Parte 2

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Continuando a história

Certa noite, Branca sem dormir, foi até a fazenda pegar alguns restos do jantar para comer e dividir com Lampião. O cachorro vigiava a choupana silenciosamente, apenas iluminada pela luz da lua, quando Branca saíra. Por instinto de protetor, Lampião seguiu a amiga até a casa, sorrateiro como um rato, mas atento como um calango. Branca viu Rainha conversando com o estranho homem barbudo. Durante algumas noites, ele estava provisoriamente hospedado na fazenda.

Os dois versavam sobre trocas. Branca colocou-se atrás de uma mesa rústica e observava a conversa dos dois. Lampião deitou-se ao seu lado.

-Pois está feito seu Sivirino! Branca, amanhã bem cedo, vai simbora com o senhor! Em troca o senhor me dá três cabeças de gado, certo?!

-Sim sinhora! Branca é minha e meus três boi branco é da sinhora! – os dois apertam as mãos selando o contrato.

Branca assombra-se com a resolução, mas se mantém em silêncio e sai devagar da sala. Logo estava na cozinha, pegando tudo o que podia de comida, colocando em uma bolsa de couro bovino que possuía e estava atrás da porta, além de água e algumas roupas que ela guardava no armário onde ficavam os cereais. Branca tinha pressa.

Com certeza a Rainha soubera de seu namoro e resolvera vendê-la.

Lampião esperava Branca na porta, espreitando o movimento de toda a casa. O nariz no vento percebeu algo. Era a dona da fazenda que chegava. Logo Rainha surgiu através da porta, empurrando-a com força e Lampião esconde-se embaixo da mesa.

-Onde pensa que vai com essas coisa?! – Rainha percebe o que Branca fazia. Branca vira-se para a Rainha e coloca a bolsa nas costas.

-Vô me bora!

-Oxe! E por quê?!

-Ocê vai me vender por três cabeça de boi!!! Isso num se faz cum a pessoa que passô a vida intera trabaiando e cuidando da sinhora sem recramá nenhuma veiz! Ocê é ruim feito uma cobra criada!!! Eu vô me bora e num tem um mundo que me impate!

Rainha mexe-se para agarrar Branca pelo braço.

-De jeito manera!!! Venha cá sua cabrita!!! – Rainha grita.

Mas Lampião mordeu-lhe a perna, fazendo Rainha cair no chão como uma árvore despencando. Lampião passou por cima de Rainha e correu para o lado de fora da casa. Sem dizer adeus, sem olhar para trás, sem dizer aonde iria, Branca e Lampião já iam longe, cobertos pela escuridão da noite, correndo pelo sertão do Ceará.

Branca chorava enquanto corria. Perdera seu lar, perdera Tonha e perdera seu amor, Miguel, por causa do gênio ruim da Rainha. O que fizera ela para merecer tamanho sofrimento em sua vida?

Longas as noites de medo e escuridão que Branca passou abraçada a Lampião, com medo da fome, das armas, dos homens, da morte. Os dias quentes e secos foram uma tortura agonizante para a menina e seu cachorro, mas ambos não pararam, continuaram caminhando, sempre em frente.

Por quase três anos, Branca vagou pelo estado, sem um lugar seguro para se estabelecer, pois todos pareciam servir a Rainha. Um dia, sem querer, se encontrou com um jagunço de Miguel. Conversou-lhe toda a verdade de seu desaparecimento e explicou o motivo por nunca parar quieta em ponto algum. O homem jurou contar tudo ao seu senhor, que nunca esqueceu a namorada e a queria como esposa. Branca sorria enquanto acenava em adeus para o homem que partia no horizonte, ela tinha lágrimas nos olhos. Saudade de sua Tonha e saudade de seu amor nunca esquecido Miguel.

Branca, depois de uma longa jornada desbravando o sertão, já se encontrava sem comida e sem água. A menina carregava Lampião em seus braços, da mesma forma quando o encontrou da primeira vez. Chutava o solo, mal enxergava seu caminho, parecia que as pernas se moviam sozinhas e levavam Branca para algum lugar.

BrancaOnde histórias criam vida. Descubra agora