III

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Nostalgia

p. ext. saudades de algo, de um estado,

de uma forma de existência que se deixou de ter;

Desejo de voltar ao passado.

Flashback on...

-Bom dia... Bom dia... Bom dia...

Eu ouvia a voz doce dela irrompendo nos meus sonhos e lentamente abria os olhos. O quarto estava iluminado pelas janelas abertas que emolduravam a paisagem parisiense. A luz do sol estava dourando seus cabelos que caiam pelo seu rosto enquanto ela se curvava sobre mim, me enchendo de beijos enquanto repetia vários cumprimentos.

Eu não conseguia decidir se havia realmente despertado do meu sonho.

-Bom dia. – Eu disse finalmente encontrando nossos lábios.

I miss the mornings with you laying in my bed

-Eu fiz café da manhã. – Ela disse com um sorriso se sentando sobre mim.

-O que? Por que? Isso é tão injusto.

Se tudo corresse como planejado, na manhã seguinte, nós estaríamos deitadas naquela cama como esposas, e eu não conseguia imaginar nada mais injusto do que ela fazendo o café da manhã no dia do nosso casamento. Mas ela não parecia ligar nem um pouco.

-Ah, deixa disso. Todo mundo sabe que eu não cozinhei nada, só me dei o trabalho de pedir algumas coisas e fazer sua vitamina matinal. – Ela disse com um sorriso singelo.

Eu queria argumentar, mas sabia que seria inútil e obviamente a maior parte de mim estava extremamente encantada com aquilo.

Eu passei as mãos pelo seu cabelo e segurei o seu rosto entre as minhas mãos, era aquele rosto que eu veria pelo resto da minha vida. Eu nunca me imaginei casada ou constituindo família – uma parte disso eu ainda não conseguia imaginar – e isso provavelmente se devia ao fato de que eu nunca tive realmente uma família. Mas tudo me parecia tão possível quando deveria acontecer ao lado daquela mulher, eu poderia ir á qualquer lugar acompanhada daqueles olhos azuis.

Nós nos sentamos na varanda do quarto de hotel. Havíamos decidido após muito tempo de programação - e reflexões filosóficas sobre o quanto se pode mudar em um casamento de modo que ainda seja um casamento - que iríamos ignorar a tradição de os noivos só se encontrarem no altar. Afinal, se o casamento deveria ser o dia mais feliz da vida de ambos, porque então, eles não passariam cada minuto desse dia juntos?

Nós tomamos nosso café da manhã, repleto de frutas e coisas que Kara se recusava a comer, mas adorava me ver provar e dissertar sobre. Eu tinha fé que um dia conseguiria a fazer provar todas aquelas frutas e convencê-la de que meus pratos não pareciam folhas caídas. Mal imaginava que esse era o menor dos nossos problemas.

Em algum ponto do café, em meio á risadas e previsões sobre a noite que teríamos após o casório, o telefone de Kara tocou. Era Alex, sua irmã mais velha.

Nós estávamos nos casando em Paris, por questões românticas óbvias, mas nós não estávamos nos casando na nossa cidade residente porque talvez o casamento fosse impedido de acontecer com muita determinação se tentássemos por lá. Meu sobrenome sempre me causou problemas, mas nenhum deles chegava perto do problema que era não ser aceita pela família da sua noiva.

Os pais dela me odiavam – assim como Alex no começo – e "minha mãe" á odiava igualmente, seu primo havia colocado meu irmão na cadeia e várias outras coisas suficientes para que o momento de "cale-se para sempre" nunca chegasse á acontecer no nosso casamento porque bem antes disso já estaríamos fora de órbita.

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