Capítulo 3

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Maya

As pontas dos meus dedos estavam dormentes e de tempos em tempos eu tremeria, sentindo um calafrio subir por toda a minha espinha. Sim, nós demoramos, porque fui até a casa de Dorian vestindo shorts, regata e nenhum sapato. Não estava nem um pouco apresentável quando o garoto veio me chamar, e apenas pensar em me arrumar para aquela audiência me fazia passar mal.

Agora Dorian estava trancado lá com eles, minhas mãos estavam geladas como nunca e tinha um cheiro no meu nariz. Como chuva e pôr do sol, se é que aquilo fazia sentindo. Achava que estava mais perto da insanidade a cada segundo que se passava.

-Você não deve nada a eles - meu pai, parado ao meu lado, disse.

Ele não olhou para mim; qualquer pessoa pensaria que sequer estava falando comigo, mas eu sabia. Vincent não estava me tocando, não me oferecera um abraço ou palavras tranquilizadoras. Compaixão não acalmava ninguém. Certeza acalmava.

-Eu sei.

-Mesmo que eles te odeiem, mesmo que te reprovem completamente, ninguém pode usurpar seu lugar nessa alcateia.

-Sei disso.

-Você está mais perto de se tornar alfa do que nunca.

-Okay... Okay.

-Entre.

E eu entrei. Me aproximei das enormes portas duplas, as empurrei pelos puxadores e entrei sozinha, dando passos firmes com a cabeça erguida, ouvindo meu pai logo atrás de mim. Eu estava tão certa e determinada, tão convencida de que, independente das pessoas dentro daquela sala, nada mudaria. Nada nunca mudaria e toda a minha vida fora planejada tão minuciosamente que nenhum passo poderia dar errado. Era impossível e irreal. Era uma realidade imperturbável.

Até que toda a realidade... Todo o mundo entornou, derramando para todos os lados.

Ele cheirava a chuva e pôr do sol, como aqueles fins de tarde reconfortantes. Essa foi a primeira coisa que senti quando o vi: conforto. A segunda coisa foi aquele eco irracional de meu meu meu. Isso é meu, pertence a mim. Foi feito para mim. É meu.

Ele era alto, perceptivelmente muito mais alto que eu, mesmo àquela distância. Tinha a pele bronzeada pelo sol e tatuagens de sua alcateia no braço esquerdo; o cabelo era castanho claro, mas, à luz das tochas no salão, parecia salpicado de dourado. Os olhos eram...

Bom, eu não saberia, já que estavam vermelhos enquanto me encaravam, absorvendo as mesmas informações que eu.

Parceiros não são procurados; eles encontram um ao outro. Nada é dito ou declarado, nada é formal, mas nossa espécie sabe. Porque os deuses que vieram antes de nós fizeram isso. Porque os olhos brilham e o poder dentro de nós se expande. Porque nossos batimentos sincronizam e, se a ligação ficar muito forte, as mentes também.

Antes que qualquer um dos dois respirasse cinco vezes, todo o salão já sabia. Antes que qualquer um dissesse algo, Reid Lennix se adiantou à minha frente e disse:

-Bom, suponho que agora esteja protegida pela imunidade diplomática concedida à Flórida.

E a porção racional da minha mente pensou em como conduzir aquela situação. Pensou em dezenas de respostas agradáveis e suficientemente convincentes, mas o que minha boca realmente verbalizou foi um:

-Que merda.

//

A noite passou como um borrão, e eu sequer conseguia me lembrar de ouvir algo que não fossem meus batimentos. Nossos batimentos. Dorian e meu pai guiaram a conversa, vez ou outra me convidando a falar quando o tópico exigia. Alguns alfas me fizeram perguntas e eu as respondi apropriadamente, mas, durante todo o resto do tempo, minha atenção estava sobre o Alfa Lancaster e a dele, sobre mim. Eu via Jonathan Campbell e Rafael Lins se aproximando para cochichar coisas no ouvido dele, coisas que eu poderia ouvir se me esforçasse. Se eu quisesse, mas nem mesmo Dylan parecia estar prestando atenção.

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⏰ Última atualização: Aug 09 ⏰

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