02 cap

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  A calça jeans suja ficava pendurada em quadris inexistentes que competiam com os da Mary Kate Olsen, e não porque ele queria estar na moda. Acho que ele não comia o suficiente, sério. Lucas tinha me contado que o pai do Grant era um bêbado e a mãe era uma louca que golpeou um colega de trabalho na Taco Bell com uma caneta e estava numa ala psiquiátrica no centro da cidade. Ninguém comprava vegetais orgânicos na casa dele. Então eu tinha uma queda esquisita pelo Grant, porque a situação tinha cara de possibilidade. Como se não estivesse totalmente fora da realidade ele querer estar comigo de verdade, em algum tipo de posição macho-fêmea. — Cigarro? — perguntou ele, me estendendo o maço de Marlboro vermelho, o olhar disparando para todos os lados para evitar a conexão comigo, enquanto estávamos sentados na sala de estar do apartamento do Lucas. — Não, obrigada. — Foram os olhos dele que me fizeram entender que ali estava alguém de quem eu não precisava ter medo, por quem eu não precisava me sentir ameaçada nem intimidada. Porque, apesar de seu olhar nunca encontrar o meu, Grant tinha olhos assombrados. Olhos doloridos, vulneráveis e cinza. Eu queria que ele me beijasse. Mesmo enquanto tomava um gole enorme da cerveja que ele tinha me dado cinco minutos antes, eu estava pensando que, se pelo menos ele reconhecesse o que eu via, tudo seria fantástico. Nós dois éramos absolutamente perfeitos um para o outro. Duas pessoas totalmente sensíveis, pálidas e quietas. Eu nunca ia empurrar o cara como Eduardo fazia, com o pretexto de lutinha entre brothers. Eu nunca envergonharia Grant nem colocaria fogo nas roupas dele por diversão, como seu suposto melhor amigo, Lucas, tinha feito. A mão dele tremeu um pouco enquanto riscava o isqueiro Bic para acender o cigarro que tinha colocado na boca. Havia uma mesinha de centro feita de carvalho entre nós, cada um largado numa poltrona reclinável xadrez, com um filme passando na tevê à nossa frente. Algum drama ruim do Tom Cruise. Eu nunca gostei do Tom Cruise. Ele sempre me lembrou o primo sinistro de alguém, que sorri demais antes de pegar na sua bunda e sussurrar alguma coisa nojenta no seu ouvido com bafo de uísque.  

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