Capítulo II

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- Maria, sua pequena bruxinha, você pensa que vai escapar do banho? – Amelia gritou, andando pela casa, tentando pegar sua filha. Maria estava na beira de fazer quatro anos e a sua última travessura era não querer tomar banho. Aparentemente, ela achava que os banhos no chuveiro não eram tão divertidos quanto os banhos na banheira e se recusava a tomar banho a não ser que fosse na mesma. Amelia quase morria por dentro quando a filha falava isso, era a mesma coisa que Nate fazia quando Amelia o pegava com os dedos enrugados e um patinho de borracha na banheira da casa deles. Casa da qual Amelia se recusava até a chegar perto. – Maria, onde você está? – Amelia escutou a risada da filha, mas como a casa dos seus pais era grande e produzia ecos quase em todos os cômodos, era difícil saber da onde vinha. – Tudo bem, Maria, você venceu! – Amelia jogou as mão pro alto, se tomando por vencida. – Você pode tomar banho na banheira, agora pode sair da onde você está. – Amelia escutou a risada da sua filha vindo do lado de fora da casa. Ela andou em direção ao quintal quando viu sua filha saindo de dentro da casa de Sansão, o golden retriever que era braço direito de Maria nas suas traquinagens.
- Seu traidor! – Amelia disse, logo quando o cachorro se aproximou dela fazendo carinho nele. – Escondendo Maria atrás de você outra vez, eu já deveria saber a essa altura do campeonato. - Maria gargalhou alto e correu em direção à mãe, a abraçando pelas pernas.
- Eu posso mesmo tomar banho na banheira, mamãe? – Ela disse, olhando pra mãe. Todas as vezes que Maria olhava pra Amelia, pedindo alguma coisa, com aqueles olhos que lembravam tanto os de Nate, a garota se derretia toda.
- Claro que sim. – Amelia olhou para filha, a abraçando forte. - Só porque é o mês do seu aniversário, mocinha, depois desse mês você vai começa a tomar banho no chuveiro.
- Palavra de escoteiro. – Maria respondeu, levantando a mão.
- Você não sabe nem o que é ser escoteiro, Maria. - Amelia riu da sua filha, segurando sua mão e a guiando em direção ao banheiro.
- Mas o vovô era, então eu também sou.
- Então tá certo, se você diz. – Maria começou a tirar todas as suas roupas enquanto Amelia enchia a banheira, a menina andou em direção a pequena caixa que Amelia deixava perto da banheira e pegou o seu brinquedo favorito: o patinho de borracha de Nate. Amelia deveria já ter se acostumado com a ideia, mas a cada dia que passava, ela ficava ainda mais surpresa pelo fato de que Maria ficava mais parecida com o pai.
Amelia ajudou Maria tomar banho e como de costume deixou a filha um pouco na banheira para que ela brincasse até os seus dedos ficarem enrugados.
- Amelia? – As duas viraram a cabeça pra porta, dando de cara com Rick, o pai de Amelia, e Camilo, o pai de Nate.
- Oi, vovôs. – Maria disse, acenando pros dois.
- Olá, querida. – Os dois responderam ao mesmo tempo o que fez o seu coração dar um pulo. Desde o primeiro dia que Maria conheceu Camilo, ela insistia em chama-lo de vovô, as vezes a garota achava que sua filha tinha um sexto sentido e sabia de tudo que ela tentava lhe esconder.
- Você pode vir aqui pra nós conversamos, Amelia? – A garota sabia muito bem do que essa conversa se tratava, mas preferiu ignorar e disse:
- Não posso deixar Maria sozinha na banheira.
- Por isso que Mia está aqui. – A babá de Maria, que Amelia tinha dado folga, entrou no banheiro. Fudeu! Agora não tem como eu fingir que não posso ir pra corrida de Nate. Amelia pensou, se levantando. – Vamos, Amelia, você sabe do que isso se trata. Estamos te esperando lá fora.
Amelia se deu por vencida, deu um beijo no topo da cabeça da filha, e começou a seguir os dois. O plano que ela tinha armado de dispensar a babá e passar o resto do dia com sua filha ignorando o fato de hoje seria a primeira corrida de Nate desde que ele voltou a treinar, tinha afundando mais rápido do que o Titanic.
- Eu não vou. – Foi a primeira coisa que a garota disse quando parou na frente dos dois no corredor.
- Amelia, Nate gostaria que você estivesse na primeira corrida dele de volta. – Camilo disse, cruzando os braços.
- Mas ai é que está, Camilo, Nate não faz ideia de que eu existo.
- Isso não é completamente verdade e você sabe disso. Você é o amor da vida dele, Amelia, dentro daquela cabeça dura dele, ele sabe que ama você.
- Só porque ele deu em cima de mim no casamento da Sofia, não quer dizer que ele saiba que eu sou esposa dele, muito menos que ele me ama.
