03 cap

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  Mas Grant estava avaliando a tevê com muita seriedade, e a fumaça flutuava em formas ovais certinhas e sensuais. Ele sabia fazer anéis de fumaça. Pensei que meu único talento era converter oxigênio em dióxido de carbono, se bem que, para falar a verdade, eu me dava muito bem na escola — sempre me dei. Eu estava no programa dos melhores alunos e a caminho de me formar com honras, o que tornava o compartilhamento do quarto com Bianca e Carol ainda mais irônico do que ler Hemingway. Elas eram superestrelas sociais e, se houvesse uma disciplina chamada conversa casual e introdução à paquera, eu ia repetir. Eu nunca tinha namorado. Nenhum namorado suado, que andava de mãos dadas ou passava bilhetinhos no ensino fundamental. Nenhum cara no ensino médio que me fizesse usar sua camisa do time de futebol americano nas gincanas da escola. Nenhum monitor na faculdade que de repente reconhecesse o valor de um cérebro acima da média e passasse noites na cafeteria estudando comigo. Nenhuma das anteriores. Eu não sabia muito bem por quê, já que eu não me considerava feia. Talvez um pouco sem tímida, definitivamente quieta, mas de forma alguma repulsiva. Não tinha cê-cê, mau hálito nem protuberâncias esquisitas em lugares visíveis, não tinha pontos de calvície nem tiques faciais. Alguns caras quiseram me beijar e tentaram enfiar as mãos na minha calça, mas nenhum quis me namorar. E era por isso que eu achava que devia tomar a iniciativa em relação a Grant. Porque essa era a minha chance de conseguir um namorado. Dar uns amassos e dividir a pipoca no cinema, mandar mensagem um para o outro a cada minuto usando apelidos melosos. Só para saber como era um relacionamento, experimentar, como se fosse um lindo par de sapatos sensuais de salto alto. Talvez isso até resultasse no Grant tatuando meu nome no bíceps. Era um nome curto, Sarah, então caberia no braço magricelo. Alguma coisa permanente que dissesse que mais alguém neste mundo pensava em mim o suficiente para gravar meu nome pela eternidade. Na realidade, Grant e eu ficamos completamente em silêncio por quinze, vinte minutos.  

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