Prólogo

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Ela sempre quisera ser mãe, mas, infelizmente, o nascimento de sua filha foi o último dia feliz que os deuses permitiram que vivesse.

Bea não era uma loba, e podemos começar por aí. Ser uma bruxa e companheira destinada de um alfa era algo bastante polêmico, mas os Argent eram apegados demais à ideia de que um herdeiro não era um herdeiro puro se não fosse concebido entre parceiros. Se ao menos eles soubessem... Mas, bem, nem Vincent sabia, e você esperaria que ele soubesse, já que Maya Argent, a filha querida dele, fora concebida exatamente no período em que ele mais desprezou a mãe dela. Qualquer um que fizesse as contas saberia, mas ele não queria ver aquilo, e Beatrice não podia julgá-lo por isso.

E ela não julgou por muitos anos.

Para todos os efeitos, Maya era uma híbrida e se parecia com a mãe, então ninguém saberia da traição só de olhar para ela. Era uma nascida alfa também, e Bea não podia acreditar no quão sortuda e desgraçada era. Nesses momentos ela se sentia a pior mãe do mundo, mas não pense que Beatrice amava Maya sequer um por cento a menos por ser filha de um homem que não era o marido dela. Não, talvez até a amasse mais por isso.

Maya era uma loba, uma bruxa e sua filha. Mais que isso, ela também era a filha do homem que Bea realmente amara, mas os dois nunca deveriam ter acontecido. Ainda assim, se seu erro a levou até Maya, valera a pena. Tudo valeria a pena pela garotinha de cabelos castanhos e olhos muito verdes aninhada em seus braços naquele instante, fingindo ler o livro nas mãos da mãe.

Ela tinha cinco, na época.

-Mamãe.

-Sim, pequena?

-Lê para mim?

-É um livro de feitiços, Maya.

-Mas eu sou uma bruxa também.

-Você ainda é muito jovem. Prometo que vou te ensinar tudo que precisar saber quando estiver preparada, certo?

-O papai diz que a gente tem que esperar de tudo.

-Hum... Então a mocinha está duvidando de mim?

-Não! Não... - suas bochechas, ainda rechonchudas, coraram - Mas eu queria aprender...

-Você pode se machucar - a voz de Vincent surgiu às costas delas, interrompendo a garotinha.

-Eu não deixaria.

-Não é como se magia fosse completamente confiável, não é?

-O que quer dizer?

-Quero dizer que não quero ver minha filha machucada.

As sobrancelhas de Beatrice se franziram inconscientemente, e ela estava pronta para se levantar e começar a argumentar com ele. Quem ele pensava que era para acusá-la de algo? Como podia sequer sugerir que colocaria a segurança de Maya em risco por livre e espontânea vontade? Ela morreria antes de deixar qualquer coisa...

-Por favor, não briguem...

A mãozinha da menina estava fechada ao redor da manga da blusa da mãe, e Maya falara tão baixo e se esforçara tanto para não fazer muito barulho que era como se quisesse desaparecer dentro de si mesma.

Esse era a segunda ocasião que fazia com que Beatrice se sentisse péssima, as vezes em que ela e o marido brigavam. Ela sabia que ele era cruel e rígido, que não a amava e que poderia fazer te tudo para ter o que fosse de sua vontade, mas Vincent amava Maya. Do jeito dele. Ele não brigaria com ela, mas por ela, e nunca faria menção de ensiná-la com os punhos. Com Bea já era um caso diferente, mas não era surpreendente, já que o caminho que os levara até ali era bastante... Inconsistente.

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