Parte 3

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Continua a história

Branca lavara alguns lençóis e estava pendurando num varal improvisado quando viu uma senhora entrando aos coxos, com um dos braços estirados para ela. A moça foi ao encontro da idosa e a ajudou a entrar na modesta casa da fazenda. Entendeu que a mulher desejava um pouco de água e um pedaço de pão.

Enquanto Branca fora buscar um copo com água e o pão, Rainha levantou-se de uma vez retirando o capuz que lhe servia de proteção ao sol e segurando-o com as duas mãos se dirigiu até a moça que cantarolava baixinho enquanto enchia o copo com água. Branca não vira quando o pano negro tampou a vista, impossibilitando de perceber que estava sendo seqüestrada por Rainha.

A moça gritava e se contorcia nos braços da mulher. Rainha, quando percebeu que Branca tentava se libertar, gritou por um de seus escravos para levar a moça nos braços. Lampião, que tudo vira de um canto atrás dos armários, não teve chance de defender sua amiga, mas ouviu atentamente o apelo da menina.

-Lampião!!! – gritava Branca – Vá chamá Venâncio!!! Ligero!!! –

E o cachorro, sem demora, foi até onde o bando se encontrava, numa cidade não tão distante da fazenda, escapando habilmente das mãos pesadas dos outros dois escravos que queriam capturá-lo.

Rainha ria e se vangloriava enquanto galopava de volta para a sua fazenda, pois seu plano ia às mil maravilhas. Branca estava no colo de um dos escravos, que seguia montado em outro cavalo, logo atrás da mulher. A menina estava sem o capuz negro e fuzilava sua sequestradora com os olhos.

-Sua mardita cobra criada!!! – gritava Branca – Quando Venâncio souber vai arrancar sua cabeça na faca!!!

-Ele nunca vai saber, sua cabrita, já que não tinha ninguém pra ver o que aconteceu e dizer a ele!

Branca mostrou a língua a Rainha quando a mesma virou o rosto para frente. A menina temia que Venâncio não soubesse o que Lampião estava querendo demonstrar no momento em que o cão o encontrasse. Temia que não fosse salva e temia, ainda mais, ser vendida a um homem que desconhecia as manias e que se mostrava vulgar, que não era o seu amado Miguel.

Rápido como um pé de vento Lampião encontrou o bando de Venâncio. Seu faro aguçado jamais lhe abandonara, principalmente nos momentos mais precisos como aquele. Ao se aproximar dos arredores da cidade, seu faro o guiou para um pequeno tabuleiro com algumas árvores e ali viu um ancião de chapéu de couro escorado a um juazeiro, sentado a sombra do mesmo. Tão logo sentiu o cheiro e descobriu ser Venâncio, que partiu em disparada até ele.

Cada segundo era importante. Lampião tinha que ser preciso e direto, se não sua amiga iria para longe e ele nunca mais a veria.

O resto dos homens conversava folgadamente sobre banalidades que viram e ouviram na cidade. Venâncio, graças aos seus instintos já treinados, sentiu que alguma coisa se aproximava dali. Levantou-se e segurou com firmeza sua espingarda. Vieira seguiu o olhar de Venâncio e procurou o que poderia estar alarmando o líder do grupo.

Viu uma nuvem de poeira aproximar-se com rapidez.

Ajeitou os óculos redondos diante do nariz e se concentrou no intuito de entender o que estava acontecendo. Venâncio relaxou ao ver que era Lampião que se aproximava as pressas, ao contrário de Vieira.

O cachorro chegou e começou a latir com ferocidade, dando voltas em seu eixo e apoiava-se nas patas traseiras, feito gente, atraindo a atenção de todos.

O cangaceiro não entendeu a atitude do canino.

-Oxe Lampião! O que é que tu quer?

E cachorro latia, dando saltos e rodopios, sempre direcionando seu focinho para a direção de onde viera. Vieira, sagaz como era, entendeu o que o animal estava tentando repassar. Segurou no ombro de Venâncio com preocupação.

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