"Regra nº 10 - Saiba atrair a sua conquista sem se apaixonar por ela."
- Meus amigos, a receita para o sucesso é relaxar. - Disse Nicolas. Três dos integrantes da banda estavam reunidos em torno de uma mesa de canto, dentro de um bar-lanchonete de beira de estrada e eles bebiam enquanto discutiam sobre a existência de uma trilha correta até o sucesso. - Se vocês prestarem atenção, os grandes astros do Rock ou só se importavam com a música ou eram criações comercias, feitos especialmente para vender. Nós não fazemos musicas comercias, então temos que nos apegar à outra opção. -
- Não sei não. - Discordou Gabriel. - No final das contas parece que tudo tem que ser comercializável. Ainda teremos que vender, certo? -
- E eu que pensava que você era um cara mais místico que isso. - Josh era completamente cético, do tipo que achava que qualquer coisa além do natural era uma grande besteira. Aliás, ele costumava achar baboseira em tudo. Exceto filmes, ele amava filmes, e Rock n' Roll, óbvio.
- Não é essa a questão. - Explicou Gabriel. - Eu só acho que no final de tudo, mesmo sem perceber, acabaremos tendo que vender nossas almas para grandes gravadoras. Isso se quisermos sobreviver bem disso. -
- Talvez. Olha o nosso lanche chegando. - Nicolas anunciou que a garçonete trazia hambúrgueres, batatas-fritas e refrigerantes para todos. - Na hora certa. Eu estava começando a morrer de fome. - Comentou, já agarrando seu Double cheddar.
- Falando em morrer, espero que esse belo hambúrguer não entupa as nossas artérias antes de estarmos pelo menos no top dez do país. - Comentou Josh. - Onde está Jeremy? - Perguntou.
- Ih! Esse aí, desde que começou a namorar, sumiu. Ligou mais cedo dizendo que não poderia vir. Ele deve estar treinando o seu dedilhado, se é que me entendem. - Nicolas era do tipo que perdia o amigo, mas não perdia a piada.
- Treinando o dedilhado? - Perguntou Josh, que não havia entendido a brincadeira.
- Você às vezes é tão inocente, Josh. Acho que você deveria procurar alguém para te ajudar a treinar com a sua baqueta também. - Nicolas gargalhou. - Você vai acabar explodindo enquanto fica esperando pela Michelle.-
- Ha-Ha! Era para rir? - Esse era o lado sarcástico de Josh.
- Me desculpe! - Nicolas percebeu que havia exagerado um pouco na brincadeira. - Mas cara, falando sério agora. Você precisa espairecer um pouco. Não dá para ficar esperando uma pessoa que não te quer para sempre. -
- Às vezes eu acho que aquela garota do Black Ballon tinha toda a razão. - Josh decidiu revidar só um pouquinho. - Você não deve saber muito sobre o amor mesmo. Deve achar que isso significa viver solto por aí e ter uma namorada diferente por semana. -
Pela primeira vez Nicolas havia ficado sem palavras. Uma coisa era uma paquera de bar falar aquilo, outra coisa era um de seus melhores amigos falar. - Desculpe, Josh. Eu não achei que isso iria te irritar tanto. -
- Nic, você é como se fosse um irmão para mim e é por isso que eu rezo para que você consiga perceber a tempo o que importa de verdade. Fora isso, eu não tenho raiva de você. - Josh respirou um pouco mais brando. - Eu só espero não ter que sentir pena um dia. -
- Eu entendo. - Respondeu Nicolas. Era mentira, mas ele precisava dizer algo satisfatório. E também, como ele poderia entender? Quase todas as lembranças que ele possuía sobre Josh e Michelle era dela o fazendo sofrer. Quando mais novos, eles haviam tido um namoro adolescente, coisa bem infantil, desde então ele a ama incuravelmente. E ela? Adivinha? Ela seguiu em frente, e foram tantas seguidas em frente que todos já haviam preferido parar de contar. Nada contra, ok? Seu corpo, suas regras. O problema nisso tudo era que cada relacionamento novo em que ela se metia, significava um porre de vodka, choro de soluçar e um Josh Cliff em pedaços por duas ou três semanas. Como Nicolas poderia entender aquilo? Era doentio.
