1. Vale amar por esporte?

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"Regra nº 1 - O amor é uma forma de auto-sabotagem que faz você baixar a guarda para o inimigo."

O show havia sido perfeito. Essa era a única forma que, na cabeça de Nicolas, servia para descrever aquela noite. Sua banda havia sido completamente aclamada e ele tinha a sensação de que a vida finalmente havia decidido dar o braço a torcer, pois, sem sombras de dúvidas, eles tinham sido um sucesso total...

As vozes da platéia cantando os refrões das músicas da sua banda ainda ecoavam em sua memória. Era quase como se elas estivessem morando em seus ouvidos.

- Quem manda aqui?! - Gabriel, o guitarrista, estava com a metade do corpo para fora do teto solar da caminhonete em movimento e gritava extasiado enquanto abria os braços como se pudesse abraçar o mundo inteiro e o vento que se chocava contra ele.

- Dorothy Legacy! - Os quatro integrantes da banda pronunciaram em coro. - Dorothy Legacy! -

Josh, o baterista mais responsável do planeta, se esforçava ao máximo para dividir a sua atenção entre a bagunça que seus amigos faziam e a direção do carro pelas ruas da cidade noturna. Já Jeremy, que era ótimo em arrancar bons riffs de qualquer baixo, curtia o momento de um jeito um pouco mais pacato, porém não menos feliz que os outros.

Não é que eles não fariam aquilo em outra situação, mas aquela noite estava com a atmosfera perfeita para comemorações e ninguém daquela caminhonete iria para casa, pelo menos não para a própria, a não ser Josh, que seria o anfitrião da festa que eles haviam armado para comemorar o grande salto profissional que a sua banda havia dado. Seus pais estavam viajando e não era sempre que se ganhava o concurso musical que iria levar uma de suas músicas para a principal rádio de rock das redondezas. Então aquilo para ele não estava contando muito como um "ir para casa", ele estava indo para o céu, em direção ao nirvana ou até mesmo para o país das maravilhas, menos para casa.

Parecia que aquela noite havia sido feita exclusivamente para festejar...

O lugar já estava cheio e havia uma galera bem embalada quando o quarteto da Dorothy Legacy entrou pela porta e foi recebido com salvas de palmas e gritos de felicitação.

Aquilo tudo estava bem melhor que aniversário, os quatro se sentiam os donos da festa e parecia que nada poderia dar errado.

Gabriel bateu as baquetas de Josh uma na outra para chamar a atenção de todos e alguém abaixou o som enquanto ele subia em uma mesa de madeira. - Quando Nicolas falou que teríamos uma festa hoje, logo após o concurso, achei uma loucura. Eu pensava que a gente não tinha como saber se venceríamos. Então ele virou para mim e disse que nós não precisávamos vencer um concurso para comemorar o que Dorothy Legacy significa para nós. Ela em si já é uma vitória. Quer saber, foda-se, hoje não é por nenhum de nós aqui, é por ela, Dorothy Legacy! A mulher que realmente está mudando nossas vidas! - Após o discurso, ele levantou um copo para brindar e todos que estavam na casa levantaram os seus também, vibraram e brindaram juntos.

...

Uma roda de amigos no centro da sala, algumas bebidas e música boa era tudo que eles precisavam para que a noite continuasse perfeita.

- Como está se saindo com a Michelle? - Gabriel perguntou para Josh enquanto indicava a direção onde estava a menina de quem ele falava, em um dos cantos da sala.

Josh olhou desanimado. - Ah... Ela ainda não me dá muita bola... - Respondeu e deu uma bela golada na mistura de vodka que segurava.

- Sabe o que eu acho? Você deveria parar de ficar correndo atrás dela. - Nicolas se jogou no sofá ao lado. - Meu amigo, você está a alguns passos de se tornar um astro do rock e ainda fica pensando pequeno desse jeito? Logo vai ter uma fila de moças querendo usar esse seu corpo magrelo e você nem vai se importar mais com isso. -

- É que eu... eu... - Josh gaguejou.

- Você a ama. Nós sabemos. - Nicolas falou com descaso, como se aquilo não fosse motivo o bastante. - E você pode amar qualquer outra mulher. Tem mesmo que ser uma que insiste em não te dar bola? -

Gabriel se pronunciou. - Não seja insensível, Nicolas. Nem todos encaram o amor como se fosse um jogo. -

- Uou! O que você está insinuando? - Nicolas sorriu. - Eu não vejo o amor como um jogo. - E olhou em volta, para todos os amigos ao seu redor. Eles sorriam e balançavam a cabeça como quem dissessem "você vê sim". - Parece que há um complô aqui. Então digam o porquê acham isso. Se estão afirmando, precisam provar. -

Essa era a deixa que Josh precisava. - Vamos ver. Sábado passado você saiu com quem? -

- Juliana. - Respondeu Nicolas prontamente.

- E semana retrasada, você passou namorando quem? -

- Bianca. - Nicolas começou a se sentir encurralado.

- E na semana anterior? -

Não havia mais argumentos válidos para Nicolas. - Tudo bem. Eu sei aonde você quer chegar, mas, em minha defesa, eu posso dizer que talvez eu veja o amor de uma forma diferente. Algo mais livre, quem sabe? -

- Isso foi uma pergunta? - Gabriel questionou galhofeiro.

- Ah, nem vem. - Nicolas partiu para o ataque. - Você não é muito diferente de mim, Gabriel. -

Gabriel até que concordava em alguns pontos, mas... - Bom, pelo menos eu não tenho um caderninho de regras contra o amor. -

Sim, aquilo não era uma brincadeira, Nicolas realmente tinha um bloco de notas recheado de instruções anti-amor e aquela contestação fez com que ele desistisse daquele debate, pois estava perdendo, mas, se fosse para perder, seria com estilo. - Sabe, Gabriel, ali... - Próximo a uma porta que dava acesso ao quintal de trás da casa. - Tem duas gatinhas lindas olhando e sorrindo para nós. Eu vou até lá. Você pode ficar aí, refletindo o quanto eu sou insensível, ou então pode me acompanhar e talvez arrumar uma boa transa para hoje. E então, o que você vai fazer? -

- Estou dentro. - Gabriel nem pensou duas vezes.

Nicolas sorriu debochadamente para Josh e depois saiu dali, seguido por Gabriel, em busca de mais algumas conquistas...

Quando eu aprendi a amar...Where stories live. Discover now