Pais construídos

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Meu pai veio passar a noite aqui em casa. Ele ia viajar na manhã do dia seguinte e aqui era muito mais perto do aeroporto. Minha mãe o deixou ficar, mesmo sabendo de tudo. Ela estava tentando ser boa.
Comemos pizza de noite, vendo a novela das nove que começa nove e meia. Eu sentei a mesa e comi com toda a calma do mundo, virava algumas vezes para assistir a novela, não dá para ver a televisão muito bem da mesa.
Havia um personagem trans que era um dos meus preferidos. Ele se descobriu e agora estava fazendo a transição sem nenhum apoio da família. Enquanto eu me solidaezava com a situação, meus pais repetiam seu discurso levemente transfóbico.
-E Dizem que ela é transsexual e homossexuais, porque ela gosta do Cláudio -Minha mãe disse como se fosse a coisa mais complicada do mundo
-É -Eu respondi querendo terminar o assunto antes que me irritasse.
-Você dessa geração estão complicando uma coisa que era tão simples -Meu pai tomou um gole de vinho.
Eu fiquei quieta, apenas ouvindo as atrocidades que eles tinham a dizer enquanto terminava minha fatia de pizza. Saí da sala em seguida, não sou obrigada a ficar ouvindo isso.

•~☆~•

Sábado a tarde eu comecei a me arrumar. Logo seria a despedida da Luana. Mesmo que ainda fosse vê-las por uma semana, a festa era importante e eu queria ir. Estava um pouco frio então coloquei uma blusa de mangas compridas, short preto e meia calça preta também. Levei uma hora para fazer os cachinhos no meu cabelo azul, mas valeu a pena. O prédio do amigo dela era perto, fui andando.

-Em qual andar é a festa da Luana? -Perguntei para o porteiro
-Oitavo andar -Ele não parecia nada simpático.
Tive um pequeno frio na barriga ao entrar no elevador. Eu sabia que era a pessoa mais nova ali e se nenhuma das outras meninas do ballet tivesse chegado, eu só tinha a Luana.
Entrei no salão de festas e ainda parecia vazio pela quantidade de pessoas que ela disse que convidaria. Ela me abraçou e apresentou os amigos, por sorte, a Grazi já estava lá, fazíamos ballet juntas desde pequenas.
Tinham duas caixas de salgados e uma de mini-churros em cima da mesa, se tem um doce que eu amo é churros. As horas foram passando e as pessoas chegando. Mary, outra bailarina da escola, chegou um pouquinho depois de mim. Ela estava vestida da maneira que eu imagina, uma calça verse militar, camisa branca e um casaco preto, eu lembrei da época que era a fim dela.
Com mais uma bailarina, o grupinho estava fechado. A caixa de som chegou e começamos à dançar. Conversas sobre faculdade, mesmo que eu ainda esteja no primeiro ano, k-pop e homofobia foram nossos assuntos de base. Tiramos muitas fotos e, principalmente, criamos memórias únicas.
Fui embora de carona com a Grazi as 23h, queria ficar mais, mas minha mãe não ia deixar. Comparado à isso, o resto só final de semana não foi nada divertido.

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