Chegamos ao fim dessa história emocionante, pelo menos para mim, e muito divertida.
Ela ouviu um tiro. Depois outro e logo em seguida gritos e mais gritos.
Pensou que era para si, mas na verdade fora para o jagunço que levantara a pistola e mirara em seu cachorro. Com olhos marejados e vermelhos, Branca viu o corpo despencar do cavalo enquanto o animal corria as pressas para longe do atirador, assustado com o barulho da bala. A moça vê uma batalha travar-se diante de si.
Miguel ao ver um homem apontar uma pistola contra o cachorro de Branca apertou ainda mais o passo, fazendo o cavalo quase voar sobre a terra rachada. Então sua visão foi assombrada por uma cena: Branca coloca-se no caminho da bala abraçando Lampião no desejo de salvá-lo da morte. Miguel se desesperara e atirara inconscientemente no jagunço, amedrontando o cavalo e matando o homem.
Venâncio e Vieira começam a atacar o outro jagunço, usando as armas como porretes, para que Miguel pudesse chegar até Branca e salvá-la. No entanto, outros jagunços chegaram e a briga apertou.
-Venha Branca! Vamo simbora daqui! – Miguel desce do cavalo e pega a moça nos braços, colocando-a em seguida sobre o equino.
-Lampião! Num se esqueça de Lampião!!!
Miguel pega o cão com cuidado e coloca-o sobre o colo de Branca. O canino é recebido aos mimos e são todos retribuídos à menina através de calorosas lambidas. O rapaz volta aos galopes para a fazenda Raio de Sol, pois Venâncio e Vieira conseguiram eliminar os outros jagunços com ajuda de Francismar e João. Todos se reuniram, no fim do tiroteio, na varanda quase destruída de Rainha.
Parecia que aquela batalha não teria fim, mas teve e finalmente os ventos secos e quentes da tarde sopraram os rosto suados e feridos dos sobreviventes vitoriosos.
João e Jango foram buscar Tonha dentro da cozinha, depois de muita insistência de Branca. Os jagunços foram todos mortos na contenda. Rainha levara dois tiros certeiros no peito, um do Coronel e outro de Venâncio, e despencara mortalmente do alto de sua sacada, caindo e quebrando as escadas da entrada da casa. No fim do dia, Branca estava salva e estava sendo cuidada por sua mãe de criação.
Lampião foi considerado o grande herói de toda a história.
-Eu num tô lhe dizendo, homem, que o cachorro foi atrás de nóis pra dizer que Branca tinha sido levada!!! – repetia Ariovaldo, com a perna enfaixada, sentado na varanda – O cachorro chegô e contô em cachorrês que a menina tinha sido levada e Vieira, que é mais sabido e entendido de nóis tudo, entendeu o cachorrês e disse o que diabo era que o cachorro tava dizendo!!! O cachorro parecia que tinha vento nas pata, pruquê pense numa carreira medonha que ele deu de lá pra cá e de cá pra lá! Num foi não Nhô Venâncio?
-Ora se num foi! Quando eu vi ele chegano, eu pensei que era um pé-de-vento, mas tu num me diga que era o cachorro! E sem a minina! Num teve outa!
-O sinhô Coronel ainda duvida? – comentou Vieira enxugando sua careca escura escondida por seu típico chapéu.
-Pois eu tô precisando dum cachorro desse! E é pra onti! – brincou o Coronel.
Todos riram da brincadeira.
Lampião fora agraciado com todos os mimos que sua dona e amiga poderia lhe dar. Tonha agradecia a todos os anjos e santos do céu por ver sua filha do coração viva depois de tantos anos perdida e depois daquele horrível caso.
O Coronel aproximou-se devagar de Branca, ajeitando seu chapéu sobre a cabeça e exibindo seu melhor sorriso. Perto de si trazia Miguel, que vinha com os braços atrás do corpo e com um pouco de timidez. Branca viu o rapaz e o puxou pela mão para mais perto de si, ao ponto de que conseguira dar um leve beijo nos lábios trêmulos do rapaz. Tonha se levantou devagar, com as mãos na cintura, colocando-se entre Branca e Miguel, se mostrava desconfiada, olhando pelo canto do olho para o rapaz. Acanhado Miguel voltou para perto do pai.
-Quais é suas intenções? – resmungou Tonha.
O Coronel respondeu pelo filho.
-Meu filho quer casar cum sua fia! Desde o dia que levou uma baldada dela na cabeça que ele não esquece essa menina!
-Hum...! Num sei não!
-Minhas intenções são boas! – prontificou-se Miguel – Eu só quero dá a vida que Branca nunca teve na vida! Dá de comer, de beber, o que vestir, um lugá bom pra morar e proteção!
-Se Branca quisé... – disse Toinha voltando aos curativos dos pés da menina – Ocê casa! Mas tem que levá eu junto!
-Eu levo! Eu levo! Se Branca quisé eu como seu esposo...
-Eu quero! – disse Branca colocando-se de pé.
Miguel abraçou a moça e outro beijo, dessa vez mais demorado, foi trocado pelo casal. Os cangaceiros urraram de alegria juntamente com os jagunços do Coronel. Branca impôs ainda mais duas condições para se casar com Miguel: primeiramente Lampião iria com ela e seria seu cão de guarda, segundo, os cangaceiros seriam seus guarda-costas pessoais. O Coronel aceitou ambas as condições. Todos foram a galope para a fazenda do Coronel organizar o casamento de Branca com Miguel.
-Mas me diga meu filho – o Coronel chegou perto, com seu cavalo, do cavalo cujos Branca, Miguel e Lampião iam montados – Cuma é o nome dessa moça? Por que ocê sabe que ela tem que assinar um documento.
Miguel nem precisou responder. Sua noiva se ocupou com isso.
-Ora seu Coronel! Nome eu num sabia não, mas agora eu sei!
-E qual é?
-Branca!
Espero que tenham gostado dessa princesa cujo nome é Branca e tem tanto a dizer sobre ela mesma. Espero o feedback de vocês. Até a próxima.
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Branca
Historia CortaTalvez você conheça a história de uma moça que tinha a pele branca como a neve e que sofreu na mão de sua madrasta até casar-se com um príncipe, mas acredito que não conheça a história de Branca, cuja vida era tão seca e árida quanto a terra em que...