||Capítulo 30||

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"Eu desejo poder sentir a sua pele e eu quero você. Nós escondemos nossas emoções sob a superfície e tentamos fingir" (Seafreat - Ocean)

Meus saltos fazem barulho conforme subimos. A escada é estreita e escura e preciso ser conduzida por Harry para não tropeçar. Quando chegamos ao último degrau, sigo direto até a vista permitida pelo relógio sendo pega completamente de surpresa pela vista. A brisa suave toca meu rosto e fecho os olhos para apreciar melhor a sensação.

— A vista daqui é a melhor, pena que as visitas guiadas foram interrompidas por conta das restaurações — Harry explica atrás de mim ao passar os braços ao redor da minha cintura e se inclinar na minha direção.

— É realmente maravilhosa. Da pra ver o Tâmisa, a London Eye e tudo parece tão... pequenininho, é fantástico! — comento entusiasmada e sinto o sorriso dele em meu pescoço.

Ficamos em silêncio apenas contemplando a vista e a paz que esse lugar trás.

Fique comigo , me proteja, me abrace carinhosamente e me envolva em seus braços

Ele me embala em seus braços divagando vez ou outra sobre a torre ou alguma curiosidade londrina. Ele conta que é um dos seus lugares favoritos depois dos Kensington Gardens, onde costumávamos brincar quando crianças, mas ele não menciona essa última parte.

— O que a Katherine quis dizer com aquilo? — questiona depois de um tempo calado ainda me abraçando. Respiro fundo e conto o que houve, pois não há motivos para não contar.

— Há algum tempo, eu estava saindo com o filho de um dos sócios do meu pai, não era nada sério, ele ficava com outras pessoas assim como eu, então nós viemos passar uns dias em Londres e ele me levou a uma exposição. Já tinha algumas fotos nossas circulando e óbvio que havia especulações, pois eu nunca saia com um cara mais do que uma vez — paro de falar e Harry deixa que eu tome meu tempo.

— Durante o evento ele me pediu em namoro e eu não sei o que me deu — solto um riso sem humor ao lembrar — toda a graça de ficar com ele passou tão rápido quanto veio e simplesmente fui embora. Na mesma noite fui flagrada em um momento... íntimo, pra não dizer outra coisa, com o anfitrião da exposição e isso foi um prato cheio para os tabloides de fofoca. Meu pai perdeu um contrato milionário por causa disso.

Harry respira fundo e eu aguardo o comentário ácido que nunca veio. Pelo contrário, ele simplesmente muda de assunto.

— Tá vendo aquela constelação? A da lira? — meus olhos seguem para a direção que ele aponta.

— Hunrum, o que tem ela? —  ele abaixa um pouco a cabeça para me olhar e me entrega um sorriso de lado antes de voltar a encostar a cabeça no meu ombro.

— Diz a lenda que Eurídece foi morta por uma picada de cobra e inconsolado Orfeu desceu ao inferno na tentativa de resgatá-la. Sua triste melodia comoveu Hades e os demais deuses e espíritos do mundo inferior, então o deus do submundo concedeu a Orfeu a oportunidade de resgatar sua esposa, mas com uma condição: ele só poderia olhar para ela, quando ambos estivessem fora do inferno. Porém, perto da saída ele não aguentou de ansiedade para revê-la e acabou olhando para trás e a alma de Eurídice foi arrebatada. Inconformado, Orfeu passou a viver sozinho e a desprezar o amor de outras mulheres que o desejavam, até que certo dia um grupo de mulheres raivosas o matou e jogou seu corpo esquartejado em um rio que recebeu o seu nome. Os pedaços foram reunidos e sepultados pelas musas e Zeus transformou a lira dele em uma constelação, como símbolo do eterno amor.

— É uma história linda, apesar de triste.

— Sim, é. Pelo menos há algo bonito para relembrar o amor que tiveram. Às vezes, mesmo que um relacionamento termine mal, algo bom fica. Gosto de pensar assim.

Jogada Irresistível {H.S}Onde histórias criam vida. Descubra agora