Gabriel pigarreou. Isso era apenas uma estratégia para chamar a atenção de todos e poder mudar o foco daquele assunto deprimente. - Então, Nic. A garota de ontem não entrou em contato? -
- Não ainda, mas vai. - Na verdade, Nicolas não podia afirmar aquilo, mas perder a pose também não estava em questão. - Logo, logo ela vai me procurar. -
Na noite anterior, os rapazes não haviam tido muita chance de conversar sobre a paquera que tentaram no Black Ballon, pois, logo após o lance com as meninas, o show da banda foi anunciado, aí já viu, não é? Foi aquela correria... Passar o som, afinar instrumentos, ligar cabos... E depois do show a animação contagiou, tinha muita gente em volta e muita bebida. Em seguida veio o cansaço e uma coisa foi levando à outra. Quando deram por si, o resto da noite havia passado e aquele papo tinha ficado para outra hora, àquela hora ali. - Não sei não. Como pode estar tão certo disso? Ela não parecia muito interessada. - Gabriel e seu banho de água fria.
- Vocês não entendem nada mesmo. Ela só estava se fazendo de difícil. - Era como se Nicolas tivesse tudo minimamente calculado. Estava blefando.
- E por que você fez aquela loucura de desafio? -
- Eu não faço ideia. Acho que eu só precisava de um jeito que fizesse ela me dar um pouco de espaço. - Nicolas sorriu. - Saí falando tudo o que vinha na cabeça e acho que deu certo. -
- Ela não vai ligar. - Gabriel afirmou. - Já é sábado à noite. Ela não deve nem lembrar que você existe. -
- Quer apostar? - Nicolas adorava esse tipo de joguinho. - Uma rodada de bebidas que ela liga? -
- Feito. - Gabriel topou.
- Josh? - Nicolas pretendia acrescentar seu outro amigo à brincadeira.
- Uhm... Bem, eu também acho que ela não vai ligar. - Josh estava com a cabeça em outro lugar. Era incrível como Nicolas nunca havia percebido, até aquele momento, o quanto o assunto "Michelle" o deixava assim, com a cabeça fora de órbita.
- Então é isso. Preparem-se para coçar as carteiras, pois meu telefone acabou de vibrar... - Nicolas sacou o celular do bolso. - E eu aposto que... - Começou a mexer no aparelho. - Vejam. - E revelou o telefone para os amigos. Na sua tela havia uma mensagem que dizia:
"Oi, nos conhecemos no Black Ballon. Lembra? Acho que posso te dar umas lições. O desafio ainda está de pé? Candice."
- Quem é que vai ganhar bebidas sem gastar um tostão? - A autoconfiança de Nicolas às vezes era implacável. - Uou! - Então ele vibrou ao ouvir a introdução de uma música que ele adorava e que agora estava tocando no bar em que estavam. Nicolas guardou o celular e sorriu como se uma energia muito boa o estivesse envolvendo.
- Você não vai respondê-la? - Josh perguntou confuso.
- Para que? Isso me faria parecer desesperado. -
- Então não vai respondê-la? -
- Vou, mas não hoje. - Nicolas falou e piscou confiante. - Amanhã ou depois eu respondo. Ela demorou um dia inteiro para falar comigo, não vai morrer se esperar um ou dois dias também. -
- Como você consegue ser assim? - Disse Josh desacreditado. Era como se nada estivesse correto no mundo.
Nicolas deu de ombros. - Sei lá, é um dom, eu acho. -
- Ok. E agora? Como você pretende vencer o tal desafio? - Perguntou Josh.
- Eu não pretendo. - Respondeu o amigo.
- E então? - Josh imaginava se aquilo era para fazer algum sentido.
- Eu só precisava de tempo para colocar a minha magia em ação. - Explicou Nicolas cheio de si mesmo. - Essas duas semanas vão ser mais do que eu preciso para mostrar a ela como eu posso ser um cara legal e um ótimo amante. -
- Você não tem jeito mesmo. - Josh sacudiu a cabeça negativamente. - Você ainda vai se ferir muito com isso. - Alertou.
Nicolasse questionou mentalmente sobre como alguém que vivia sofrendo por um amor nãocorrespondido poderia tentar lhe dar uma lição de moral como aquela, maspreferiu ficar quieto, ele sabia que tocar naquele assunto só machucaria aindamais o amigo, por isso preferiu apenas abocanhar o último pedaço do seuhambúrguer e sorrir. - Então, quem vai ser o primeiro a me pagar uma bebida? -
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Quando eu aprendi a amar...
RomanceNicolas, o jovem vocalista de uma banda, se mantém sempre apegado aos seus princípios anti-amor, apreciando apenas conquistas superficiais e fugindo de laços mais profundos. Isso até conhecer Candice, autora do livro - Quando eu aprendi a amar...