- Por que você está sendo tão resistente a contar a verdade pro Nate? – Seu pai perguntou. – Primeiro, você se recusa a contar a verdade pra ele, se privando de ver o cara que você ama, seu próprio marido, até sua filha e agora deu pra ignorar que Nate até existe. Você não ama mais ele, é isso?
Se Amelia estivesse em um desenho animado, você poderia ver que sua cara estava vermelha de ódio e fumaça saindo dos seus ouvidos. Como é que seu pai tinha a audácia de dizer que ela não amava Nate, quando ele é a primeira coisa que ela pensa quando acorda e a última quando ela vai dormir?
- Como você se atreve, ou melhor, vocês dois se atrevem a questionar o amor que eu sinto por Nate?! Eu amo aquele homem mais do que é permitido pra um ser humano e passar um ano longe dele foi uma das piores torturas da minha vida, muito mais do que qualquer tortura que a cobra da sua mulher me fez passar. – Ela apontou pra Camilo e continuou: - E é por esse amor que eu não conto a verdade pra ele, porque eu o amo demais pra exigir que ele viva uma vida da qual ele não mais se lembra que teve, sem falar na nossa filha, o maior presente que eu já tive na minha vida, vocês já pararam pra pensar na Maria nessa história toda? Você sabe o quanto iria machuca-la o fato do pai dela nem ao menos lembrar que ela existe? Vai machuca-la e eu prefiro mil vezes sofrer do que machucar qualquer um deles.
Amelia estava ofegante quando terminou, mas o que ela mais achou estranho foi que tanto o seu pai quanto o seu sogro estavam sorrindo, eles estavam armando pra saber o que ela estava sentindo, já que ela recusava a dizer qualquer coisa, e ela tinha caído com um patinho.
- Vocês dois armaram pra mim. – Ela disse, chocada. – Vocês armaram pra eu dizer o que eu sinto e eu caí como um patinho.
- Você não nos deu escolha, minha filha, uma das coisas que você conseguiu herdar da sua mãe foi o poder de esconder o que sente.
- Existe uma razão pra isso, sabia?!
- Autopreservação, eu sei disso. – Rick andou em direção a sua filha, e a abraçou de lado. – Nós vimos como você estava no casamento de Sofia depois do seu encontro com Nate e, francamente, Amelia você estava acabada. Ainda está. Eu sei que você não quer contar a verdade pra ele, mas acha que esse plano de ficar o mais longe possível, está dando certo?
- É a melhor solução. – Amelia resmungou.
- Pra quem? – Camilo perguntou fazendo com que ela olhasse pra ele. – Pra Constance, que finalmente conseguiu separar vocês dois? Você acha mesmo que Nate ia querer que você não lutasse por ele e cedesse às chantagens da mãe dele?
- Ficar perto ou longe de Nate vai me machucar do mesmo jeito, pra falar verdade, ficar perto machuca mais porque eu não posso ficar com ele. – Amelia limpou as lágrimas, olhando pros dois. – Vocês sabem o quanto dói saber que eu não posso toca-lo? Que eu não posso confessar todo o meu amor por ele? Que eu não posso ter a minha família reunida e feliz?
- Nós só queríamos ajudar, filha, nós somos os maiores torcedores pra que Nate e você fiquem juntos. Achar amor nos filmes e livros é fácil, na vida real as coisas são diferentes, até mais difíceis, então quando a gente acha alguém que nos ama do mesmo jeito que nós sabemos que vocês se amam, vale a pena lutar por isso.
- Então vocês esperam que eu faça o que? Me jogue nos braços de Nate e declare todo o meu amor por ele?
- Não, Amelia, só não deixe Constance ganhar.
- Por que você insiste em dizer que sua ex-mulher tem alguma coisa a ver com isso?
- Porque eu sei que ela tem, mesmo você fingindo que não então a gente finge que acredita.
- Você sempre foi apaixonada por corridas, Amelia, lembra quando você costumava se vestir de piloto e acordava às oito da manhã pra que a gente pudesse ir pro autódromo?
- Mamãe ficava louca toda vez que eu dizia que iria ser piloto de corrida. – A garota riu, se afastando de seu pai. – Vocês dois podem esperar enquanto eu me arrumo?
- Nós estaremos lá embaixo.
Amelia deu um beijo na bochecha de cada um e correu de volta para o seu quarto. Talvez essa tática de ficar longe de Nate não estivesse dando certo, ou melhor, nunca deu certo pra falar a verdade. Ficar longe dele foi uma tortura durante um ano, se não fosse por Maria, Amelia teria perdido a cabeça. Vê-lo no casamento de Sofia fez com que todos os sentimentos que ela insistia em fingir que não existiam voltassem a superfície mais forte do que nunca. Talvez tivesse na hora de mudar de tática, e isso significava que ela conquistaria o seu marido de volta e ela sabia exatamente o que fazer e que roupas usar.

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