• 2° Coisa.

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    -Mudar o visual-.

20 de Setembro de 2000.

  Já era a quarta vez que vomita sangue em sete dias, eu estava piorando a cada minuto,e não poder fazer nada em relação a isso me deixava apavorada. Já estava claro que eu não aguentaria por mais um mês,mas eu não iria demonstrar isso pros meus pais, não quero que eles sofram mais do que já estão.
  Estávamos todos almoçando quando decidi seguir com o próximo item de minha lista, porém, é claro,eu precisava da permissão deles!

Caro leitor de meus dramas, tentarei escrever aqui a forma exata que foi o nosso diálogo.

  -Eu estava pensando em dar uma mudadinha no visual.- comecei a falar com cautela.

-O que você quer mudar, filha?

Minha mãe nunca gostou de mudanças,ela sempre dizia que devíamos ser exatamente como Deus criou,sem acrescentar e nem tirar nada,mas para esse meu caso acho que ela abriria uma exceção, bem, eu pelo menos estava torcendo para que sim.

-Tô pensando em pintar o cabelo de azul e fazer uma tatuagem.
 
   Sei o quanto doeria para fazer a tatuagem,mas a essa altura de minha vida a dor não era o maior problema.

-Tatuagem de quê?-meu pai se espantou.- e cabelo azul? Porquê não pinta de rosa como toda garota normal?

-Esse é o problema pai,eu não sou uma garota normal.- perdi a paciência.- estou morrendo e só vocês que ainda não aceitaram!!

-Querida. -mamãe falou chorando.-sabemos que você está morrendo,mas não pense que você deixará de ser uma garota normal só por causa disso.- falou com calma e ternura, colocando uma de suas mãos em meu colo para passar conforto.- eu e seu pai te amamos e te apoiamos em tudo,mas acho que  uma tatuagem é uma ideia um pouco precipitada.

-Eu também amo vocês,só queria que confiassem mais em mim,eu sei o que estou fazendo,e acreditem,já faz tempo que planejo isso.- tomei um gole de suco e continuei.- quanto ao cabelo azul,qual o problema?Garotas não tem que usar só rosa ou roxo,as cores e nosso gostos não definem nossa sexualidade!

-Ok.-mamãe suspirou dando uma olhadinha para meu pai.-deixamos você pintar o cabelo e fazer uma tatuagem,mas só com uma condição.

  -Sabia que estava tudo fácil demais.- brinquei.

                            •

   As 4 horas da tarde saímos do cabeleireiro,meu cabelo ficou ótimo,a cor azul escura combinou perfeitamente com meus olhos e realçou ainda mais meu rosto. Tenho que dizer leitor, mas que fique somente entre a gente, até mesmo agora, escrevendo nessas páginas amareladas e fedorentas, me dou ao trabalho de parar de tempo em tempo para me apreciar no espelho.

Quando eu e minha mãe saímos do cabeleireiro fomos até uma sorveteria próxima dali para comer açaí. Não me lembro muito bem a que horas fomos procurar um tatuador de confiança,mas me lembro que achamos um no centro da cidade, e pelas informações que nos deram ele era o melhor da região.
   
  -Vamos filha.- minha mãe me repreendeu baixinho.- escolha logo essa tatuagem,estou ansiosa para ver o resultado!

-Tudo bem, tudo bem!-falei ajitando as mãos.- já me decidi.

-Ótimo!-esclamou feliz.- Otávio venha,ela já escolheu.

O tatuador não tardou a aparecer, com um largo sorriso no rosto e cheio de animo.

-E qual seria então?-ele perguntou preparando o equipamento.

  Escolhi tatuar uma coroa no pulso,ficou linda,e de brinde ainda ganhei outra tatuagem,essa eu decidi fazer nas costas,e escrevi "Mãe e Pai" em volta de um coração.

Pagamos o Otávio e agradecemos pelo seu maravilhoso trabalho, então fomos até a igreja.

Acho que ainda não contei para vocês a condição de meus pais,pois bem,contarei agora! Eles disseram que me deixariam sim pintar o cabelo e fazer a tatuagem, porém,eu teria que participar de um grupo de ajuda, então lá estava eu,caminhando com minha cabeleira azul pelos corredores da igreja em que minha mãe era batizada.

  -Alice Martins, certo?-o organizador do grupo perguntou se aproximando,ele era baixinho,careca,e digamos que um pouco fora do peso.

-Sim.-minha voz falhou um pouco por causa da breve tontura que senti.

-Então venha,já vamos começar a reunião.- ele chamou.

Quase que instantaneamente olhei para minha mãe implorando com o olhar para me levar embora daquele lugar,mas ela, vacilona do jeito que é, deu uma piscadinha para mim e foi para o carro.

Veja bem se pode?!E se esse gordinho fosse um sequestrador?Que mãe sem juízo que eu fui arrumar em!
 
Deixando as várias críticas a minha mãe de lado, voltemos a minha trágica história:

Segui o gordinho com cara de Senhor Barriga até uma salinha,ela estava cheia de pessoas com problemas diferentes,lembro de ter visto um garoto aparentemente cego,um outro com câncer e uma garota que tinha câncer de mama,todos estavam sentados em cadeiras formando um círculo bem desorganizado e engraçado, me sentei em uma cadeira vazia e fiquei quieta lá até o Senhor Barriga começar a reunião.

 Não prestei atenção em exatamente NADA! Fiquei distraída com certos olhos verdes,que me encaravam durante toda a reunião.

Sei o que está pensando, mas está não é uma história de romance, então pode murcha esse sorriso da cara e focar na história, que aliás, voltarei a contar!
    
   -Senhorita Alice,poderia se apresentar para nós?

Sabe, acabei de me lembrar de como o Senhor Barriga era chato!

-Sou Alice como você já disse e tenho dezessete anos, atualmente sofro de uma doença misteriosa e vou morrer dentro de poucos dias.-falei fazendo uma breve careta.

-E porque está aqui?-ele perguntou.

-Fui arrastada pra cá,minha mãe me obrigou a vir só porque não sou de acreditar muito em Deus e seus milagres.

Um ponto para mim.

-Não está aqui por vontade própria?-o gordinho me perguntou assustado.

-Querido,entenda uma coisa.-explodi.- eu estou morrendo,e dentre todas as últimas coisas que quero fazer na terra,vir para cá e perder minutos valiosos do meu tempo de vida escutando baboseiras séria a última delas!

Dois pontos para mim.

-Ok,temos aqui uma inconformada,alguma palavra de incentivo para nossa amiga?-esse Senhor Barriga já estava me tirando fora do sério,mas em nome de minha mãe,decidi ficar quieta e não arranjar brigas.

Como ninguém se pronunciou, ele continuou a falar suas inúmeras asneiras e eu voltei a focar no garoto de olhos verdes, que agora sorria para mim.

Assinado: Ali.

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5 Coisas para fazer antes de morrer.[Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora