Passagem

Vitórias sem fé

Não tem outra palavra para definir meu final de semana se não intenso. Sábado de manhã eu arrumei minha mochila com tudo o que podia precisar, de maquiagem à linha e agulha, não deixaria nada para trás.
Minha mãe me ajudou com o cabelo, esse sempre era meu problema nas apresentações.
Peguei um uber até o Teatro, levar os figurinos no banco do carro não era à melhor maneira, mas a mais prática. Liguei para a minha mãe quando passávamos pelas cancelas.

O camarim foi se enchendo aos poucos, e quando eu digo enchendo, é lotando. A sala devia ter menos de dezesseis metros quadrados para mais de 20 bailarinos e suas bolsas enormes.
Maquiei duas amigas e coloquei o figurino. A primeira categoria era Ballet Clássico nas pontas. A saia volumosa vermelha com renda preta não ajudava com nosso problema de espaço.

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Na coxia, prestes a entrar no palco, a coreógrafa gritou para nós "Boa Merda" e acredite, isso é um voto de positividade no teatro. Eu não estava muito nervosa, o frio da barriga não mudou de uma apresentação para a outra. Sem nenhum grande erro, foi uma performance tranquila.
Voltei para o camarim e me troquei, os bailarinos restantes estavam em roda brincando de cidade dorme, algo bem comum nos tempos de criança. Só fomos dançar quase nove horas duas coreografias seguidas.
A última, apelidada de "Raça" Tinha praticamente seis minutos frenéticos, uma das mais cansativas. Saindo do palco, subi as escadas ofegante até o camarim e me joguei no chão da sala vazia. Os bailarinos voltavam aos poucos.
Arrumamos novamente as bolsas e descemos para a platéia, fui a última a sair. A coreógrafa estava no Hall do teatro, aparentemente com poucas esperanças.
-Gente... O que vocês acharam? -Ninguém respondeu

Começaram a anunciar os prêmios, um de meus coreógrafos preferidos, Marcos Saleme, foi carinhosamente homenageado pelos alunos, já que todas as suas coreografias ganharam. Tínhamos poucas esperanças de um primeiro lugar.
A categoria de raça começou a ser anunciada.
-Terceiro lugar...
Não era a gente, alguns pontos de espectativa desceram.
-Segundo lugar...
Agora sim, esperanças completamente  perdidas.
-Então, acho que podemos ir embora! -Disse Mari, fazendo menção a levantar.
-Primeiro lugar: Studio Allegro, Coreografia Raça Raiz!
Ninguém acreditou.

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Era por volta de 10 horas quando saímos, dividi um uber com Clarisse até o Teatro O motorista se atrapalhou e passou direito pelas cancelas, paramos um pouco mais a frente.
O

ensaio de palco começou onze horas, eram só duas coreografias de Marcos Saleme da escola para marcar colocação e eu entraria das duas. Almocei num restaurante perto e voltei para o mesmo camarim apertado. Nos arrumamos sem pressa, nossa coreografia era mais para o meio.

O jazz foi melhor do que eu esperava. Os últimos ensaios não tinham sido muito bons simplesmente porque a equipe não era das melhores, mas podemos dizer que foi trabalho cumprido.
A segunda era Bandeiras, uma coreografia que simboliza a época de expedições dos bandeirantes abrindo caminho pelo país. De expressão forte e música bem marcada, o barulho das marchas ecoou pelo auditório.

Mais uma vez encontramos a diretora no Hall do teatro, eu achava que Bandeiras podia ganhar alguma posição, mas não o jazz. Eu conversava com Erick pelo no chat enquanto assistia a premiação, ele tinha certeza que íamos ganhar e estava certo.
As duas coreografias pegaram terceiro lugar em suas categorias.

Minha professora de Clássico me deu carona para ir para casa junto com Luana.
-Foi uma boa despedida-Ela disse
-Acho que mais do que boa, três prêmios!
-Fico feliz de termos ganhado do enesmarcos -Brincou ela, era triste saber que seria sua última competição em anos.

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Cheguei em casa e lavei os cabelos cheios de gel, ainda era cedo. Ângelo passou algumas horas comigo, basicamente conversamos sobre os mesmos assuntos aleatórios de sempre com um bônus que era a minha primeira vez.
Eu não estava pronta para começar outra semana.