, sua pequena bruxinha, você pensa que vai escapar do banho? – Amelia gritou, andando pela casa, tentando pegar sua filha. Maria estava na beira de fazer quatro anos e a sua última travessura era não querer tomar banho. Aparentemente, ela achava que os banhos no chuveiro não eram tão divertidos quanto os banhos na banheira e se recusava a tomar banho a não ser que fosse na mesma. Amelia quase morria por dentro quando a filha falava isso, era a mesma coisa que Nate fazia quando Amelia o pegava com os dedos enrugados e um patinho de borracha na banheira da casa deles. Casa da qual Amelia se recusava até a chegar perto. – Maria, onde você está? – Amelia escutou a risada da filha, mas como a casa dos seus pais era grande e produzia ecos quase em todos os cômodos, era difícil saber da onde vinha. – Tudo bem, Maria, você venceu! – Amelia jogou as mão pro alto, se tomando por vencida. – Você pode tomar banho na banheira, agora pode sair da onde você está. – Amelia escutou a risada da sua filha vindo do lado de fora da casa. Ela andou em direção ao quintal quando viu sua filha saindo de dentro da casa de Sansão, o golden retriever que era braço direito de Maria nas suas traquinagens.
- Seu traidor! – Amelia disse, logo quando o cachorro se aproximou dela fazendo carinho nele. – Escondendo Maria atrás de você outra vez, eu já deveria saber a essa altura do campeonato. - Maria gargalhou alto e correu em direção à mãe, a abraçando pelas pernas.
- Eu posso mesmo tomar banho na banheira, mamãe? – Ela disse, olhando pra mãe. Todas as vezes que Maria olhava pra Amelia, pedindo alguma coisa, com aqueles olhos que lembravam tanto os de Nate, a garota se derretia toda.
- Claro que sim. – Amelia olhou para filha, a abraçando forte. - Só porque é o mês do seu aniversário, mocinha, depois desse mês você vai começa a tomar banho no chuveiro.
- Palavra de escoteiro. – Maria respondeu, levantando a mão.
- Você não sabe nem o que é ser escoteiro, Maria. - Amelia riu da sua filha, segurando sua mão e a guiando em direção ao banheiro.
- Mas o vovô era, então eu também sou.
- Então tá certo, se você diz. – Maria começou a tirar todas as suas roupas enquanto Amelia enchia a banheira, a menina andou em direção a pequena caixa que Amelia deixava perto da banheira e pegou o seu brinquedo favorito: o patinho de borracha de Nate. Amelia deveria já ter se acostumado com a ideia, mas a cada dia que passava, ela ficava ainda mais surpresa pelo fato de que Maria ficava mais parecida com o pai.
Amelia ajudou Maria tomar banho e como de costume deixou a filha um pouco na banheira para que ela brincasse até os seus dedos ficarem enrugados.
- Amelia? – As duas viraram a cabeça pra porta, dando de cara com Rick, o pai de Amelia, e Camilo, o pai de Nate.
- Oi, vovôs. – Maria disse, acenando pros dois.
- Olá, querida. – Os dois responderam ao mesmo tempo o que fez o seu coração dar um pulo. Desde o primeiro dia que Maria conheceu Camilo, ela insistia em chama-lo de vovô, as vezes a garota achava que sua filha tinha um sexto sentido e sabia de tudo que ela tentava lhe esconder.
- Você pode vir aqui pra nós conversamos, Amelia? – A garota sabia muito bem do que essa conversa se tratava, mas preferiu ignorar e disse:
- Não posso deixar Maria sozinha na banheira.
- Por isso que Mia está aqui. – A babá de Maria, que Amelia tinha dado folga, entrou no banheiro. Fudeu! Agora não tem como eu fingir que não posso ir pra corrida de Nate. Amelia pensou, se levantando. – Vamos, Amelia, você sabe do que isso se trata. Estamos te esperando lá fora.
Amelia se deu por vencida, deu um beijo no topo da cabeça da filha, e começou a seguir os dois. O plano que ela tinha armado de dispensar a babá e passar o resto do dia com sua filha ignorando o fato de hoje seria a primeira corrida de Nate desde que ele voltou a treinar, tinha afundando mais rápido do que o Titanic.
- Eu não vou. – Foi a primeira coisa que a garota disse quando parou na frente dos dois no corredor.
- Amelia, Nate gostaria que você estivesse na primeira corrida dele de volta. – Camilo disse, cruzando os braços.
- Mas ai é que está, Camilo, Nate não faz ideia de que eu existo.
- Isso não é completamente verdade e você sabe disso. Você é o amor da vida dele, Amelia, dentro daquela cabeça dura dele, ele sabe que ama você.
- Só porque ele deu em cima de mim no casamento da Sofia, não quer dizer que ele saiba que eu sou esposa dele, muito menos que ele me ama.
- Por que você está sendo tão resistente a contar a verdade pro Nate? – Seu pai perguntou. – Primeiro, você se recusa a contar a verdade pra ele, se privando de ver o cara que você ama, seu próprio marido, até sua filha e agora deu pra ignorar que Nate até existe. Você não ama mais ele, é isso?
