Parentesco

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O líquido prateado e espesso, de que o Oráculo é composto, se move formando uma espécie de onda. Parece um computador processando seus dados ao ser ligado, ou talvez eu tenha ido longe demais com essa comparação.

Fecho uma das minhas mãos em punho, já que a outra está em Luke. Estou tão nervosa que posso jurar que meu coração dá cambalhotas. Encaro os movimentos do Oráculo com tanta expectativa, que ignoro o que quer que Luke esteja dizendo.

Mas então acordo dos meus pensamentos quando percebo que não está funcionando. O Oráculo não está funcionando! Seus movimentos param de uma hora para outra, como se eu nunca tivesse perguntado pelo meu nome. E o meu desespero é tão grande que faço de tudo para me conter.

– Em, você está me escutando? – Luke chega mais perto de mim, parecendo um pouco mais preocupado que o normal. – Tem alguma coisa errada...

Algo parecido com uma mistura de ódio e decepção preenchem minha mente. Estou tão desacreditada que poderia chorar. Mas o que diabos está acontecendo? O que eu fiz de errado para não estar funcionando?

Depois de tanta euforia para saber sobre o meu passado, tenho a leve impressão de que não vai acontecer. Isso pelo simples fato do Oráculo ter surtado completamente do nada e não estar funcionando como deveria!

Viro-me para encarar Luke e devo estar tão desapontada, que sua expressão muda completamente. Vai da preocupação para a pena. Já mencionei o fato de odiar que as pessoas sintam pena de mim? Bom, eu odeio.

Sua mão solta-se da minha e segura meu ombro direito com firmeza, como se precisasse da minha calma, afinal, desespero nessas horas nunca é a melhor solução. Francamente, como se eu fosse muito desesperada...

Jeremy e Nina já estão bem próximos de nós, encarando cada detalhe do Oráculo e tentando descobrir o motivo de não estar funcionando. Não que tenha um. Essas coisas geralmente não têm um motivo. Não é como algo lógico, do mundo humano, e sim uma coisa muito mais complexa. Demorei um pouco para captar desde que cheguei em Opposite, mas finalmente entendi que a lógica não funciona muito bem por aqui.

Minhas esperanças já foram todas por água à baixo, de novo, e por um momento, um devaneio de fraqueza percorre minha cabeça. Chego à conclusão de que eu não preciso saber quem são meus pais, apesar de querer muito. Se for para viver, posso viver sem isso... Diante disso, poderiamos simplesmente sair daqui, voltar para Kingswood e fugir para o mundo humano. Eu, Luke, Jeremy, Nina e suas famílias poderiamos viver juntos e esperar até que o feiticeiro branco psicótico dominasse a Terra e então, encontriamos um refúgio. Talvez conseguiriamos, mas tenho absoluta certeza que Luke não concordaria em deixar o resto da sua espécie para trás. Da nossa espécie. Se o conheço bem, ele pode até morrer tentando encontrar a princesa desaparecida, mas não vai desistir.

Não faz muito tempo que aprendi que feiticeiros são assim: treinados desde pequenos a darem tudo de si próprios para salvar seu povo. E por um momento me sinto estúpida e egoísta por não me identificar com isso. Talvez eu seja só uma covarde, uma feiticeira covarde criada por humanos.

– É claro que alguma coisa tinha que dar errado, quer dizer, era bom de mais pra ser verdade... – Digo, engolindo em seco.

Luke respira fundo e sinto seus dedos apertarem ainda mais meu ombro. Também está preocupado e confuso, provavelmente não sabe o que fazer. Assim como eu.

– Não pode ser... – Ele resgmunga, baixando seus olhos. – Fizemos tudo o que foi preciso!

– Eu sei. – Digo e minha voz sai um pouco mais esganiçada do que eu espero, mas eu não me importo. Estou tão desapontada, que de repente não ligo para mais nada. – A gente atravessou uma droga de um oceano infestado de criaturas marinhas perigosas, destruímos um barco, quase perdemos um de nós. Quero dizer, dois de nós, pois eu poderia ter morrido com a mordida do poisonie. Sem falar que tivemos de lutar contra demônios, um dragão e lobisomens. E para que tudo isso? Para nada! Para não conseguir salvar Opposite, para nunca ficar sabendo de onde eu vim, para nunca saber quem são meus pais. Nem mesmo meu verdadeiro nome...

Opposite - Chamas IniciaisOnde histórias criam vida. Descubra agora