feel you in

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Te sinto.
Talvez tanto quanto sinto sua falta.

Te sinto nas pequenas coisas, e elas todas muito ligadas a você. Te sinto no quente do café matinal, na brisa do mar de fim de tarde, na doçura da nossa torta de chocolate favorita.

E assim sempre foi, sempre vai ser. Tu nunca me sai da mente. A todo momento ali, cravado na minha imaginação. Tu é razão dos meus devaneios vespertinos durante a aula mais chata da faculdade.
Mas tudo bem, porque me acostumei com isso, e nunca foi ruim.

Te sinto na paisagem formada pelas estrelas acompanhadas da grandeza da Lua - e talvez as noites com essa combinação sejam aquelas em que sua presença me acompanha mais.

Me lembro de uma noite específica na praia - aquela longe de quase toda a cidade e para a qual relutei bastante ir - onde você passou umas boas horas encarando o céu, ainda deitado num conjunto de rochas um pouco além da costa (nada muito distante), e me confessou palavras que recordo até hoje:
"Quem dera meus olhos fossem tão cinzas e brilhantes quanto a Lua"

Posso te dizer, enfim, o que não pude no dia (fiquei revoltado demais para pensar no que falar).

Talvez seus olhos não sejam tão azuis quanto o céu do meio-dia, tampouco verdes quanto as copas das suas árvores preferidas.

Mas quero que saiba que não trocaria por cor nenhuma nesse mundo o tom morno dos seus comuns olhos castanhos - mas apenas seus - quando me entregava os hibiscos alaranjados colhidos à frente da universidade porque te fizeram lembrar de mim. Muito menos trocaria o brilho deles, contrastantes com a cor escura, quando você me contava o quão feliz estava por ter escrito "a melhor composição do mundo". Ah, como eu queria ter te dito mais vezes que todas suas produções são as melhores do mundo. Talvez porque são suas. Ou talvez porque, de fato, eram todas feitas com  o maior apreço.

De qualquer maneira, gosto bastante de lembrar daquela noite. Gosto ainda mais da sua cara de insatisfação ao ter que pôr os pés na água gelada para irmos para a costa e voltar para o carro. Inclusive, amo lembrar dos momentos anteriores à nossa volta para casa.
Sua voz nunca foi das mais afinadas - e nem trazer o violão para água foi das suas melhores ideias - mas porventura tenha sido tão agradável te ouvir justamente (e apenas) porque era você.
Aliás, é incrível esse poder que tem sobre mim. Parece que tudo que você faz, por mais desengonçado e desconsertado que seja, me agrada demasiadamente. Guardo até hoje aquela receita de bolo que deu totalmente errado (não que a receita estivesse errada, é que somos uma tragédia na cozinha), e, apesar do resultado, ter feito aquele desastre contigo foi maravilhoso. Porque foi contigo.

Te sinto, ainda, nos vagões do trem que costumávamos pegar para aquela cidadezinha congelante que íamos em alguns finais de semana, e para onde vou até hoje.
Seu semblante sonolento - apesar das habituais 10h dormidas - e  suas bochechas coradas pelo frio ainda me custam ser esquecidas. Não quero jamais esquecer dessas situações, aliás, menos ainda quero esquecer das suas reclamações enquanto soprava o chocolate extremamente quente e recostava sua cabeça em meu ombro, enquanto queixava-se do enjoo causado pela viagem.

As voltas para casa ausentavam em reclamações por dois motivos: se não estava complemente focado nos recém-comprados livros de suspense, então você simplesmente punha fones de ouvido e dormia a viagem inteira. Já te contei que você falava enquanto dormia? É uma gracinha.

Talvez passe algum tempo até o dia em que eu deixe de te sentir em todos os cantos e em todas as coisas. Mas que fique claro, eu jamais cogitaria abandonar essas pequenas lembranças.
Até porque, mesmo com todas as opções do mundo, eu não veria nenhuma outra senão sentir você.
E mesmo que agora eu possa somente sentir tua falta, é bom sentir alguma coisa.

Sentir costuma ser bom.
Ainda mais quando ter a ver contigo.

- Seok.

i miss you - jhs + mygOnde histórias criam vida. Descubra agora