Se Amelia estivesse em um desenho animado, você poderia ver que sua cara estava vermelha de ódio e fumaça saindo dos seus ouvidos. Como é que seu pai tinha a audácia de dizer que ela não amava Nate, quando ele é a primeira coisa que ela pensa quando acorda e a última quando ela vai dormir?
- Como você se atreve, ou melhor, vocês dois se atrevem a questionar o amor que eu sinto por Nate?! Eu amo aquele homem mais do que é permitido pra um ser humano e passar um ano longe dele foi uma das piores torturas da minha vida, muito mais do que qualquer tortura que a cobra da sua mulher me fez passar. – Ela apontou pra Camilo e continuou: - E é por esse amor que eu não conto a verdade pra ele, porque eu o amo demais pra exigir que ele viva uma vida da qual ele não mais se lembra que teve, sem falar na nossa filha, o maior presente que eu já tive na minha vida, vocês já pararam pra pensar na Maria nessa história toda? Você sabe o quanto iria machuca-la o fato do pai dela nem ao menos lembrar que ela existe? Vai machuca-la e eu prefiro mil vezes sofrer do que machucar qualquer um deles.
Amelia estava ofegante quando terminou, mas o que ela mais achou estranho foi que tanto o seu pai quanto o seu sogro estavam sorrindo, eles estavam armando pra saber o que ela estava sentindo, já que ela recusava a dizer qualquer coisa, e ela tinha caído com um patinho.
- Vocês dois armaram pra mim. – Ela disse, chocada. – Vocês armaram pra eu dizer o que eu sinto e eu caí como um patinho.
- Você não nos deu escolha, minha filha, uma das coisas que você conseguiu herdar da sua mãe foi o poder de esconder o que sente.
- Existe uma razão pra isso, sabia?!
- Autopreservação, eu sei disso. – Rick andou em direção a sua filha, e a abraçou de lado. – Nós vimos como você estava no casamento de Sofia depois do seu encontro com Nate e, francamente, Amelia você estava acabada. Ainda está. Eu sei que você não quer contar a verdade pra ele, mas acha que esse plano de ficar o mais longe possível, está dando certo?
- É a melhor solução. – Amelia resmungou.
- Pra quem? – Camilo perguntou fazendo com que ela olhasse pra ele. – Pra Constance, que finalmente conseguiu separar vocês dois? Você acha mesmo que Nate ia querer que você não lutasse por ele e cedesse às chantagens da mãe dele?
- Ficar perto ou longe de Nate vai me machucar do mesmo jeito, pra falar verdade, ficar perto machuca mais porque eu não posso ficar com ele. – Amelia limpou as lágrimas, olhando pros dois. – Vocês sabem o quanto dói saber que eu não posso toca-lo? Que eu não posso confessar todo o meu amor por ele? Que eu não posso ter a minha família reunida e feliz?
- Nós só queríamos ajudar, filha, nós somos os maiores torcedores pra que Nate e você fiquem juntos. Achar amor nos filmes e livros é fácil, na vida real as coisas são diferentes, até mais difíceis, então quando a gente acha alguém que nos ama do mesmo jeito que nós sabemos que vocês se amam, vale a pena lutar por isso.
- Então vocês esperam que eu faça o que? Me jogue nos braços de Nate e declare todo o meu amor por ele?
- Não, Amelia, só não deixe Constance ganhar.
- Por que você insiste em dizer que sua ex-mulher tem alguma coisa a ver com isso?
- Porque eu sei que ela tem, mesmo você fingindo que não então a gente finge que acredita.
- Você sempre foi apaixonada por corridas, Amelia, lembra quando você costumava se vestir de piloto e acordava às oito da manhã pra que a gente pudesse ir pro autódromo?
- Mamãe ficava louca toda vez que eu dizia que iria ser piloto de corrida. – A garota riu, se afastando de seu pai. – Vocês dois podem esperar enquanto eu me arrumo?
- Nós estaremos lá embaixo.
Amelia deu um beijo na bochecha de cada um e correu de volta para o seu quarto. Talvez essa tática de ficar longe de Nate não estivesse dando certo, ou melhor, nunca deu certo pra falar a verdade. Ficar longe dele foi uma tortura durante um ano, se não fosse por Maria, Amelia teria perdido a cabeça. Vê-lo no casamento de Sofia fez com que todos os sentimentos que ela insistia em fingir que não existiam voltassem a superfície mais forte do que nunca. Talvez tivesse na hora de mudar de tática, e isso significava que ela conquistaria o seu marido de volta e ela sabia exatamente o que fazer e que roupas usar.
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Reminiscência
RomanceQuando Nate e Amelia se conheceram, as coisas não saíram do jeito que nenhum dos dois esperava. Ela nunca achou que se interessaria por um homem tão atrevido que não tinha papas nas línguas e não media esforço em ir atrás do que queria; e ele nunca...